O Brasil é a forma mais bem acabada da miséria política
Lula (foto) ficou isolado na cúpula do G7. Ele não é mais “o cara” de Obama e nem o “político mais popular do Brasil”, como havia estampado a capa da revista Time. Os tempos mudaram. A comunidade internacional já não tem interesse em um novo Lech Wałęsa, o sindicalista que virou presidente da Polônia e...
Lula (foto) ficou isolado na cúpula do G7. Ele não é mais “o cara” de Obama e nem o “político mais popular do Brasil”, como havia estampado a capa da revista Time. Os tempos mudaram. A comunidade internacional já não tem interesse em um novo Lech Wałęsa, o sindicalista que virou presidente da Polônia e ganhou o Nobel da Paz em 1983. Mas Lula acha que também tem direito a um Nobel da Paz. A ideia foi de Celso Amorim, depois de ter lido, num desses blogues que bajulam o PT, que Lula era o novo Mandela. Parece ter faltado, além de bom senso, um marqueteiro capaz de adequar a ideia mirabolante às oportunidades da política atual. Porque Wałęsa era um sindicalista moderado na época da ameaça comunista. Mandela, um grande líder político africano, no tempo da reparação das injustiças do apartheid. E agora o presidente ucraniano, Zelensky, conseguiu se tornar um símbolo de resistência da democracia liberal diante da ascensão do totalitarismo russo-chinês. Portanto, não há espaço para essa conversa mole de resolver a guerra numa mesa de bar.
A carreira de Lula foi marcada pelo mito de que ele era um grande negociador político. Mas os escândalos de corrupção nos seus governos mostraram o contrário. Sua governabilidade sempre dependeu do mensalão e da roubalheira na Petrobras. A pá de cal foi em 2016, no fiasco das negociatas que tentaram salvar Dilma Rousseff do impeachment. Lula montou um gabinete de crise num hotel de luxo em Brasília e fez promessas mais espetaculares do que o milagre da multiplicação dos pães. Mas as negociatas obscuras não evitaram o destino tenebroso. Dilma foi deposta e o próprio Lula foi parar na cadeia. Porém, ambos foram agraciados pelas ações milagrosas do nosso sistema judiciário. Dilma foi resgatada da insignificância para entrar na terra prometida do banco dos Brics. E o mar se abriu para que Lula retornasse ao velho jogo da disputa pelo poder, que substituiu a política do bem comum pela busca de privilégios e contas clandestinas em paraísos fiscais.
A pior parte de escrever sobre o Brasil é ter que se virar com personagens ruins. As histórias sempre se repetem. Eu sei que toda história repetida pode ser abordada de uma forma diferente. Hamlet era uma velha lenda popular que Shakespeare reescreveu na sua forma definitiva. Mas o Brasil não tem um príncipe da Dinamarca nem uma intriga palaciana que renda boa literatura. E nada aqui é definitivo. Sempre progredimos para uma versão pior. Estamos presos para sempre nessa espécie de eterno retorno. Os mensaleiros são reeleitos, os lobistas se acotovelam para barganhar privilégios, os monarcas da casa grande contrabandeiam joias e compram sofás de 60 mil reais, enquanto 30% da população vive com uma renda inferior a 400.
Enquanto nossa elite política se concentrou para “estancar a sangria”, nas palavras do ex-senador e já sem bigode Romero Jucá, famílias inteiras foram morar nas ruas e quase metade da população está vivendo de benefícios sociais. Mas há sempre quem seja capaz de encontrar o lado bom da tragédia. Se o brasileiro está de volta ao Mapa da Fome da ONU, algum jornalista chapeleiro seria capaz de resgatar qualquer estudo extravagante, garantindo que miseráveis famintos têm menores taxas de colesterol e menos incidência de doenças cardiovasculares.
