Presidência da República

‘Na linha com o governador’: as mensagens que complicam Carlos Moises

22.06.20 20:23

As mensagens apreendidas em celulares de personagens implicados por desvios na Saúde de Santa Catarina são o pilar da decisão judicial que abriu caminho para que o governador Carlos Moises, do PSL, possa ser investigado pelo Superior Tribunal de Justiça em razão do escândalo dos respiradores.

O esquema foi descoberto pela Operação O2, que mirou fraudes em um contrato de 33 milhões de reais para a aquisição de respiradores importados. Apenas 50 aparelhos chegaram aos hospitais catarinenses.

Em sua edição 110, a revista Crusoé mostrou o envolvimento de Fábio Guasti, um empresário de Guarulhos que atuou como um dos “atravessadores” de contratos durante a pandemia do coronavírus. Ele teria sido indicado diretamente pelo ex-chefe da Casa Civil, Douglas Borba, e admitiu sequer conhecer a empresa cujo contrato ajudou a intermediar com o governo catarinense.

O escrutínio no celular de um outro empresário que participou da negociação, e atuou ao lado de Guasti, complica o governador e o leva a ser um potencial investigado — cabe ao Superior Tribunal de Justiça e à Procuradoria-Geral da República abrirem o inquérito.

O aparelho é de Samuel Rodovalho, que também teria atuado na compra dos respiradores. As mensagens mostram que ele dizia, em suas mensagens com outros investigados, manter contato intenso com o governador sobre a compra dos respiradores. Rodovalho é filho do bispo e ex-deputado Robson Rodovalho.

Em uma troca de mensagem com um advogado que também teria participado do negócio, ele questiona: “É… aconteceu algum problema no processo dos 200 respiradores, cara?”

“Porque até hoje depois do almoço eu recebi uma mensagem que tava tudo certo, o Governador já tinha liberado o processo de aquisição e já tinha mandado pra Secretaria de Fazenda pra solicitar os dados de conta pra fazer depósito. Daí eu tentei já falar com o Fábio duas vezes, ele me mandou que tá ocupado. Daí eu tô querendo saber… deu algum problema? Tá tudo certo?”, relatou.

Em meio às negociações, ele chega a afirmar: “na linha com o governador”. O interlocutor, que também participava da compra, responde: “Tudo ou nada agora, filhão” (imagem acima).

Também há mensagens entre integrantes do próprio governo.

Em um grupo de WhatsApp,o ex-chefe da Casa Civil, Douglas Borba, que chegou a ser preso na Operação O2, menciona que houve pagamento antecipado pelos respiradores, mas pede à cúpula do governo cautela. “Sim. Manter a discrição em relação a isso”.

Para o juiz Elleston Lissandro Canalli, as provas, ainda que não mostrem uma conduta “definitiva”, apontam para a ciência de Carlos Moises “sobre os acontecimentos, bem como o assentimento quanto à orientação de discrição acerca do fato de ter ocorrido pagamento antecipado”. Atendendo a pedido do Ministério Público Estadual, ele declinou da competência e caberá ao STJ analisar o caso.

Mais notícias
Assine agora
TOPO