Adriano Machado/Crusoé

Para se defender, Flávio ataca Witzel, juiz e promotores, e diz que alvo é o pai

19.12.19 18:18

Em vídeo divulgado na tarde desta quinta-feira, 19, o senador Flávio Bolsonaro (foto) acusou o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, de estar por trás da investigação do Ministério Público do estado em que foram cumpridas na quarta-feira, 18, mandados de busca e apreensão em endereços de ex-assessores do filho do presidente Jair Bolsonaro na Assembleia Legislativa.

No vídeo de 14 minutos e 20 segundos, o senador, atualmente sem partido, também levanta suspeitas sobre a idoneidade do juiz da 27ª Vara Criminal do Rio, Flávio Itabaiana, responsável pelos mandados. “Sabe onde a filha desse juiz trabalha, a Natalia Nicolau? Trabalha com o juiz Wilson Witzel. Trabalha até hoje. Ouço falar que ela não aparece muito lá não”, acusou.

Flávio criticou a eficácia das buscas realizadas ontem, por autorização do juiz. “Estou sendo investigado há dois anos e não tem nada contra mim. Mais de um ano em que tudo vem à baila, autoriza uma apreensão de celulares? Medida completamente inócua”, criticou. “Exatamente num momento em que quem está sob ataque é o governador Wilson Witzel, acusado de receber caixa dois de campanha”, disse. Um empresário delator da operação em que foi pedida a prisão do ex-governador da Paraíba Ricardo Coutinho denunciou que repassou valores por caixa dois para a campanha de Witzel.

 

O filho mais velho de Bolsonaro reclamou da divulgação de informações do relatório do Ministério Público do Rio de Janeiro sobre as movimentações financeiras de seus ex-assessores. O relatório motivou as buscas e apreensões realizadas ontem. “Parece que o sigilo vale apenas para mim”, disse, reclamando que não teve acesso aos autos. “Essa medida sigilosa (os mandados de busca) só ele (Itabaiana) tinha acesso, e os promotores”, afirmou o senador. “Quem vazou? Foi o juiz? Foram os promotores? Foram ambos?”, questionou.

Flávio afirmou que Itabaiana virou “motivo de chacota no Judiciário do Rio” por ter autorizado no inquérito a quebra de sigilo fiscal e bancário de 96 pessoas físicas e jurídicas “com apenas quatro linhas”. Para o senador, o juiz da 27ª Vara Criminal “autoriza tudo o que o MP pede”, e incluiu entre alvos das buscas realizadas ontem “pessoas que sequer estavam no procedimento do Ministério Público”. O senador afirmou no vídeo que “esse juiz é incompetente para tratar do meu caso, já que eu era deputado estadual à época”.

Em relação às informações que constam no relatório do MP, o filho do presidente Jair Bolsonaro afirmou que a maior parte dos 2 milhões de reais recebidos pelo ex-assessor Fabrício Queiroz era de parentes do ex-policial militar, que também trabalhavam no gabinete. “Não explicam que (o recebimento do dinheiro) é por um período de 12 anos e que grande parte é da família dele”, afirmou, referindo-se ao Ministério Público do Rio.

Flávio disse que a loja de chocolates que também foi alvo de buscas “foi comprada com recursos meus e da minha esposa, tudo declarado no meu imposto de renda”. O senador afirmou que é “óbvio” que ele receba mais dividendos pela loja: “Alguma dúvida que eu levo muito mais clientes para a loja?”, alegou. “Se eu quisesse lavar dinheiro, eu iria abrir uma franquia? Que tem controle externo da controladora? Da franqueadora?”, questionou.

O senador também afirmou que não podem ser considerados indício de lavagem depósitos em dinheiro vivo feitos na conta da loja. “É óbvio, energúmenos”, disse, referindo-se aos promotores do caso. “É um comércio, as pessoas pagam em dinheiro também. Qual o problema?”, argumentou.

Para Flávio, o Policial Militar Diego Sodré, de quem admitiu ser amigo, é vítima de “outra sacanagem” ao ser investigado porque quitou um boleto em nome de Fernanda, mulher do senador. “Uma única ocasião na minha vida pedi para ele pagar uma conta para mim, um boleto de uma parcela de um aparamento. Ele pagou e eu o reembolsei, qual o problema nisso?”, perguntou. “Como ele é um pequeno empresário, a principal renda dele nao é ser PM, comprava no fim do ano produtos da minha loja, que eram para seus clientes, síndicos dos prédios de Copacabana”, acrescentou.

Na interpretação de Flávio, a inclusão de parentes da ex-mulher do presidente no inquérito pelo MP “admite a parceria com o jornal O Globo. O senador criticou a inclusão na investigação de reportagens feitas pelo jornal sobre ex-assessores que são familiares de Ana Cristina Siqueira Valle, “como se fosse prova de alguma coisa”.

“Ouviram o vizinho da irmã da minha ex-assessora, que falou uma besteira lá e vira prova para o Ministério Público”, atacou o senador no vídeo. “São pessoas que trabalhavam em Resende, e como são pessoas que moram a uma distância longa (do Rio de Janeiro), trabalhavam lá, uma base eleitoral nossa”, argumentou.

O senador também alegou que comprou com desconto dois apartamentos em Copacabana porque adquiriu de uma vez só os imóveis, de um grupo americano que estava interessado em deixar o Brasil. “São duas quitinetes que comprei, sem vaga na garagem, cacarecadas”, declarou sobre a negociação, que seria uma forma de lavar dinheiro de rachid, segundo o MP. “Óbvio que consegui negociar um preço melhor porque foram dois imóveis de um mesmo vendedor”, disse Flávio. “Não posso comprar mais barato, tenho de comprar mais caro para não ter suspeita?”, reclamou.

O senador desafiou o Ministério Público do Estado do Rio a oferecer denúncia contra ele, “se já tem tudo comprovado”. Para Flávio, o MP “não denunciou porque não tem nada contra mim”. O objetivo da investigação, segundo ele, é atingir o presidente Jair Bolsonaro. “Há, sim, um conluio de várias pessoas poderosas para atacar o presidente da República”, avisou.

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