'Isso de Talibã moderado é só uma desculpa para a retirada americana', diz embaixador
Diretor para a Ásia Central e Sul da Ásia no Hudson Institute, em Washington, Husain Haqqani acompanha atentamente o grupo terrorista islâmico Talibã (foto). Embaixador do Paquistão nos Estados Unidos durante o governo de Barack Obama, ele sabe que, quando o Talibã ganha terreno no Afeganistão, isso repercute em seu país, onde o grupo também está...
Diretor para a Ásia Central e Sul da Ásia no Hudson Institute, em Washington, Husain Haqqani acompanha atentamente o grupo terrorista islâmico Talibã (foto). Embaixador do Paquistão nos Estados Unidos durante o governo de Barack Obama, ele sabe que, quando o Talibã ganha terreno no Afeganistão, isso repercute em seu país, onde o grupo também está presente. Haqqani conversou por telefone com Crusoé sobre as consequências da decisão do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de retirar os soldados americanos do Afeganistão
O que aconteceu no Afeganistão desde que Joe Biden anunciou a retirada de soldados americanos em abril?
O que mudou é que o Talibã agora é capaz de tomar alguns distritos remotos. Eles também cercaram algumas capitais de províncias. O que permitiu que eles fizessem isso é que, enquanto os americanos ficaram no Afeganistão, eles não ajudaram a formar uma força aérea. As unidades aéreas que foram desenvolvidas estavam com empresas terceirizadas, que também se foram. Então, os afegãos agora têm de lutar contra o Talibã sem cobertura aérea. E o governo entendeu que, em lugares muito ermos, onde forças de segurança teriam de ser abastecidas pelo ar, não vale a pena lutar. Assim, o Tailbã conquistou esses lugares.
Há quem diga que o Talibã, desde que iniciou as conversas de paz no Catar no ano passado, ficou mais moderado. É verdade?
Nada mudou na conduta do Talibã. Eles continuam executando pessoas sumariamente quando assumem o controle de um distrito. Cortam os pés e as mãos das pessoas, como faziam antigamente. Obrigam as mulheres a usar a burca, cobrindo totalmente o corpo. Também dizem para elas para não sair em público. Estão fechando, e até mesmo explodindo, escolas. Destruíram várias obras de infraestrutura, como pontes, estradas e até hospitais. Isso de Talibã moderado é só uma desculpa para a retirada americana. Tudo não passa de uma peça de propaganda feita para justificar a decisão de Donald Trump de deixar o país, que depois foi levada adiante por Biden. Afinal, tem muito americano achando que o governo não deveria abandonar as pessoas, principalmente as mulheres, nas mãos do Talibã.
A Guerra do Afeganistão derrotou a Al Qaeda. O sr. acha que esse grupo terrorista, que busca atacar os Estados Unidos, poderia voltar a se organizar em territórios controlados pelo Talibã?
Um relatório das Nações Unidas do dia 21 de junho apresenta evidências de que o Talibã mantém laços próximos com a Al Qaeda. Os dois grupos têm a mesma ideologia e visão de mundo. Eles acreditam na supremacia islâmica, em impor a lei islâmica e acham que o Ocidente deve ser destruído. Alguns membros do Talibã, que falam inglês, entraram nas negociações com os Estados Unidos no Catar com o objetivo de fazer com que os americanos deixassem o país. Apesar disso, nada mudou, incluindo a relação com a Al Qaeda. Alguns diplomatas americanos têm divulgado a ideia de que um acordo com os Estados Unidos impediria o Talibã de hospedar a Al Qaeda e o Estado Islâmico no futuro. Mas nada garante que o Talibã manteria a promessa caso tome novamente o controle do Afeganistão.
Como explicar que mil soldados afegãos tenham fugido para o Tajiquistão sem lutar contra o Talibã?
Todos os postos de controle de fronteira com o Irã, com o Paquistão e com o Tajiquistão foram atacados pelo Talibã. Com isso, eles conseguem controlar o comércio e impedir que o governo afegão arrecade com tributos. Sem cobertura aérea, os guardas de fronteira não tinham como reagir. É por isso que muitos foram para o Irã e para o Tajiquistão. Eles tiveram de proteger suas vidas. Mas isso não quer dizer que o Afeganistão não tenha condições de contra-atacar. Além disso, a maioria do povo afegão não concorda com o grupo e não quer que seus membros dominem o país.
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Comentários (8)
PAULO
2021-07-19 18:37:38O presidente Biden acertou na sua decisão. Às intervenções americanas são controversas. A Guerra ao Terror tem gerado em última análise, mais terror. Ñ é mais admissível o Tio Sam se envolver nos conflitos alheios. Está na hora dos países terem maturidade. Vemos o Brasil seguindo um caminho tenebroso com o Bozo. Às instituições ñ podem fazer nada? Se às instituições ñ fizerem nada, a maioria do povo ñ pode fazer nada? Ñ adianta o Tio Sam ajudar na liberdade, de um povo q opta por ser escravo.
Emilio Cêdo
2021-07-19 17:24:41Seriam robots de Duda com nome sedutor? A estes, eu digo: tudo release do GOP.
Marco
2021-07-19 10:47:23E imaginar que o cerne de tudo isso é o fato desses grupos fundamentalistas imaginarem que estão fazendo a vontade de Deus. Então entendo que a única forma de acabar com isso está na educação das crianças mudando essa crença de um Deus carrasco, os radicais sabem tanto disso que um dos seus objetivos é explodir as escolas. Biden deveria pensar melhor sobre este assunto.
Suzie
2021-07-19 09:39:56Muito bom abordar esse assunto. Ótima matéria.
Jose
2021-07-18 23:38:31Neste caso a resposta é simples. Taliban é um problema do Afeganistão e Paquistão. Paquistão sempre foi muito bem armado. Que tal os dois países se juntarem para eliminar o inimigo em comum? Por que precisam do Tio Sam para resolver este problema?
Emilio Cêdo
2021-07-18 22:08:10Quando vejo o nome do redator nem leio. Não é jornalismo. É só propaganda republicana, às vêzes parece trumpista, devo confessar. É um contraste com outros redatores de Crusoé que embora claramente enviesados procuram informar.
Dalila
2021-07-18 21:38:57Terrorista moderado não existe mesmo.
JoseRMonteiro
2021-07-18 19:53:25Se Talibã fosse moderado, não seria Talibã.