Estapafúrdio plano de Trump para Gaza desagrada a todos, menos Netanyahu
A "arte da negociação" do presidente americano naufraga em seu primeiro teste no Oriente Médio
A proposta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para a Faixa de Gaza, é a mais esdrúxula já feita até agora.
Sem consultar outros líderes das potências mundiais e do Oriente Médio, o plano conseguiu desagradar a todos, com exceção do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu (na foto, com Trump).
O plano é tão simples quanto anacrônico: fala em tirar os palestinos do território, que passará a ser controlado pelos Estados Unidos.
“Temos uma oportunidade de fazer algo que pode ser fenomenal. E eu não quero ser fofo, não quero bancar uma de esperto, mas a Riviera do Oriente Médio, isso pode ser algo que pode ser tão — isso pode ser tão magnífico", disse Trump.
Deslocamento populacional
Seu maior problema é sugerir a remoção dos 2,2 milhões de palestinos que vivem no território.
Não há como deslocar toda essa população de uma área para outra, a menos que estejamos falando de um ditador como o soviético Josef Stalin ou da civilização inca.
Sem contar que a mera sugestão pega muito mal em termos de propaganda.
Netanyahu estava sendo acusado injustamente de genocídio, de querer exterminar a população palestina.
Agora, ele e Trump passarão a ser atacados por querer fazer limpeza étnica e deslocamento forçado de populações inteiras.
Egito e Jordânia
Trump sugeriu que Egito e Jordânia recebessem os palestinos, mas não consultou os governantes desses dois países.
Se eles estivessem dispostos a receber os palestinos, já teriam se prontificado a isso quando a guerra na Faixa de Gaza começou.
A Jordânia já enfrenta problemas demais com a população palestina.
No Egito, um país pobre, os palestinos são vistos como preguiçosos, dependentes de ajuda internacional e terroristas.
Nesses dois países árabes, o antissemitismo nunca se converteu em apoio aos palestinos — e Trump deveria saber disso.
Rejeição no Ocidente
Além de não conseguir aprovação no Oriente Médio, Trump não conseguirá a aprovação no Ocidente.
Os europeus não vão aceitar o controle americano da Faixa de Gaza.
A única entidade legítima para governar a Faixa de Gaza é a Autoridade Palestina, criada pelos Acordos de Oslo, em 1993, com apoio americano.
Nem sequer os americanos vão gostar da ideia.
Trump foi eleito com a promessa de retirar os Estados Unidos das guerras inúteis.
Mas o que ele fez nesta terça, 4, na Casa Branca, foi falar em botar soldados americanos em um atoleiro, sob a mira dos rifles dos terroristas do Hamas.
A "arte da negociação" de Trump funcionou ao obrigar o Canadá e o México a enviarem soldados para a fronteira americana com o objetivo de barrar a imigração ilegal e o tráfico de fentanil.
Mas o Oriente Médio sempre é mais complicado do que parece.
"Quem tem que cuidar de Gaza são os palestinos"
Em entrevistas para rádios mineiras, o presidente Lula criticou a proposta de Trump com ataques aos Estados Unidos.
"Os EUA participaram do incentivo a tudo que Israel fez na Faixa de Gaza. Então, não faz sentido se reunir com o presidente de Israel e dizer: 'nós vamos ocupar Gaza, vamos recuperar Gaza, vamos morar em Gaza.' E os palestinos vão para onde, onde vão viver? Qual o país deles?", afirmou o presidente.
"O que aconteceu em Gaza foi um genocídio, e eu sinceramente não sei se os Estados Unidos, que fazem parte de tudo isso, seriam o país para tentar cuidar de Gaza. Quem tem que cuidar de Gaza são os palestinos. O que eles precisam é ter uma reparação de tudo aquilo que foi destruído, para quem possam reconstruir suas casas, hospitais, escolas, e viver dignamente com respeito", disse Lula.
Repercussão mundial
Líderes internacionais foram rápidos em condenar a proposta do republicano. Diversos países também divulgaram notas oficiais sobre o assunto.
Em comunicado oficial, a Arábia Saudita, um dos principais aliados dos americanos na região, afirmou rejeitar qualquer tentativa de deslocamento dos palestinos de suas terras.
A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, disse que “a Faixa de Gaza pertence aos palestinos, e a expulsão seria inaceitável e contrária ao direito internacional”.
O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, David Lammy, disse: “Temos sido claros em nossa crença na solução de dois Estados. Os palestinos devem viver e prosperar em suas terras, em Gaza e na Cisjordânia”.
O presidente da Autoridade Palestinia, Mahmoud Abbas disse que “os palestinos não abrirão mão de sua terra, direitos e locais sagrados”. Sami Abu Zuhri, dirigente do Hamas, alertou que “nosso povo na Faixa de Gaza não permitirá que esses planos se concretizem”.
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