O elo entre o chinês preso por roubo de testes de Covid e o escândalo no governo de Santa Catarina

13.07.20 08:16

A partir de depoimentos prestados à Polícia Civil de São Paulo, os investigadores encontraram um elo entre envolvidos no escândalo dos contratos emergenciais do governo Carlos Moises, em Santa Catarina, e a prisão do empresário chinês Marcos Zheng, sob suspeita no caso do roubo de 15 mil testes de coronavírus de uma importadora no Aeroporto de Guarulhos. Caso se comprovem, os novos testemunhos podem provocar uma reviravolta nas investigações sobre o desvio da carga que envolve o presidente da Associação Shangai no Brasil.

No dia 11 de abril, o empresário Zheng Xiao Yun, o Marcos Zheng (foto), foi preso em uma operação policial dentro do escritório onde funciona a entidade comercial que representa. A Polícia Civil de São Paulo encontrou lá 15 mil testes supostamente roubados do terminal de cargas do Aeroporto de Guarulhos na semana anterior. A ação, digna de cinema, envolveu um delegado de polícia infiltrado que se passou por um empresário interessado em negociar a carga e deu voz de prisão a 14 chineses. No galpão de Zheng, também foram encontrados galões de álcool, máscaras, macacões e fuzis importados de grosso calibre. Ainda encarcerado, ele é acusado de receptação e associação criminosa.

O inquérito sobre Zheng foi abastecido por depoimentos prestados por testemunhas e investigados nos escândalos da Operação O2, deflagrada contra a fraude em contratos de 33 milhões de reais na compra de respiradores pelo governo Carlos Moises.

Os empresários suspeitos de envolvimento nos esquemas em Santa Catarina dizem ter sido eles os vendedores dos 15 mil testes apreendidos pela Polícia Civil de São Paulo à empresa situada no galpão de Marcos Zheng. No entanto, com a operação policial, teriam ficado sem receber os pagamentos.

Os depoimentos motivaram advogados de Zheng e outros denunciados pela receptação de carga supostamente roubada do aeroporto a contestarem a acusação na Justiça. Eles sustentam duas versões: a de que a carga roubada não é a mesma furtada do aeroporto e que ela não foi desviada, mas, sim, comprada.

Por outro lado, para o Ministério Público Estadual de São Paulo, que já acusou Zheng de receptação pela carga do aeroporto, a versão não é capaz de derrubar a denúncia de que o empresário receptou carga ilícita, já que faltariam documentos para comprovar sua origem. Mesmo assim, tanto a Promotoria quanto a Justiça de São Paulo querem mais diligências para esclarecer os relatos feitos após a prisão de Zheng.

Um dos empresários que falaram à Polícia Civil de São Paulo foi o presidente da Câmara de São João do Meriti, Davi Perini Vermelho, que chegou a ser preso na Operação O2. O parlamentar diz ser amigo do dono da empresa Veigamed, contratada para fornecer respiradores a Santa Catarina, e que o apresentou a um empresário que estaria importando e vendendo testes rápidos de Covid-19.

Após os testes chegarem, os empresários teriam buscado o carregamento em um hotel em Guarulhos. Inicialmente, o material seria destinado ao Rio de Janeiro, onde fica a sede da Veigamed. No entanto, por intermédio de um amigo, os agentes da Veigamed teriam sido convencidos a vender a carga para Fu Zihong, que tem uma empresa no mesmo galpão no bairro do Ipiranga, em São Paulo, onde fica a Associação presidida por Marcos Zheng. Os 15 mil testes teriam sido negociados e deixados com os chineses no dia 9 de abril. Para o azar dos representantes da Veigamed, Fu só poderia pagar na semana seguinte, e eles teriam aceitado deixar a carga em seu galpão. Dois dias depois, os chineses foram presos, e os donos da Veigamed teriam ficado sem receber.

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