Japão comemora derrota menor no acordo com os EUA
A sensação de celebração de uma derrota menor, por parte do Japão, poderá ser o tom de muitos acordos daqui para frente

O Japão pode até ter evitado um desastre tarifário, mas está longe de poder celebrar uma vitória. O novo acordo comercial com os Estados Unidos anunciado ontem de noite reduziu tarifas de importação sobre veículos japoneses de 25% para 15%, o que animou brevemente os mercados — o índice Nikkei subiu 3,5% na quarta-feira, puxado por ações de montadoras como Toyota e Honda. Mas, na prática, Tóquio apenas conseguiu perder menos.
O governo japonês classifica a nova tarifa como a mais baixa já imposta pelos EUA a um país com superávit na balança comercial. De fato, o Japão escapou de tarifas de até 35% que Donald Trump ameaçava impor já em agosto.
Para isso, ofereceu um grande pacote: 550 bilhões de dólares em investimentos e financiamentos nos EUA, com 90% dos lucros ficam no país, além de aceitar flexibilizações técnicas que facilitam a entrada de veículos americanos e produtos agrícolas no mercado japonês.
O grande alívio veio no setor automotivo, pilar das exportações japonesas. Com a tarifa reduzida, o Japão garante algum nível de competitividade para seus veículos no mercado norte-americano, que responde por cerca de um terço das exportações de carros japoneses.
O acordo também afastou, ao menos por ora, a aplicação de tarifas adicionais sobre autopeças, equipamentos industriais e produtos eletrônicos.
Além disso, o Japão conquistou alguns ganhos regulatórios discretos. Os EUA aceitaram, em certos setores, reconhecer padrões técnicos e certificações japonesas — o que reduz custos para empresas exportadoras.
Também ficaram de fora do acordo sanções ao setor financeiro japonês e restrições mais duras à movimentação de capitais, que haviam sido cogitadas como retaliação.
Outro ponto positivo, ainda que em fase embrionária, é a promessa de acesso mais fácil a licitações públicas nos EUA, especialmente em infraestrutura. Empresas como Hitachi e Mitsubishi tem a expectativa de poder disputar contratos com menos entraves burocráticos, embora os detalhes e prazos e datas ainda estejam em discussão.
Por fim, Tóquio conseguiu preservar um canal direto de negociação com Washington, se posicionando como parceiro estratégico em um cenário global cada vez mais protecionista e agressivo.
Isso evita que o Japão caia na mira de futuras retaliações comerciais, como as que atingiram a China e a União Europeia e são prometidas para o Brasil.
E se o saldo para o Japão é modesto, os ganhos americanos são claramente maiores. Os EUA asseguraram um pacote robusto de mais de meio trilhão de dólares em investimentos e créditos japoneses, além de obter concessões regulatórias que facilitam a entrada de diferentes produtos americanos no mercado japonês.
Enquanto Tóquio apenas evitou tarifas punitivas e manteve o acesso que já possuía, Washington conquistou capital, abertura e impulso político para pressionar outros parceiros comerciais a ceder nas negociações que trava.
A sensação de celebração de uma derrota menor, por parte do Japão, poderá ser o tom de muitos acordos daqui para frente.
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Comentários (2)
Eliane ☆
2025-07-23 15:40:22Que saudade do Japão. Do "tédio "do Japão...
F-35- Hellfire
2025-07-23 14:18:41O pessoal do Japão pensa diferente do pessoal petista do Brasil...