Mas para simbolizar a falta de interesse pela miséria do povo, as guerras ideológicas ganharam um intervalo para que todos se juntassem na defesa de interesses corporativos. Assim, parlamentares da situação e da oposição, já desavergonhados, puderam aumentar seus salários em 30%. E ainda aproveitaram para votar uma emenda constitucional e anistiar, pela quarta vez, os partidos políticos da corrupção generalizada com o fundo eleitoral. E se a coisa virou um vale tudo jurídico, por que não indultar as penas de Paulo Salim Maluf, a personificação absoluta do “rouba, mas faz”? E nada poderia ser mais simbólico do que o STF, julgando a procedência, desse um indulto de Natal a Maluf, assinado no apagar das luzes do governo Bolsonaro.
Dia desses, o nosso iluminado ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, andou dizendo que “o bolsonarismo é a forma mais bem acabada da miséria política do Brasil”. Ele está redondamente enganado. A nossa capacidade de piorar tudo aquilo que já é ruim faz parte da nossa cultura. Por sermos mais miseráveis que Jean Valjean e mais explorados que Lazarillo de Tormes, o Brasil é a forma mais bem acabada de miséria política.
Diogo Chiuso é escritor e autor do livro O que restou da política, publicado pela editora Noétika em 2022
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Comentários (10)
Magda
2023-05-25 05:33:13Parabéns ao autor!Mto bem escrito e devidamente argumentado.Comprarei o livro dele p/ que a raiva q sinto no momento ñ acabe.Ando espumando c/ "20 anos de corrupção: Os escândalos que marcaram Lula,Dilma,Temer e Bolsonaro" de Ivo Patarra.Inacreditável q em um só país todo o povo seja tão degenerado q é capaz de só eleger,há 500 anos,o msm tipo de bandido?Ou será q está no DNA do povo brasileiro e por isso ñ tem chance de mudança?Se é,então fiz bem,desliguei as luzes do meu aeroporto há 36 anos
ROBERTO DE VASCONCELLOS PEREIRA
2023-05-24 10:56:16O mundo já percebeu claramente que Lula é uma farsa. É vazio. Não tem nada a oferecer. Não tem qualquer plano de paz para a Ucrânia, além de não ter qualquer interesse nessa paz. Oportunista e fingido que é, ele está apenas e unicamente querendo aproveitar o momento para se autopromover. Mas ele é muito pequeno. Está virando apenas uma figura folclórica no Exterior.
Peter
2023-05-24 02:29:16Na cabeça. Muito bom.
Renata
2023-05-23 21:18:02Nenhuma surpresa em Lula querer mediar a paz na Ucrânia. Já se ofereceu pra resolver o problema palestino…
Juerg
2023-05-23 20:42:33Igualar Lula ao Mandela só pode sair da cabeça de estrume desse anão diplomático chamado Cínico Amorim! Lula é da mesma turma de “gente” como João de Deus e Pablo Escobar….!!
Lucia
2023-05-23 17:59:25O Senador Sérgio Moro foi massacrado hoje pela Globonews e seus jornalistas lulistas, que o entrevistaram como se ele fosse o condenado e não o juiz que condenou um bando de corruptos sem vergonha na cara - entre eles o atual presidente do Brasil. Na cabeça da imprensa tendenciosa e passa-pano, o bandido é o mocinho e o mocinho é o bandido. Esse é o Brasil atual. Com o aval do Supremo Tribunal.
claide reis rocha
2023-05-23 17:43:55Verdade cristalina...dói muito não ter a menor esperança para o Brasil...somos governados por bandidos, ladrões, mafiosos, assassinos, milicianos.....Sem solução.
Tania Maria
2023-05-23 13:49:20Excelente artigo e lamentável país.
Amaury G Feitosa
2023-05-23 10:49:56Relendo as esquecidas profecias fatais do gen. Figueiredo sobre a política do país vemos que Lula é só mais um na desgraça do país reiniciada ao perdermos Tancredo para Sarney e Collor escancarada a corrupção no país onde hoje miseráveis sonham com picanha mas morrem de caganeira nas abóboras do ditador descondenado comprovado ladrão em processos intermináveis mas por que isto? simples num país de povo e doutores ignorantes adeptos de ideologia pré histórica nosso futuro é o LIXO a clara vista.
CELMIRA
2023-05-23 10:05:28Excelente Diogo, mas ao mesmo tempo desolador quando penso a que situação chegamos..