O que, afinal, o papa Francisco ofereceu aos pobres?
Ao focar na distribuição da riqueza, solidariedade e meio ambiente, o pontífice desprezou o principal instrumento para tirar as pessoas da miséria

O papa Francisco fez da opção pelos pobres a principal marca de seu período à frente da Igreja Católica.
Seu nome foi escolhido após um pedido feito pelo cardeal brasileiro dom Cláudio Hummes: "Não se esqueça dos pobres". O argentino Jorge Mario Bergoglio, então, escolheu o nome em homenagem a Francisco de Assis.
"Eu gostaria de uma igreja pobre e para os pobres", disse Francisco em sua primeira declaração oficial.
Com sua morte na segunda, 21, chegou a hora de perguntar o que Francisco ofereceu aos pobres em seus doze anos de papado.
O problema é que, mesmo bem-intencionado, Francisco apostou em soluções equivocadas para a pobreza.
Ao focar na distribuição da riqueza, na solidariedade e na preservação do meio ambiente, o papa desprezou o principal recurso para tirar as pessoas da pobreza: o desenvolvimento econômico.
Anticapitalista
Ao ser nomeado papa, o argentino Bergoglio levou consigo para Roma seu preconceito contra o capitalismo e contra os ricos.
Inspirado na Teologia do Povo, corrente argentina parecida com a Teologia da Libertação, ele tinha o hábito de idealizar os pobres e condenar os ricos.
Para Francisco, o desenvolvimento capitalista só traz males, como a desigualdade, a ostentação e a destruição do meio ambiente.
Lautado Si'
Na carta encíclica Lautado Si', a primeira totalmente feita por ele, o papa colocava o meio ambiente como o tema principal.
Entre os culpados pelos problemas do mundo estão os países do Norte, os mercados, o consumismo, os países ricos, o comércio internacional e as empresas multinacionais.
"A desigualdade não afeta apenas os indivíduos mas países inteiros, e obriga a pensar numa ética das relações internacionais. Com efeito, há uma verdadeira 'dívida ecológica', particularmente entre o Norte e o Sul, ligada a desequilíbrios comerciais com consequências no âmbito ecológico e com o uso desproporcionado dos recursos naturais efetuado historicamente por alguns países. As exportações de algumas matérias-primas para satisfazer os mercados no Norte industrializado produziram danos locais, como, por exemplo, a contaminação com mercúrio na extração minerária do ouro ou com o dióxido de enxofre na do cobre. De modo especial, é preciso calcular o espaço ambiental de todo o planeta usado para depositar resíduos gasosos que se foram acumulando ao longo de dois séculos e criaram uma situação que agora afeta todos os países do mundo. O aquecimento causado pelo enorme consumo de alguns países ricos tem repercussões nos lugares mais pobres da terra, especialmente na África, onde o aumento da temperatura, juntamente com a seca, tem efeitos desastrosos no rendimento das cultivações. A isso acrescentam-se os danos causados pela exportação de resíduos sólidos e líquidos tóxicos para os países em vias de desenvolvimento e pela atividade poluente de empresas que fazem nos países menos desenvolvidos aquilo que não podem fazer nos países que lhes dão o capital: 'Constatamos frequentemente que as empresas que assim procedem são multinacionais, que fazem aqui o que não lhes é permitido em países desenvolvidos ou do chamado primeiro mundo. Geralmente, quando cessam as suas atividades e se retiram, deixam grandes danos humanos e ambientais, como o desemprego, aldeias sem vida, esgotamento de algumas reservas naturais, desflorestamento, empobrecimento da agricultura e pecuária local, crateras, colinas devastadas, rios poluídos e qualquer obra social que já não se pode sustentar", escreveu Francisco.
Evangelii Gaudium
Na exortação apostólica Evangelii Gaudium, o papa ataca o crescimento econômico, o livre mercado e "aqueles que detêm o poder econômico".
"Alguns defendem ainda as teorias da 'recaída favorável' que pressupõem que todo o crescimento econômico, favorecido pelo livre mercado, consegue por si só produzir maior equidade e inclusão social no mundo. Essa opinião, que nunca foi confirmada pelos fatos, exprime uma confiança vaga e ingênua na bondade daqueles que detêm o poder econômico e nos mecanismos sacralizados do sistema econômico reinante. Entretanto, os excluídos continuam esperando. Para se poder apoiar um estilo de vida que exclui os outros ou mesmo entusiasmar-se com este ideal egoísta, desenvolveu-se uma globalização da indiferença", escreveu o papa.
1 bilhão de pobres a menos
Mas o capitalismo permitiu que pelo menos 1 bilhão de pessoas deixassem a pobreza no mundo desde 1990, principalmente nos países em desenvolvimento.
"Foi o capitalismo, afinal, que mais tirou pessoas da pobreza e mais ajudou a preservar o meio ambiente. Francisco rompeu totalmente com isso. Ele assumiu uma postura muito radical e pouco fundamentada. É o papa mais agressivo com o capitalismo", afirmou o chileno Axel Kaiser, autor do livro O papa e o capitalismo: um diálogo necessário, em entrevista a Crusoé, em 2020.
Além de recusar a única solução existente para tirar pessoas da miséria, o papa escolheu os remédios errados.
Nenhum milionário vai doar o seu Porsche após ler que Francisco escolheu viver na Casa Santa Marta, e não no Palácio Apostólico, em Roma.
Além disso, a caridade não tira as pessoas da pobreza, mas apenas as mantêm na situação de mendicância.
Francisco acertou ao fazer a opção pelos pobres mas, se eles melhoraram de situação nos últimos doze anos, não foi por obra do papa.
"Os excluídos continuam esperando", como disse Francisco.
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