Marcos Oliveira/Agência SenadoO instante em que Mecias chega à urna: ele foi "absolvido" nas coxias do Senado

Exclusivo: o suspeito da fraude na eleição do Senado

20.02.19 17:43

Uma reportagem publicada na última edição de Crusoé mostrou que, na semana passada, havia seis senadores sob suspeita de ter fraudado a eleição para a presidência do Senado, em 2 de fevereiro, quando apareceram na urna 82 votos — um a mais que o total de votantes.

A apuração vem sendo conduzida pela Corregedoria do Senado, comandada pelo senador maranhense Roberto Rocha, do PSDB. Já nesta semana, Rocha anunciou que pediu ajuda à Polícia Federal para analisar vídeos e fotos do processo de votação, em busca de identificar o responsável por depositar dois votos na urna.

Crusoé teve acesso a uma parcela importante desse material, disponível nos arquivos do próprio Senado. As imagens apontam que, dos seis senadores cujo comportamento na votação vem merecendo atenção redobrada dos responsáveis pela investigação, há um suspeito principal.

Trata-se de Mecias de Jesus, do PRB, recém-eleito por Roraima.

A razão principal da suspeita está em uma foto feita pela equipe de comunicação do próprio Senado. E é baseada justamente no detalhe do papel que o senador insere na urna, pouco antes das 16h30 daquele sábado em que, sob os olhos do país, as excelências protagonizaram um show de horrores.

Ao seguir para a urna, cada senador deveria receber uma cédula de votação e um envelope para acondicioná-la. A cédula, em papel-cartão dobrado, tinha o brasão da República na frente. Seu verso era todo branco. O envelope, por sua vez, tinha o timbre do Senado em um dos lados e, do outro, a aba para fechamento.

A imagem mostra que, à diferença dos colegas, Mecias põe na urna um papel de superfície completamente lisa, e sem qualquer inscrição. Se fosse um envelope, como deveria, o papel tinha de ter ou a marca da aba ou uma parte do timbre do Senado. Como não tem, tudo leva a crer que ele depositou a cédula — ou as cédulas — diretamente na urna.

A fotografia é, neste momento, uma das evidências que tornam o senador Mecias de Jesus o principal suspeito. Outras ainda em fase de análise, como imagens em alta resolução feita por câmeras de televisão posicionadas no plenário, corroboram essa leitura.

Crusoé apurou que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, tem sido informado do passo a passo da apuração interna. A ideia, porém, é que primeiro a Polícia Federal analise todas as imagens e se manifeste para, só depois, anunciar a conclusão da investigação.

Nos bastidores, já se desenha uma articulação para, discutir, na sequência, se houve dolo e se a fraude mereceria a pena de cassação. Alguns senadores entendem que não. Outros defendem que deve haver punição exemplar.

Na tarde desta quarta-feira, Crusoé perguntou a Mecias de Jesus se foi ele o responsável por depositar os dois votos na urna. O senador, curiosamente, não negou. Mostrou-se incomodado com o assunto e disse que prefere esperar o resultado da apuração oficial. “Eu prefiro que deixe a Corregedoria apurar. Eles estão apurando e qualquer coisa que eu falar pode atrapalhar o que eles vão dizer”, afirmou.

Roberto Rocha, o corregedor, se esquivou ao ser indagado sobre o assunto. “Não temos conclusão”, disse.

Ex-deputado estadual por seis mandatos em Roraima, Mecias de Jesus ficou conhecido nacionalmente nas últimas eleições por ter tirado a vaga de Romero Jucá por apenas 426 votos.

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