Crusoé/Caio MattosPropaganda eleitoral do governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, no metrô da cidade de Buenos Aires. Foto: Crusoé/Caio Mattos

Argentina: por que um candidato faz propaganda onde não se pode votar nele

22.10.23 06:55

O homem no cartaz é Axel Kicillof, governador da Província de Buenos Aires e candidato à reeleição neste domingo, 22 de outubro. Essa e outras propagandas do governador cobrem, sem concorrência, todo o metrô da cidade de Buenos Aires, onde as pessoas não votam para a eleição que Kicillof disputa.

A capital federal da Argentina faz parte da Cidade Autônoma de Buenos Aires e é cercada mas distinta da Província de Buenos Aires, uma dinâmica equivalente ao Distrito Federal (DF) e o estado de Goiás, no Brasil.

Mas há um diferença fundamental. A separação entre a capital federal e a província é tão brusca que a região metropolitana de Buenos Aires integra a segunda. É como se o DF fosse só o Plano Piloto, e as cidades satélites pertencessem a Goiás.

Os porteños, habitantes da cidade de Buenos Aires, não votam para governador da Província, mas sim para chefe de governo da Cidade Autônoma, um cargo muitas vezes mal traduzido para “prefeito de Buenos Aires”. O favorito nesta disputa neste domingo é Jorge Macri, primo do ex-presidente Mauricio Macri.

O motivo para o governador da província, que também é favorito na sua eleição, investir tanto em propaganda eleitoral no metrô da cidade é justamente os moradores da região metropolitana.

Como acontece em qualquer outra metrópole, os moradores dos subúrbios passam toda a semana na cidade. “A cidade de Buenos Aires e sua região metropolitana são uma mesma mancha urbana, apesar de estarem separadas na divisão política”, diz Nicolás Rotelli, professor de ciências sociais da Universidade Argentina da Empresa (Uade).

 

No caso de Buenos Aires, devido à densidade populacional e à falta de oportunidades na região metropolitana, majoritariamente pobre, o movimento pendular ocorre em proporções colossais.

Os subúrbios da capital federal, também conhecidos como Conurbano, tem 10 milhões de pessoas, contra 3 milhões na cidade. Todos os dias de semana os trabalhadores vindo da região metropolitana dobram o tamanho da população da capital federal.

“Esses trabalhadores passam mais tempo na cidade do que onde dormem. Como as campanhas políticas querem estar onde as pessoas estão, um candidato a governador da Província de Buenos Aires, como Kicillof, deve fazer propaganda na cidade, em especial no transporte público”, afirma Rotelli.

Kicillof, um peronista, teve 36% dos votos nas primárias e deve se reeleger. Protégé de Cristina Kirchner, ele tem muitos votos no Conurbano, um bastião peronista, em especial kirchnerista, que deve ser decisivo nestas eleições.

Os moradores da região metropolitana representam 25% da população da Argentina inteira. Eles são mais de um a cada quatro eleitores  no país e 80% do eleitorado da Província de Buenos Aires.

Não foi por acaso que o candidato peronista à Presidência, o ministro da Economia, Sergio Massa, realizou seu último grande ato de campanha com Kicillof no estádio do Arsenal de Sarandí, em Avellaneda, no Conurbano. Esse comício ocorreu na terça-feira, 17.

E, mesmo o último evento da campanha de Massa, uma visita a uma fábrica na quinta, 19, se deu em Pilar, também na região metropolitana.

 

 

Para Gustavo Córdoba, diretor do instituto de pesquisa Zubán Córdoba, Massa pode ampliar em até dois pontos percentuais os seus votos, estimados em um teto de 30%, tendo uma campanha centrada entre os eleitores mais velhos do Conurbano e da cidade de Rosário, na província de Santa Fé.

Aqueles dois pontos podem ser suficientes para forçar um segundo turno contra o libertário Javier Milei, franco favorito nas eleições presidenciais.

Uma provável vitória de Kicillof neste domingo deve ajudar Massa em um eventual segundo turno — a disputa pelo governo da Província de Buenos Aires só tem primeiro turno, vence direto quem tiver mais votos.

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