O que está por trás da “One Big Beautiful Bill” de Trump
A iniciativa do presidente Donald Trump enfrenta fortes críticas de democratas e mesmo de republicanos, de seu próprio partido

Na véspera do feriado de 4 de julho, o Senado dos Estados Unidos aprovou o projeto apelidado de One Big Beautiful Bill Act (OBBBA), com um placar apertado de 51 a 50, decidido pelo voto de minerva do vice-presidente JD Vance.
A iniciativa de reconciliação legislativa consolida os pontos da agenda econômica de Donald Trump — inclusive extensões de cortes de impostos da sua gestão anterior, reformas no Medicaid, o programa de saúde social dos Estados Unidos para famílias e indivíduos de baixa renda (lá não há atendimento universal de saúde, como o nosso SUS) e cortes em programas sociais — mas enfrenta fortes críticas de democratas e mesmo de republicanos, partido de Trump.
Principais pontos da legislação
- Torna permanentes os cortes de imposto da era Trump de 2017, custando cerca de 4 trilhões de dólares em receitas em uma década;
- Reforça deduções tributárias para salários extras e gorjetas, amplia o limite (SALT), e eleva o crédito por criança para até 2,5 mil dólares – embora com benefícios desiguais;
- Restringe programas como Medicaid e SNAP (fome), introduzindo exigências como trabalho e elegibilidade reforçada;
- Corta incentivos para energia limpa e pesquisa, além de financiar aumentos em defesa, muro na fronteira mexicana e modernização militar.
Principais críticas
- Transferência de riqueza para os ricos: Pesquisas apontam que os principais beneficiários são as famílias de alta renda; ganhos para classes média e baixa são modestos, gerando acusações de “Robin Hood às avessas.”
- Impacto fiscal: O CBO, Escritório de Orçamento do Congresso, estima que o déficit público aumentará entre 2,4 e 2,8 trilhões até 2034. A agência de riscos Moody’s já rebaixou a nota de crédito americana, citando, entre outros fatores, riscos do crescente endividamento do governo, um das consequências do novo pacote.
- Consequências na saúde: Estima-se que entre 7,8 e 12 milhões percam cobertura do Medicaid, com até 51 mil mortes evitáveis por ano devido a cortes de serviços.
- Retrocesso ambiental e tecnológico: A retirada de subsídios a energia limpa poderia eliminar centenas de milhares de empregos e elevar custos domésticos, prejudicando competitividade em áreas como inteligência artificial.
- Política e popularidade: O apoio público à medida de Trump é fraco — cerca de 49–55% dos americanos se opõem ao projeto, segundo dados da revista Time, com apenas 29–36% a favor. A oposição democrata já está de olho nisso para ser explorado nas eleições legislativas de 2026.
Resposta da Casa Branca
O governo Trump responde com uma cartilha “mito vs. fato”, alegando que o OBBBA trará os maiores cortes de impostos já vistos para famílias de classe média, protegerá Medicare/Medicaid, e reduzirá o déficit por crescimento econômico e redução de fraudes.
Vários especialistas, entretanto, contestam, apontando que as afirmações omitiriam os impactos reais revelados por análises independentes e que as compensações previstas são superestimadas.
Repercussões e próximos passos
O OBBBA visa deixar um marco duradouro na agenda conservadora — unificando cortes de impostos, reformas em programas sociais e reforço militar. Porém, enfrenta oposição intensa devido ao aumento substancial do déficit, potencial erosão de programas de saúde, agravamento da desigualdade e impactos negativos no setor ambiental e tecnológico.
Entre os críticos mais notáveis está Elon Musk. O bilionário ex-amigo de Trump classificou o projeto como “um retrocesso hostil à inovação”, especialmente pelos grandes cortes em subsídios de energia limpa e pesquisa em IA — setores estratégicos para suas empresas Tesla, SpaceX e xAI.
Sua estridente oposição pública tem irritado setores republicanos, gerando ameaças veladas de investigações regulatórias, contratos federais em risco e até de extradição.
Com a oposição escalando e a opinião pública desfavorável, o texto segue agora para votação na Câmara, sob uma pressão política cada vez maior, para só então poder ser sancionado por Trump.
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