Max procurou funcionária nomeada por Barros em lobby pela Covaxin

A CPI da Covid pretende investigar os desdobramentos de uma reunião ocorrida no dia 12 de janeiro, na sede do Ministério da Saúde. Nela, o dono da Precisa Medicamentos, Francisco Maximiano, pediu oficialmente ao governo uma mudança na chamada “MP das Vacinas”, que dava autorização para a importação e distribuição de quaisquer vacinas e medicamentos não registrados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, contanto que fossem aprovados por autoridades sanitárias de outros países. Max, como é conhecido, queria incluir a agência sanitária da Índia nesse rol de órgãos estrangeiros a fim de acelerar a negociação da vacina indiana Covaxin com o governo brasileiro.

O empresário foi recebido pela então diretora de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégios do Ministério da Saúde, Camile Sachetti, que registrou o pedido dele em favor da inclusão da agência indiana na ata da reunião, entregue à CPI no início de agosto. “O presidente da empresa questionou sobre a possibilidade de alteração da Medida Provisória n° 1.026, de 6 de janeiro de 2021, para que seja inserida a agência regulatória indiana no rol disposto no art. 16. Foi esclarecido que o art. 16 da aludida Medida Provisória requer o registro em uma das agências referenciadas”, anotou.

Servidora efetiva do ministério, Camile foi promovida durante a gestão de Ricardo Barros na Saúde: em setembro de 2016, ela foi nomeada pelo atual líder do governo na Câmara para o cargo de coordenadora-geral do Departamento de Ciência e Tecnologia. Um mês depois, ascendeu ao posto de diretora. Ela acabou exonerada do cargo em abril de 2021, já na gestão do ministro Marcelo Queiroga. Indagado por Crusoé, Barros afirmou que não se lembra “exatamente” da funcionária.

Camile Sachetti teve seus sigilos quebrados pela CPI da Covid em junho, mas a medida foi suspensa pelo Supremo Tribunal Federal. A CPI recorreu da decisão e aguarda julgamento do recurso.

Nos bastidores, senadores da comissão de inquérito receberam informações de que a ex-diretora não era alinhada à ala bolsonarista do ministério. Por isso, os parlamentares querem apurar se, após não ter obtido sucesso na reunião com Camile, Max acionou Ricardo Barros. O deputado foi o autor da emenda aprovada pelo Congresso que acabou inserindo a agência sanitária indiana entre os órgãos capazes de autorizar a importação e distribuição de vacinas no Brasil, mesmo que não registradas pela Anvisa — exatamente a demanda de Max. 

Como publicou Crusoé em sua mais recente edição semanal, Max está no epicentro das investigações desde que o deputado Luis Miranda denunciou que funcionários do ministério estavam sob pressão para aprovar a toque de caixa não apenas o contrato da Covaxin, como também a antecipação do pagamento por intermédio de uma empresa com sede em Singapura.