Médicos cubanos se revoltam após serem criticados pela ditadura

Por estarem na linha de frente do combate à pandemia e correrem alto risco, os médicos têm sido aplaudidos e elogiados em vários países por desempenhar a profissão. Cuba parece ser o único caso até agora em que o governo, na tentativa de fugir da responsabilidade, preferiu culpar os profissionais pelo descontrole da pandemia.

“Esta província está igualzinha às outras em relação à falta de testes de antígenos e escassez de remédios. São os mesmos problemas objetivos. Mas há mais queixas de problemas subjetivos do que de problemas objetivos. As críticas quanto à falta de remédios são menos numerosas que os relatos de maus-tratos, de negligência, porque os médicos não visitam as pessoas. Isso é incrível”, disse o primeiro-ministro Manuel Marrero (foto) em um encontro com membros do Partido Comunista em Cienfuegos, na terça, 10.

A fala de Marrero foi reproduzida na televisão estatal e está disponível no Youtube. “Quando temos indisciplina, quando não se cumpre o que está estabelecido, e chega a pandemia, então ganhamos um problema extra e as consequências são piores“, disse Marrero.

Indignados, médicos de Cienfuegos e de outras províncias responderam ao primeiro-ministro nas redes sociais. Alguns chegaram a propor manifestações de rua.

No Facebook, o doutor Miguel Angel González Suárez, que trabalha no hospital Gustavo Aldereguia Lima, em Cienfuegos, criticou a falta de decisões na reunião feita por Marrero em sua província.

“Não vi a solução de curto prazo para os reagentes que são tão necessários para realizar leucograma, glicemia, coagulograma completo, ionogasometria entre outros, sem os quais os intensivistas não conseguem dar atenção adequada aos pacientes graves, algo que no ditado popular significa trabalhar às cegas. Também não foi dada uma solução para que se possa realizar radiografia de tórax em pacientes em terapia intensiva. Não encontrei solução para o equipamento de tomografia, que há várias semanas não está disponível no centro. Nós também continuamos trabalhando sem medicamentos, o que hoje é a principal causa de mortes no nosso centro“, escreveu o médico González Suárez.