Quem, afinal, vai estabilizar a situação na Faixa de Gaza?
A questão sobre quem assumirá a responsabilidade pelo desarmamento ou neutralização do Hamas permanece em aberto

O plano de paz proposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contempla a implementação de "forças de segurança internacionais" na Faixa de Gaza.
As primeiras tropas internacionais chegaram a Gaza no final desta semana, com equipes de resgate provenientes do Egito, Catar e Turquia encarregadas de localizar os corpos de reféns do Hamas.
A morosidade na recuperação dos corpos de israelenses mortos ameaça comprometer o delicado processo de paz.
Inicialmente, essa missão foi mantida em sigilo devido à sua natureza sensível. Apesar do anúncio de Trump sobre o "fim do conflito" no Oriente Médio, ainda persiste a incerteza sobre quem será responsável por garantir a segurança na região.
De acordo com o plano delineado em 20 pontos por Trump, as forças internacionais teriam o papel de estabilizar a situação na costa até que unidades policiais palestinas, atualmente em treinamento no Egito, estivessem prontas para assumir essa função.
Contudo, não há uma previsão clara sobre quando essas unidades estarão operacionais, o que gera inquietação sobre quem controlará Gaza nesse ínterim.
O Hamas ainda não se desarmou e continua a ser uma presença significativa na área, reestruturando suas operações na parte da Faixa de Gaza da qual as forças israelenses se retiraram após o cessar-fogo.
A organização terrorista está engajada em confrontos com facções rivais e tem executado aqueles que se opõem a ela.
Em resposta à escalada das ações da Hamas, Trump declarou: "Se o Hamas continuar assim, nós não teremos outra escolha senão intervir em Gaza e eliminar o Hamas".
Soldados americanos não atuarão diretamente
O presidente americano, no entanto, não esclareceu quem estará envolvido na intervenção.
Cerca de 200 militares dos EUA posicionaram-se ao norte da Faixa de Gaza apenas para auxiliar na logística das entregas humanitárias e monitorar a situação.
Um porta-voz do governo americano reafirmou que as tropas atuarão como observadores e não participarão de ações diretas em Gaza.
A indagação sobre quem assumirá a responsabilidade pelo desarmamento ou neutralização do Hamas permanece, portanto, sem resposta.
Nações cautelosas
Líderes de países como Indonésia, Azerbaijão e Paquistão manifestaram disposição para enviar tropas, assim como o líder turco Recep Tayyip Erdogan.
Entretanto, outras nações que deveriam desempenhar um papel central no processo de paz demonstram hesitação.
O ministro das Relações Exteriores do Egito, Badr Abdelatty, expressou cautela ao afirmar: "A ideia das forças internacionais é bem-vinda, mas o que ocorrerá concretamente ainda faz parte das negociações e depende do quanto Israel se retirará".
Existem temores no Cairo de que a intervenção militar possa ser vista pelos palestinos e pela comunidade muçulmana como apoio à “ocupação” israelense.
Estados árabes também estão relutantes em se comprometer. O príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman deseja ver um completo desmantelamento do Hamas antes de considerar o envio de tropas.
Os Emirados Árabes Unidos adotam uma posição semelhante, condicionando sua participação ao aval da Autoridade Nacional Palestina.
O primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, enfatizou que é necessário esclarecer para quem exatamente o Hamas deve entregar suas armas.
Conselho de Segurança da ONU
A missão das tropas não apenas carece de definição clara, mas também representa um risco significativo para aqueles envolvidos.
Para resolver essa situação complexa, uma resolução emergencial do Conselho de Segurança da ONU está sendo elaborada para conceder um mandato claro às forças internacionais em Gaza. Reino Unido e França estão à frente dessa iniciativa;
Em setembro passado, Prabowo Subianto, presidente da Indonésia, anunciou na Assembleia Geral da ONU que seu país está preparado para contribuir com 20 mil soldados para uma força internacional em Gaza e expressou sua expectativa por um mandato claro das Nações Unidas.
A adoção desse modelo poderá facilitar também o apoio ocidental às tropas internacionais; por exemplo, o ministro das Relações Exteriores italiano Antonio Tajani afirmou estar disposto a assumir parte da responsabilidade pela missão.
Trump, que já descreveu a ONU como "um instrumento inútil" para resolução de conflitos pode ser forçado a reconhecer que precisa do envolvimento dela para uma solução sustentável
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