"Objetivo de perseguição a jornalistas é que imprensa se amedronte"
A perseguição a jornalistas e veículos de imprensa por atores políticos, como mostrou a capa da Crusoé desta semana, tem um único objetivo: amedrontar a atuação de críticos do governo e aplicar uma punição didática, baseada no medo. A avaliação é do advogado André Marsiglia, especialista em liberdade de imprensa. A escalada contra veículos e profissionais...
A perseguição a jornalistas e veículos de imprensa por atores políticos, como mostrou a capa da Crusoé desta semana, tem um único objetivo: amedrontar a atuação de críticos do governo e aplicar uma punição didática, baseada no medo. A avaliação é do advogado André Marsiglia, especialista em liberdade de imprensa.
A escalada contra veículos e profissionais isolados em veículos, revelando o que os governos não querem que seja trazido à luz do sol, não é uma exclusividade do Brasil — mas é comum em países com populistas e autoritários no comando, alerta o especialista. "Estes governantes afagam a imprensa, tratam jornalistas com proximidade e esperam que se sintam inibidos a uma crítica mais contundente",explica. "Quando a estratégia não funciona, atacam."
Em pleno 2023, o que explica tanta agressão contra jornalistas agora?Ataques a jornalistas são comuns em países com governantes populistas e autoritários como o Brasil. Estes governantes afagam a imprensa, tratam jornalistas com proximidade e esperam que se sintam inibidos a uma crítica mais contundente. Quando a estratégia não funciona, atacam.
Entre os que atacam, qual é o objetivo? Criar uma imprensa amiga? Estimular a autocensura?
O objetivo é que os veículos se amedrontem e, temendo que o governo os passem a ter como inimigo, tornem-se amigáveis, bajuladores. O objetivo em relação ao jornalista é que seja desacreditado enquanto profissional. Como credibilidade é o cartão de visitas do jornalista, o resultado prático é autocensura.
Esse comportamento tem feito jornalistas ficarem com medo de criticar o governo?
Sem dúvida. Não são todos os profissionais que suportam ter um governo como inimigo. E o ataque tem finalidade didática, gera medo na classe toda. Na última linha, todo o exercício da liberdade de imprensa no país fica comprometido.
As maneiras que se veem hoje sendo usadas agora são novas ou velhas, dentro dessa lógica de ataques?
Não vejo novidade, apenas os meios para realizar os ataques são novos, com as redes sociais e influenciadores digitais de peso a seu lado, o petismo tem armas que em governos anteriores não possuía.
Em que os ataques de Bolsonaro contra Patrícia Campos Neto eram diferentes dos ataques de Flávio Dino contra Andreza Matais?
Bolsonaro também foi populista, foram semelhantes os ataques na tentativa de descredibilizar e no uso das redes, mas divergiram no teor. No caso de Patrícia, Bolsonaro atingiu não apenas a honra profissional, mas também a intimidade da jornalista.
Por que as insinuações de "follow the money" são problemáticas?
Por descredibilizar o profissional e buscar ferir sua ética. Induz o público a pensar que a intenção não é jornalística, mas a de atingir injustamente a reputação do político. Nesta narrativa, o agressor passa a ocupar o confortável lugar de vítima da imprensa.
Qual o efeito que uma investigação do ministério do Trabalho como a proposta contra Andreza e o Estadão pode ter?
Ao que parece, trata-se de uma denúncia vazia. Não vejo razão jurídica para que surta efeito, a não ser que o governo decida também usar o aparelho do Estado para seguir constrangendo a jornalista e seu veículo.
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Comentários (3)
Antonio
2023-11-24 22:12:34A Jovem Pan que o diga.
Antonio
2023-11-24 22:12:02A Jovem Pan que o diga.
KEDMA
2023-11-24 19:19:14Cada dia fica mais difícil ter confiança no conteúdo jornalístico. Ainda temos a Crusoe.