Fiocruz silencia e mantém no ar revista com ataques a Israel
Publicação institucional do órgão ligado ao Ministério da Saúde acusa israelenses de manterem palestinos em "cárceres subumanos e sob tortura"
Até esta sexta, 1º de novembro, a Fundação Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz, não respondeu aos pedidos de informação enviados na terça, 29, por Crusoé a respeito da publicação da revista Radis com o título "Genocídio na Palestina".
O texto da revista institucional acusa o governo de Israel de cometer diversos crimes, sem mostrar evidências, além de distorcer a história.
Mesmo três dias depois de publicada uma nota em Crusoé, a Fundação mantém no ar a revista e um anúncio da reportagem em seu site principal.
Crusoé enviou um email com pedidos de informação para a Coordenação de Comunicação Social da Fiocruz e para dois jornalistas da publicação. Contatos foram feitos com membros da assessoria por aplicativo de mensagem. Nenhuma resposta foi dada.
Um pedido de entrevista com o presidente da Fiocruz, Mario Moreira (na foto, entre a ministra da Saúde Nísia Trindade e Lula), foi enviado, também sem resposta.
Mulheres e crianças
Os textos da revista Radis trazem a mensagem de que Israel estaria promovendo intencionalmente um massacre da população palestina, principalmente de mulheres e crianças.
A edição ecoa declarações do presidente Lula. "O que o governo de Israel está fazendo contra o povo palestino não é guerra, é genocídio. Porque está matando mulheres e crianças”, disse Lula em fevereiro.
No editorial da revista Radis, o editor-chefe Rogério Lannes Rocha diz que, até o início de outubro, "estimava-se mais de 50 mil pessoas mortas, 96 mil feridas, a maioria mulheres e crianças, e mais de 2 milhões de pessoas desalojadas. Em seus perfis das redes sociais, os próprios soldados israelenses divulgam vídeos que comprovam os crimes de guerra e contra a humanidade que organizações internacionais e diversos países denunciam à ONU: destruição sistemática de residências e infraestrutura urbanas, reservatórios de água, igrejas e mesquitas, escolas e universidades, hospitais e ambulâncias, assim como o assassinato de civis e profissionais de saúde e da imprensa. Nos vídeos, é possível constatar execuções aleatórias e o sequestro e aprisionamento de palestinos, incluindo jovens e crianças, mantidos em cárceres subumanos e sob tortura".
Não há qualquer evidência de que soldados israelenses realizaram torturas e mantiveram pessoas em cárceres subumanos. Quem cometeu esse tipo de prática foram os terroristas do Hamas, que sequestraram reféns israelenses no dia 7 de outubro. Tudo, assim, não passa de uma tentativa de acusar os israelenses de cometer os crimes que eles próprios sofreram.
Uma das mais antigas formas de antissemitismo, aliás, era acusar os judeus de praticarem os atos dos nazistas ou de serem coniventes com eles.
Também não há nada indicando que o governo de Israel esteja buscando intencionalmente a morte da população palestina.
Um dos entrevistados pelos jornalistas da Radis é Paulo Buss, coordenador do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris), da Fiocruz. "Muitos analistas dizem que está se cometendo um genocídio em Gaza, porque há a intenção de matar grupos concentrados em instalações que não deveriam estar sendo bombardeadas, segundo as próprias regras da Convenção de Genebra sobre guerra", diz Buss.
Outro citado é Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), uma organização conhecida por declarações antissemitas nas redes sociais. Segundo Rabah, citado pela reportagem, o "atual ataque a Gaza é uma propagação do que já ocorre naquele território pelo menos desde a implantação do Estado de Israel, em 1948". Rabah é então citado textualmente: "Isso sem falar dos 25 anos anteriores, de presença colonial britânica para impor um projeto sionista sobre a Palestina".
Os autores da reportagem de capa, Glauber Tiburtino e Jesuan Xavier, ainda tratam a Partilha da Palestina na ONU, que aprovou a formação de dois estados, um judeu e um palestino, na região, como sendo meramente uma "partilha de terras palestinas aos judeus ao longo do século 20, processo esse intensificado após a Segunda Guerra Mundial".
Mas falar em "partilha de terras palestinas aos judeus" é uma clara distorção da realidade. "A Resolução 181 aprovada pela ONU em 1947 criou dois Estados: um judeu e um palestino. O Estado judeu recebeu as áreas menos férteis, mas foi aceito, chamado de Israel, tendo declarado sua independência em 1948. O 'Estado Palestino' nunca foi criado. Em vez disso, os exércitos de Egito, Iraque, Jordania, Líbano e Síria invadiram Israel imediatamente após sua independência. Essa guerra foi vencida por Israel dois anos depois", diz Jonas Rabinovitch, que trabalhou como conselheiro-sênior da ONU por 30 anos em Nova York.
O advogado Flávio de Leão Bastos Pereira, professor da Univesidade Mackenzie e especialista em direitos humanos, aponta diversas incongruências no uso do termo genocídio pela Fiocruz.
"A reportagem associa as 'leis de Genebra' com a noção de 'genocídio', crime que não é tratado pelas mencionadas leis", diz Bastos Pereira. "Israel reagiu a um ataque, exercendo seu direito à legítima defesa com base no artigo 51 da Carta da ONU. Tanto o é que a Corte Internacional de Justiça (CIJ), no âmbito da ação proposta pela África do Sul contra Israel, não determinou a cessação dos ataques ao Hamas, na faixa de Gaza, apesar de ter sido tal suspensão pedida cautelarmente pela África do Sul. Entretanto, por se tratarem de crimes internacionais (crimes de guerra, genocídio, crimes contra a humanidade e crime de agressão), qualquer dessas figuras podem surgir quando das futuras investigações, de lado a lado. Afirmar, sem provas cabais, de que existia já um plano genocida para exterminar todo o povo palestino parece-me prematuro, já que a guerra foi iniciada pelo Hamas ao atacar Israel em 7 de outubro de 2023."
Segundo Jonas Rabinovitch, não se pode ignorar os esforços israelenses para evitar mortes de civis: "As Forças de Defesa de Israel, FDI, possuem procedimentos para proteger civis palestinos, fazendo ligações telefônicas e enviando mensagens de texto para civis que residem em prédios designados para ataque em Gaza. Segundo John Spencer, um especialista em guerra urbana, as IDF 'implementaram mais medidas para prevenir baixas civis do que qualquer outra nação na história' e seriam 'o padrão ouro para proteção de civis durante combate em áreas urbanas'”.
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Comentários (1)
cri
2024-11-01 16:48:43Esse tipo de atitude faz a Fiocruz, como instituição, perder credibilidade. Lamentável.