Acervo Fotográfico da Câmara dos DeputadosA ex-presidente com Lula: Dilma assumirá o NDB na metade do mandato e terá pouco tempo para fazer mudanças

Mania de grandeza

Com Dilma na presidência do Banco do Brics, governo petista acha que vai promover um mundo multipolar. China e Rússia têm outros planos
24.03.23

O exílio de ouro da ex-presidente Dilma Rousseff fica a aproximadamente 18 mil quilômetros de distância de Brasília, em Xangai, o centro financeiro chinês, e vai lhe render um salário de 50 mil dólares por mês, o equivalente a 265 mil reais. Trata-se do posto de presidente do Novo Banco de Desenvolvimento ou NDB, na sigla em inglês, também conhecido como o banco do Brics, o grupo de países emergentes composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Se tudo correr como espera o governo brasileiro, o presidente Lula embarcará para sua viagem à China, entre os dias 26 e 30 deste mês, com sua indicada a tiracolo pronta para ser empossada in loco como presidente do banco.

Ao propor uma ex-presidente brasileira para o comando do NDB, do qual ela é cofundadora, Lula pretende sinalizar aos outros quatro países o quanto prioriza o fortalecimento do Brics como parte de sua política externa “ativa e altiva“, dedicada à construção de uma nova ordem multipolar — na qual o Brasil teria um papel de liderança como um dos múltiplos polos de poder. Lula, porém, terá de transpor duas muralhas de diferença de interesses em relação ao Brics: a da China e a do Kremlin.

O presidente chinês Xi Jinping não vê o grupo como um meio para atingir um mundo multipolar, como quer a diplomacia lulista, mas, sim, como um instrumento para a construção de seu próprio projeto de hegemonia internacional, concorrendo com os Estados Unidos. A multipolaridade vislumbrada pelo governo petista é um mito. O que existe é uma ordem bipolar que, na visão de Pequim, caminhará para a lenta decadência americana e para a inevitável ascensão chinesa.

Já o russo Vladimir Putin quer usar o palco do Brics e os potenciais financeiros de seu banco para sair do isolamento em que se meteu com a invasão da Ucrânia, em fevereiro do ano passado, e para contornar as sanções econômicas impostas pelas potências ocidentais em punição à sua aventura militar.

Para seguir com seus planos de usar o Brics como plataforma para uma maior projeção internacional do Brasil, crente na multipolaridade, Lula precisará equilibrar nos ombros esses firmes propósitos quase existenciais da China e da Rússia — e o mais provável é que acabe sucumbindo ao peso deles.

Um exemplo de como esses propósitos podem se opor aos interesses brasileiros é a pressão para permitir a entrada de novos países-membros no Brics e no NDB. Tanto Xi quanto Putin têm interesse na expansão do Brics, mas por motivos diferentes. O chinês vislumbra a oportunidade de abrir as asas de sua liderança sobre uma gama maior de países emergentes, rivalizando com o G7 — grupo dos países mais ricos do mundo, sob a esfera de influência dos Estados Unidos — ou com a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Recentemente, o Irã e a Arábia Saudita, duas autocracias do Oriente Médio cuja aproximação diplomática a China tem ajudado a promover, oficializaram o interesse de entrar para o Brics.

Para Putin, por sua vez, a entrada de novos parceiros no Brics é uma forma de reduzir seu isolamento diplomático e amenizar a pecha de pária internacional, ainda mais agora que o Tribunal Penal Internacional, TPI, emitiu um mandado de prisão contra ele por crimes de guerra na Ucrânia (leia a entrevista com a juíza brasileira Sylvia Steiner nesta edição da Crusoé). “Para o Brasil, no entanto, essa expansão não interessa porque dilui o poder relativo que o país tem no diálogo com os outros integrantes“, diz o embaixador Paulo Roberto de Almeida.

A pressão por um aumento no número de países associados ao NDB, por sua vez, também se explica pelo projeto hegemônico da China e pela necessidade da Rússia de sair do isolamento internacional causado pela guerra na Ucrânia.

O processo decisório no NDB é baseado no consenso entre os cinco membros fundadores, um formato de representação igualitária que incomoda os burocratas chineses, especialmente por causa das tensões geopolíticas com a Índia. Os indianos, por exemplo, podem se ver tentados a vetar projetos chineses de infraestrutura financiados pelo NDB que favoreçam a integração com o inimigo Paquistão.

