Adriano Machado/Crusoé

Wassef e o mistério do hotel

24.06.20 06:30

Poucos dias após as movimentações financeiras suspeitas de Fabrício Queiroz ganharem o noticiário, em dezembro de 2018, o advogado Frederick Wassef (foto) entrou às pressas no saguão de um hotel em Atibaia, no interior de São Paulo, solicitando com urgência uma sala de convenções.

Segundo uma testemunha, Wassef estava acompanhado de outras três pessoas e ficou cerca de três horas reunido no local, após pagar parcos 300 reais pela locação do espaço, que comporta até 15 pessoas. A cena pouco usual foi lembrada agora depois que o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro foi preso na semana passada, em um imóvel de Wassef em Atibaia, a oito minutos do hotel.

 

Fabio Leite/CrusoéFabio Leite/CrusoéHotel de Atibaia usado para reunião pelo advogado Frederick Wassef
 

O Ministério Público do Rio suspeita que Wassef tenha articulado o plano para esconder Queiroz durante a investigação que apura o suposto esquema de desvio de dinheiro no antigo gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio, para blindar a família presidencial.

Segundo mensagens apreendidas nos celulares de Queiroz e da mulher, Márcia Aguiar, Wassef era identificado pelo casal como “Anjo” e não queria que o ex-assessor de Flávio voltasse ao Rio. O plano para esconder Queiroz pode resultar em um processo contra o advogado, por obstrução de Justiça e coação de testemunha.

Após a prisão de Queiroz na casa de Wassef em Atibaia, especulou-se nos últimos dias que o próprio Fabrício Queiroz havia participado do encontro no hotel com o advogado do senador e do presidente Jair Bolsonaro, o que desmentiria a versão de Wassef. Ele tem afirmado que nunca se encontrou com o ex-assessor de Flávio.

A Crusoé, um gerente do hotel negou que Queiroz tenha estado alguma vez por lá e apresentou uma versão ainda mais incomum sobre a ida de Wassef ao local. Segundo ele, o advogado ficou sozinho durante as três horas em que ocupou a sala de convenções e depois foi embora. Não haveria mais imagens das câmeras do hotel nesta data, de acordo com o gerente.

Um outro funcionário, porém, narrou uma versão, digamos, mais animada sobre a presença de Wassef no estabelecimento. Em uma rede social, ele chegou a escrever que houve uma tentativa de esconder Queiroz no hotel e que foram “várias” as reuniões realizadas no local. De acordo com o relato desse empregado, durante as visitas os integrantes do grupo trocavam as placas dos carros que usavam — supostamente numa tentativa de desviar a atenção de quem eventualmente os estivesse vigiando do lado de fora. “Eles ocultavam a placa verdadeira”, afirmou o funcionário. “A gente achava bizarro”, completou. Ele diz que o sistema de câmeras do hotel chegou a registrar as cenas.

Nesta terça-feira, depois que o relato compartilhado com amigos despertou a atenção de jornalistas e chegou ao conhecimento da direção do hotel, o funcionário, localizado por Crusoé em Atibaia, recuou. Passou a negar o que escrevera antes, em mais de uma oportunidade.

Oficialmente, o hotel se limitou a confirmar uma única reunião feita por Wassef no local — a tal em que ele teria alugado uma sala e ficado lá sozinho, por algumas horas. O estabelecimento diz que o episódio se deu em dezembro de 2018, sem precisar a data exata. Wassef, à época, ainda não era o advogado formal de Flávio Bolsonaro no caso do rachid. Ele só assumiu a defesa oficialmente em junho do ano seguinte, quando, de acordo com as investigações, Queiroz teria ido para sua casa em Atibaia.

Procurado por Crusoé, Wassef não se manifestou.

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