Entenda a polêmica proibição de visto para estudantes nos EUA
Rubio cancelou mais de 300 vistos – principalmente de estudantes – e orientou os consulados a monitorar com mais rigor suas atividades

As autoridades dos Estados Unidos anunciaram um endurecimento nas verificações para a concessão de vistos a estudantes estrangeiros, uma medida que também se aplica a participantes de programas de intercâmbio e professores visitantes.
Os cidadãos chineses estão entre os mais afetados por essa nova regulamentação, que impede, por tempo indeterminado, os consulados americanos de agendarem novos atendimentos para pedidos de visto.
O comunicado que implementa essa mudança foi enviado às embaixadas e consulados americanos ao redor do mundo na última terça-feira.
O secretário de Estado, Marco Rubio, instruiu essas missões diplomáticas a suspenderem, até novo aviso, o agendamento para vistos de estudante e intercâmbio.
A proposta envolve uma análise mais rigorosa das atividades em redes sociais dos candidatos, conforme reportado inicialmente pelo veículo online "Politico".
Os tipos de visto afetados incluem as categorias F, M e J, destinadas a estudantes e intercambistas além de professores visitantes internacionais. Os agendamentos já realizados continuarão válidos.
Revogar visto dos chineses
Na quarta-feira, Rubio reiterou que a administração americana pretende revogar os vistos de estudantes chineses já matriculados e endurecer as regras para futuros requerentes oriundos da República Popular da China.
Segundo a breve nota oficial, o Departamento de Estado trabalhará em conjunto com o Departamento de Segurança Interna para anular vistos de estudantes com vínculos com o Partido Comunista ou que estejam matriculados em áreas consideradas "críticas", como aquelas relacionadas à defesa e tecnologia.
A quantidade exata de estudantes impactados ainda não foi divulgada, assim como possíveis exceções à nova regra.
Harvard e outras universidades
Há duas semanas, o governo americano havia informado que a Universidade Harvard não poderia aceitar novos estudantes internacionais por tempo indeterminado.
Os alunos já inscritos foram instruídos a encontrar outra instituição imediatamente ou corriam o risco de perder suas permissões de permanência nos EUA. Contudo, essa ação foi temporariamente bloqueada por um tribunal.
A questão dos vistos estudantis está inserida em um contexto mais abrangente de tensões entre a administração federal e as universidades de elite.
O ex-presidente Trump acusou essas instituições de não combaterem adequadamente os ativismos pró-palestinos e o antissemitismo, além de estarem excessivamente ideologizadas à esquerda.
Em resposta a essas alegações, Washington cortou recentemente significativas quantias em financiamento federal para várias universidades da Ivy League. Muitas dessas instituições contavam com um aumento no número de estudantes internacionais para compensar as perdas financeiras ocasionadas pelos cortes.
As universidades americanas frequentemente dependem financeiramente dos estudantes estrangeiros, que pagam mensalidades mais altas do que os alunos locais.
Em diversas instituições nas áreas das ciências exatas, os estudantes internacionais já constituem a maioria do corpo discente. Em 2023, cerca de 1,3 milhão de estrangeiros obtiveram diplomas nos Estados Unidos.
Critérios obscuros
O Departamento de Estado tentou minimizar a gravidade da situação ao afirmar que a suspensão dos vistos faz parte de um cronograma "dinâmico" e normal, no qual o processamento pode ser adiado ou interrompido conforme a demanda.
A prioridade é garantir uma adequada verificação de segurança para assegurar que os candidatos não representem riscos para o país. Vale ressaltar que desde 2019 os requerentes já eram obrigados a fornecer informações sobre suas contas nas redes sociais.
No mês passado, Rubio cancelou mais de 300 vistos – principalmente relacionados a estudantes – e orientou os consulados a monitorarem com mais rigor as atividades desses indivíduos nas plataformas digitais.
Durante uma coletiva na última terça-feira, Tammy Bruce, porta-voz do Departamento de Estado, permaneceu vaga ao ser questionada sobre quais mudanças específicas seriam implementadas nas análises dos pedidos de visto e quais seriam os critérios adotados.
Ela apenas comentou que o foco é identificar quem merece estar no país e quem não merece. Revelar os métodos utilizados nas avaliações seria improdutivo.
Suspeita generalizada
O anúncio foi alvo de críticas por parte da comunidade acadêmica. A Association of International Educators (Nafsa) afirmou que essa abordagem coloca os estudantes estrangeiros sob suspeita generalizada.
Segundo a associação, esses alunos não representam uma ameaça; pelo contrário, são uma contribuição valiosa para o país.
A diretora da Nafsa declarou ao "Politico": "A ideia de que as embaixadas têm tempo e recursos para realizar tais investigações é problemática".
Há acusações segundo as quais o governo utiliza a questão do antissemitismo como pretexto para restringir a autonomia acadêmica e a liberdade de expressão.
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