Lula na ONU: Palestina, Palestina e antiamericanismo
Clima geral contra ações militares de Israel aumenta as chances de o petista passar do ponto, retomando acusações de "genocídio"

O Palácio do Planalto e o Itamaraty já anunciaram aos jornalistas os tópicos que o presidente Lula (foto) falará no discurso que abrirá a Assembleia-Geral da ONU nesta terça, 23.
Pelos anúncios oficiais e pela trajetória de Lula, não há muita dúvida do que vai acontecer.
Lula deve ampliar o tempo dedicado à Palestina, que sempre esteve presente em seus discursos, mas que agora tem tudo para ganhar mais espaço.
Em setembro de 2023, meses após iniciar seu terceiro mandato presidencial, Lula tocou de raspão no assunto: "É perturbador ver que persistem antigas disputas não resolvidas e que surgem ou ganham vigor novas ameaças. Bem o demonstra a dificuldade de garantir a criação de um Estado para o povo palestino".
No mês seguinte, em 7 de outubro, terroristas do Hamas invadiram o sul de Israel, mataram 1.200 pessoas e sequestraram 250.
A breve fala de Lula, assim, foi mais uma que caiu no esquecimento.
O momento agora é outro.
"Gaza está em chamas"
Quase dois anos após o ataque terrorista, as Forças de Defesa de Israel (FDI) seguem com ações militares na Faixa de Gaza contra o Hamas, sem que um plano de paz tenha sido desenhado.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, se recusa a aceitar que a Autoridade Palestina (AP) ou qualquer outra organização governamental palestina assuma o governo do território.
O ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, pediu a anexação da Cisjordânia. Ele apresentará a proposta na próxima reunião de gabinete.
Outro, Israel Katz, das Relações Exteriores, iniciou uma publicação nas redes sociais sobre a ofensiva com tanques e soldados na cidade de Gaza com a seguinte frase: "Gaza está em chamas".
Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, teve o visto para ir à Assembleia-Geral da ONU negado e vai discursar de maneira remota, por videoconferência.
No final de semana, Reino Unido, França, Canadá, Autrália e Portugal afirmaram que irão reconhecer o Estado palestino, como uma forma de pressionar Israel a conter suas ações militares e pensar em um plano pós-conflito.
Lula tem tudo para embarcar nessa onda, o que aumenta as chances de o petista passar do ponto, retomando suas acusações de "genocídio" ou de que Israel mata "mulheres e crianças".
Antiamericanismo
O presidente também vai retomar seu velho antiamericanismo, levando o tema da soberania para a Assembleia-Geral.
E justo nesta semana, em que são esperadas medidas adicionais dos Estados Unidos contra o Brasil.
Quem avisou foi o o secretário de Estado Marco Rubio na segunda, 15, após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro.
"Bem, a resposta é que o Estado de Direito está se rompendo. Você tem esses juízes ativistas – um em particular – que não apenas foi atrás do Bolsonaro, aliás, ele tentou – tentou exercer reivindicações extraterritoriais até mesmo contra cidadãos americanos ou contra alguém que posta online a partir dos Estados Unidos, e na verdade ameaçou ir ainda mais longe nesse aspecto", disse Rubio.
"Haverá uma resposta dos EUA a isso, e é sobre isso que – teremos alguns anúncios na próxima semana ou mais sobre quais passos adicionais pretendemos tomar."
Lula tomará o cuidado de não citar o nome de Donald Trump, mas não vai perder a oportunidade de usar na Assembleia-Geral sua narrativa sobre soberania, a qual tem melhorado sua aprovação entre os brasileiros.
De acordo com o Lulômetro, de O Antagonista, a desaprovação do presidente caiu dez pontos percentuais desde o início de julho.
Com o discurso de Lula acontecendo imediatamente antes da fala de Trump, o risco de uma fala atabalhoada do brasileiro sobre as sanções, sobre as empresas americanas de tecnologia ou sobre a Palestina ampliar a tensão já existente é enorme.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)