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O que Javier Milei não entendeu sobre as ilhas Malvinas

03.04.24 11:46

As ilhas Malvinas não são argentinas, nunca foram. Em 2013, 1.1513 dos seus 1.516 moradores, conhecidos como kelpers, votaram em um referendo para que o território continuasse sendo parte do Reino Unido. Qualquer um que defenda a autodeterminação dos povos sabe interpretar esses números. Não há, portanto, qualquer soberania argentina nas ilhas.

Mas o presidente libertário Javier Milei também não entendeu isso. Ele comete, assim, o mesmo engano dos ditadores militares e dos peronistas, que usaram a reclamação pelas Malvinas (na realidade, Falklands) para tentar angariar apoio popular.

Em um evento para marcar o Dia do Veterano e dos Mortos na Guerra das Malvinas nesta terça, 2, Milei reclamou a soberania das Malvinas.

A melhor homenagem àqueles que deram a vida pelo nosso país é defender a reivindicação inabalável pela soberania argentina sobre as Malvinas, Geórgia do Sul, Sandwich do Sul e os espaços marítimos circundantes”, disse Milei.

No dia 2 de abril de 1982, a ditadura da Argentina enviou uma operação anfíbia para recuperar de surpresa o arquipélago das Malvinas. A reação do governo da primeira-ministra britânica Margaret Thatcher foi rápida. No dia seguinte, ela disse que enviaria uma frota armada para o sul do Oceano Atlântico. No dia 3, o Conselho de Segurança das Nações Unidas pediu a retirada das forças argentinas e a retomada das negociações. Como a resolução não foi respeitada, a guerra prosseguiu. Em 74 dias, o Reino Unido retomou o controle do arquipélago. Mais de 600 soldados argentinos e 255 britânicos morreram no conflito.

Mas, em vez de admitir que a guerra foi um erro, e que jovens argentinos morreram inutilmente por causa de uma decisão equivocada dos militares, Milei gasta tempo e esforço para se juntar aos que enaltecem e justificam essa aventura desastrosa.

Para o novo presidente, o elogio da guerra e dos militares não deve ser restrito às Forças Armadas e aos peronistas, mas deve englobar também o seu próprio campo político.

Não quero que o respeito às Forças Armadas e aos heróis das Malvinas seja um monopólio de um espaço político. É por isso que apelo à sociedade e às lideranças para que inaugurem neste dia 2 de abril uma nova era de reconciliação com as Forças Armadas que transcenda este governo”, disse Milei.

Milei tem sido um presidente raro na história argentina ao cortar o gasto público e criticar as ditaduras da América Latina, mas tem coisas que os argentinos nunca vão aprender.

 

Soberania compartilhada?

O desafio de Milei, ao pisar na Casa Rosada, foi o de buscar uma linha alternativa, em que ele é obrigado a dizer que a Argentina deveria buscar uma soberania sobre as Malvinas, sem entrar em conflito com os britânicos ou criar outros problemas.

Havia um questionamento na sociedade de que o novo governo de Milei não estaria disposto a defender a causa das Malvinas. Seria um governo que iria entregar as ilhas“, diz o historiador argentino Alejandro Corbacho. “Milei, então, precisou se colocar nessa questão.”

Para Corbacho, a saída poderia ser uma diplomacia criativa, em que a Argentina pede uma soberania compartilhada, uma vez que a soberania total não será entregue pelos britânicos e não é desejada pelos kelpers. “Pode haver uma solução pelo caminho do meio, mas se alguém defender isso, será imediatamente criticado“, diz Corbacho.

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  1. "Seria um governo que iria "entregar" as ilhas. Como entregar se as ilhas ñ pertencem à Argentina? Mas um povo q depois de dezenas e dezenas de anos continua adorando um general populista e uma senhora que, naquela época - ai meu Deus! - saía para servir de "companhia dançante" p/ senhores solitários, achar q as Falklands (não Malvinas!) ainda são deles é como o Brasil agora resolver "recuperar" o Uruguai (que se libertou com a ajuda da Argentina, que fique bem claro!). Milei não me desaponte!!

  2. Ele está apenas cumprindo sua obrigação constitucional, antes das eleições ele se declarava indiferente às Malvinas

  3. Acho que Milei não é louco, mas finge que é. O Gal. Leopoldo Gualtieri, o bebado, em 1982 pensou que poderia se manter no poder desafiando Margareth Thatcher e o Império Britânico e morreram mais de 600 jovens argentinos e mais de 200 ingleses, à toa.

  4. Que louco vai trocar cidadania britânica por argentina?? Ademais 95% dos moradores são britânicos. Uma solução seria uma indenização pecuniária para a Argentina, embora incabivel, a meu ver.

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