Por isso, há planos na China de usar a entrada de novos membros no banco do Brics para diluir a participação acionária dos países (atualmente distribuída igualitariamente entre os cinco membros fundadores, cada qual com 19% das ações), de forma a abolir a decisão por consenso e introduzir um sistema de voting shares como existe no Banco Mundial, com voto proporcional às quotas dos participantes. O resultado, claro, seria o domínio chinês no NDB, como já ocorre no AIIB (sigla em inglês para Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura), no qual o Brasil tem uma pequena participação. Recentemente, Bangladesh, Egito e Emirados Árabes Unidos aderiram ao NDB, todos com menos de 2,5% de participação.

Do ponto de vista geopolítico das potências ocidentais, não é bom que a China encontre uma alternativa ao sistema multilateral atual. Do ponto de vista da China, interessa ampliar seu espaço de influência com instituições financeiras paralelas àquelas sob domínio ocidental. Já o Brasil não pode se alinhar automaticamente a nenhum desses polos. Mas, sim, deve buscar ser disputado positivamente por ambos“, explica Otaviano Canuto, membro sênior do Policy Center for the New South e ex-vice-presidente do Banco Mundial.

O problema é que esse equilíbrio entre os dois polos é tênue e os percalços são muitos. Basta ver como a Rússia tem se movimentado para usar o banco do Brics a seu favor. São duas as frentes de ofensiva. Primeiro, por meio da defesa da ampliação no número de membros associados. Segundo, na campanha diplomática e mediática para convencer seus parceiros no NDB a criar uma moeda de reserva que substitua o dólar nas transações comerciais entre os países do grupo.

As sanções econômicas deixaram a Rússia em uma posição delicada no NDB, que se viu obrigado a suspender novos financiamentos para o país, para não colocar em perigo a captação de recursos privados no mercado de capitais (nem só de aportes estatais vive o banco). A Rússia defende a incorporação de novos membros ao NDB porque isso amplia o leque de suas relações multilaterais e porque vislumbra ali uma forma de contornar as sanções.

Com esse objetivo, a Rússia resgatou uma antiga proposta para “desdolarizar” as importações e exportações entre os países do Brics por meio da criação de um sistema de pagamento digital e uma moeda de reserva formada por uma cesta das divisas dos cinco países do grupo. São ideias ainda um tanto nebulosas que por vezes são chamadas de Brics Pay e de R-5, uma referência ao “r” inicial dos nomes das moedas do Brasil, da Rússia, da Índia, da China e da África do Sul (real, rublo, rupia, renminbi e rand).

As notícias de que os países do Brics estão avançando na elaboração de um meio de pagamento próprio ou de uma moeda própria para transações comerciais costumam se originar de informações difundidas por agências russas ou da boca de funcionários do governo russo, quando não do próprio Putin. Isso indica que se trata mais de um desejo do Kremlin do que propriamente de algo que conta com a adesão entusiasmada dos outros países-membro.

Mas que ninguém se espante se começarmos a escutar discursos ininteligíveis de Dilma Rousseff sobre os planos de criar uma moeda comum que vai desafiar a hegemonia do dólar. O afã de Lula em se posicionar como uma das principais lideranças em um imaginário mundo multipolar pode levá-lo a apoiar a criação de uma moeda contábil que só interessa a Putin e a endossar o projeto hegemônico de Xi Jinping.

Para abrir a vaga para a companheira Dilma no NDB, primeiro o PT iniciou uma fritura do atual chefe da instituição, o economista Marcos Troyjo, nomeado por Jair Bolsonaro para um mandato até 2025 (a presidência é rotativa entre representantes dos cinco países membros).

World Economic ForumWorld Economic ForumTroyjo, que foi afastado para dar lugar à Dilma
Troyjo, que já foi colunista de Crusoé, foi criticado por ser próximo do ex-ministro da Economia Paulo Guedes, de quem foi secretário especial de Comércio Exterior. Ele é acusado de ter adotado um posicionamento antipetista em comentários na imprensa, de não ter favorecido projetos brasileiros na destinação de financiamentos do banco e até de ter feito trabalho remoto em vez de permanecer na sede da instituição em Xangai, na China.

Os últimos dois pontos expõem o grau de picuinha adotado na fritura de Troyjo. Na realidade, os financiamentos do NDB para o Brasil quase quintuplicaram na sua gestão, passando de 1 bilhão para 4,9 bilhões de dólares, o que reflete mais a demanda do país pelos recursos e a qualidade dos projetos apresentados do que propriamente uma decisão pessoal do presidente do banco. E, quanto ao trabalho virtual, Xangai ficou sob um rígido lockdown durante boa parte da pandemia de Covid, o que inviabilizava a atuação presencial no escritório da sede.

De qualquer forma, tampouco interessava a Troyjo permanecer no cargo sem o respaldo do governo do país que ele representa. No último dia 10, o NDB anunciou oficialmente que ele deixará o posto até sexta-feira, 24, dois dias antes de Lula embarcar para a China. Enquanto isso, nas últimas semanas, Dilma fez sua campanha junto aos ministros da área econômica dos países-sócios do NDB, pois serão eles os responsáveis por aprovar sua indicação. É praticamente certo que seu nome será aceito, pois nenhum deles tem motivos para se indispor com o novo governo brasileiro.

A indicação de Dilma para o NDB é uma solução hábil para dar um destino nobre e de baixo risco à ex-presidente, que desfruta junto à militância do PT da imagem de grande vítima de uma “injustiça histórica” — a interrupção de seu segundo mandato por meio de um impeachment, em 2016, que Lula e o partido definem como um “golpe“.

A presidência do NDB é uma destinação nobre porque, afinal, trata-se do comando de uma instituição multilateral encarregada de financiar projetos de infraestrutura e de sustentabilidade, com capital autorizado de 100 bilhões de dólares e com excelente pontuação nas agências de rating (a chance de um banco de desenvolvimento, que tem estados como garantidores, quebrar é baixíssima).

E é uma destinação de baixo risco político do ponto de vista do governo Lula, pois dispensa a necessidade de uma sabatina no Senado (como seria o caso se ela fosse indicada para uma embaixada) e está longe dos holofotes da imprensa nacional tanto fisicamente quanto em interesse.

Além disso, a chance de dar errado é muito reduzida. Dilma vai assumir na metade do mandato, restando apenas dois anos para o fim, tempo insuficiente para promover grandes mudanças — que, de resto, necessitariam da aprovação de todos os países membros para acontecer. “Por estar sediado em Xangai, o staff do NDB é basicamente de chineses e indianos, que tocam o dia a dia da gestão dos projetos. Cabe ao presidente uma função quase figurativa, de ir aos eventos e fazer discursos“, diz o embaixador Paulo Roberto de Almeida. Por esses motivos, chega a ser inócuo debater se Dilma tem ou não conhecimento técnico para exercer o cargo.

Se algo pode dar errado no exílio dourado de Dilma Rousseff, será por obra das ambições sem lastro na realidade da diplomacia lulista.

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500
  1. Vejo a indicação de Dilma para o NDB como uma forma de Lula se livrar de sua sombra incômoda. Um exílio dourado para a "injustiçada" e uma distância confortável para o atual presidente.

    1. Perfeito comentário. Incrível como a mídia em geral não percebe ou irreleva essa jogada do Lula. Que cala a boca da maluca.

  2. Isso é que é vida Boa! Fará alguns discursos e assinará alguns documentos inerentes à função e só. O salário altíssimo e longe do escrutínio da mídia nacional " importunadora"! Realmente é um EXÍLIO DOURADO invejável!!!

  3. Lula venceu as eleições e politicamente tem o direito de indicar qq um para esta posição. Indicar Dilma a mim soa provocativo, porque não tem competência técnica e foi rechaçada pela sociedade brasileira (sendo impichada e depois perdido eleições para o Senado por MG). Dilma tem muito mais rejeição do que apoio. Mas Lula não está nem aí para o conjunto da sociedade. Só lhe interessa a parcela da população que diz amém a ele.

  4. Excelente artigo. O Brasil é um anão diplomático e não será a indicação de uma inútil com carimbo de ex presidente que vai mudar isso. Éramos um joguete da política externa americana e agora, sob a batuta no PT, seremos o mesmo nas mãos da China.

  5. O quadro traçado pelo Schelp mostra que o jogo é um dos tantos que a Dilma não sabe jogar. Aliás, não sabe nem do que se trata.

  6. Nada mais revelador de nossa indigência politica do que essa indicação: incompetência, deficit cognitivo( no minimo uma dislexia), impeachada que só permaneceu politicamente viavel por uma manobra safada do Lewandowski

    1. Disse tudo, Domingos 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

  7. Sasinhóóóóra.... pagaremos o que poderia sustentar mais de 20 famílias durante 2 anos, pra que essa indigente mental vá lá ""estocar vento"" - o único conteúdo da sua cabeça de bagre - surrrupiando o erário, humilhando, envergonhando e comprometendo o BRASIL!!!! 😖😖😖😖😖😖😖😖

  8. Os duzentos e tantos mil reais por mês que a presidenta vai embolsar doerão no bolso de casa brasileiro, pois é sabido por todos que a mulher não diz coisa com coisa e só vai nos envergonhar!

  9. O Brasil tem algo em comum com a Rússia. Ambos acham que tem muita relevância no cenário internacional. A Rússia só tem destaque porque tem armas nucleares. De resto é um país comum, grande na área, mas sem condições de influenciar o mundo fora da área militar. O Brasil, também com área grande, é relevante na agricultura. Mas ambos se acham muito mais importantes do que realmente são. Falta de percepção dos dois.

  10. Eterno anão diplomático, o Brasil virará o bobo da corte. Dilma abrirá a boca e nenhum tradutor - intérprete conseguirá repetir o que a idi ota dirá. Estratégia de luladrão é para misturar pinga com limão e erticular saques ao erário

  11. Quem despreza um prêmio de consolação dessa natureza. O risco do dilmês em seus discursos não devem interferir no destino desse Banco.O país é nanico e continuará assim, ainda por muito tempo. Ufanismo barato.

  12. Dilma está indo mas sem estabelecer metas. Se der certo ela dobrará as metas. Xi Jiping e Putin ainda não conhecem a competência dessa "injustiçada" Dilma. Para ela tudo bem, o salário é satisfatório. Será que ela enviou o currículo?

  13. Eu estou pagando para ouvir os discursos desta mulher enfrentando os conflitos de interesses..mas com uma fortuna que ganhará todo mês..quem sabe ela vai aprender a falar coisa com coisa...lembram,se: hoje é dia dos pais..pois se não fosse dias dos pais seria dia das mães...ou coisa semelhante..só me resta gritar: socooooooro

  14. Triste, pra não dizer trágico, vê isso acontecendo. Mas a culpa, lá na origem é nossa pois a nossa sociedade totalmente descerebrada elegeu duas vezes o "descondenado" e essa "ANTA", ambos energúmenos e bucéfalos. A única coisa boa, pra não dizer trágica dessa ópera bufa, será as muitas risadas que com certeza daremos com as declarações da agora PresidANTA DilmANTA do BRICS. Fará agora a alegria de muito comediante mundo afora...que vergonha por nosso "País de Merda".

  15. A criadora do dilmês vai exercer um cargo em que a principal função será discursar em eventos. Ironias do destino...

  16. Meu DEUS do Céu...essa energúmena passou na sabatina, putis, até lá essas coisas são de mentirinha. Será que alguém de sã consciência aprovaria a PresidANTA DilmANTA pra dirigir alguma coisa..estou estupefato e boquiaberto. Só a nossa sociedade totalmente sem um mínimo de cultura conseguiu eleger esse "descondenado" e essa débil mental duas vezes...mas tô vendo que o mal vai bem longe. Somente uma coisa me anima nessa "ópera bufa"...vê, ouvir e rir bastante das declarações de DilmANTA pro mundo.

  17. A Dilmaldição vai surpreender o mundo com sua visão inovadora e disruptiva do mercado financeiro, devidamente teleguiada pelo "jênio" Descondenado. Ridículo é pouco.

  18. A verdade é que o PT quer esta incompetente o mais longe possível, em um local onde sua incompetencia não possa atrapalhar em nada. Porem duvido que ela fique por lá.

  19. Está muito clara a intenção da quadrilha levada ao poder por idiotas e ignorantes que dividiu o país sob duas ideologias assassinas e predadoras do tempo do Brucutu mas o mundo certamente terá a terceira via pois a China tal como os EUA não esmagaram o mundo e a tecnologia é que imporá isto e quem sobreviver a esta guerra insana verá.

  20. E a ensacadora de ventos é a cara da diplomacia caotica atual do Brasil,mas menos deletéria que uma gleise

  21. Uma ventriloqua. Tem que contratar um bom tradutor. Ela fala ahuma coisa parecida com português e tupi-guaranai. Mas vai dar certo. Força. VERGONHA ALHEIA.

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