'É necessário fazer um pacto político', defende professor da Unicamp
Com os atos do Sete de Setembro, o presidente Jair Bolsonaro acionou o “cronômetro” para o golpe e só um acordo político amplo, sem foco exclusivo na disputa de 2022, será capaz de detê-lo. A avaliação é do cientista social Marcos Nobre, professor de filosofia da Unicamp e presidente do Centro Brasileiro de Análise e...
Com os atos do Sete de Setembro, o presidente Jair Bolsonaro acionou o “cronômetro” para o golpe e só um acordo político amplo, sem foco exclusivo na disputa de 2022, será capaz de detê-lo. A avaliação é do cientista social Marcos Nobre, professor de filosofia da Unicamp e presidente do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. Em entrevista a Crusoé, Nobre defendeu a realização de grandes atos populares contra o presidente da República, mas lembrou que o campo democrático precisa se articular. A falta de foco, diz ele, favorece o capitão da reserva. “Pessoas que se detestam têm que se sentar à mesma mesa, porque tem uma coisa mais grave acontecendo. E nessa hora, não se pode brincar.”
De que forma as pretensões eleitorais para 2022 inviabilizam o fator “povo nas ruas”, indispensável ao afastamento de Bolsonaro?
É necessário fazer um pacto político. É muito simples: cada força política sai na eleição de 2022 com a candidatura que quiser, e, se não for possível o impeachment, todo mundo apoia quem passar para o segundo turno contra o Bolsonaro, se ele passar. Qual a vantagem de fazer um acordo pelo impeachment já? É porque o mesmo acordo pelo impeachment serve como um acordo com efeito eleitoral, que é também o mesmo acordo que vai impedir o golpe. Porque ninguém dá golpe com três quartos dos brasileiros organizados em defesa da democracia. Não dá. Ele só pode dar golpe se a minoria aguerrida encontrar do outro lado um campo desorganizado. É o único jeito. É isso que falta. O impeachment é a primeira pauta. Se não der impeachment, (que haja) acordo eleitoral para o segundo turno e acordo para impedir o golpe.
Mas o PT parece estar fora desse acordo desde já e se recusa a participar até mesmo das manifestações deste domingo, 12.
O problema da manifestação é bem mais profundo, porque tem um racha das forças que organizaram a manifestação. O deputado Marcelo Van Hattem (do Partido Novo) está dizendo que querem transformar o ato em um “Volta, Lula”, o que evidentemente é um absurdo. Mas tem um racha interno. E a que se deve isso? É preciso analisar a manifestação. Ela não nasceu como uma manifestação política em defesa da democracia. Ela nasceu como uma manifestação eleitoral, porque o chamado era “nem Bolsonaro, nem Lula”. Então, é evidente que o chamamento era eleitoral. Se misturar pacto político com eleição, vai dar errado. Quando você tenta fazer isso, tem um custo e o custo é mostrar a desorganização. Para que haja uma manifestação que seja política, em defesa da democracia e pelo “Fora, Bolsonaro”, ela precisa ser organizada de saída com esse objetivo. E, mais ainda, precisa de tempo. Por isso, o dia 15 de novembro parece ser muito mais razoável. O Sete de Setembro bolsonarista começou a ser organizado dois meses antes. Democracia não é todo mundo abraçado, dizendo eu te amo. Democracia é cada pessoa levar o cartaz que quiser, não significa que todo mundo tem que concordar. Muito menos que tem que ter a mesma candidatura. Frente ampla do ponto de vista eleitoral não significa candidatura única. Significa pacto contra Bolsonaro no segundo turno. Mas esse pacto tem que ser celebrado na busca pelo impeachment. Senão, não vai dar certo.
Então não importa quem esteja na organização desses atos, desde que eles surjam sem intuito eleitoral?
Não importa, mas tem que ser uma articulação ampla. E pessoas que se detestam têm que se sentar à mesma mesa, porque tem uma coisa mais grave acontecendo. E nessa hora, não se pode brincar.
O sr. vinha afirmando que o Sete de Setembro seria uma preparação para o golpe. Acredita que o presidente deu um passo em direção a suas pretensões antidemocráticas?
O Sete de Setembro significou o acionamento do cronômetro do golpe. Bolsonaro está preparando essa bomba do golpe há muito tempo, mas ele ligou a contagem regressiva no Sete de Setembro. Foi só o começo, o ponto de partida para uma série de atos golpistas que vão ocorrer até o ano que vem. Nós temos que nos preparar para uma maratona, não é para uma corrida de 100 metros rasos. O que vamos enfrentar não é para velocista. No sentido de ensaio, foi bem-feito.
Que apoio Bolsonaro teria hoje para dar um golpe?
Ele tem o apoio de um quarto da população. Não digo que um quarto da população é autoritária, mas pelo menos algo como metade disso é. Ele tem uma máquina de desinformação e de propaganda muito poderosa, tem apoio em forças de segurança armadas, tem a Presidência da República e está blindado pelo PGR e pelo presidente da Câmara, fora todos os órgãos que já aparelhou. Então, é muito poderoso. E, do outro lado, existe um descompasso. O campo democrático, perto do projeto bolsonarista, está completamente desarticulado.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (10)
JOSE
2021-09-13 16:13:04Crusoé foi censurada pela xandão e luto bravamente pelo seu direito de expressão. Isto já era. Agora se acovarda frente ao msm ministro e só pensa em derrubar o bozo. Nem que pra isto tenha que se juntar ao professorzinho vermelho da unicamp. Lamentável.
Takaiuki
2021-09-13 00:34:14Crusoe queria voltar a ser uma imprensa séria. Pena que esta esquerdalha se agarrou na Crusoe. Entendo que sofreu com o STF e fez a opção de não atacar para não ser fechado e preso. Agora é a oportunidade de recuar e dar um pinta pé na esquerdalha que só enxerga uma reta e não sabe o que tem na curva, isto é passa direto. Então Crusoe vai com o Bolsonaro porque a grande maioria dos assinantes é conservador
Marco
2021-09-12 20:11:52No meu entendimento o Bolsonaro tem essa máquina descrita, Lula tem o STF e boa parte da imprensa, ou seja: 2 péssimas escolhas. Precisamos convencer o MORO virar candidato e darmos o máximo de apoio. Moro 22
LUCIANO
2021-09-12 11:25:10A forma mais efetiva de se buscar uma união seria Lula desistir de sua candidatura. Ele é o grande elemento de rejeição. Sem ele na disputa, o ambiente pró-união contra Bolsonaro seria automático.
Leda
2021-09-12 05:54:18A coisa é mesmo séria. vou hoje no FORA BOLSONARO como fui nas outras. Mas concordo com a desorganização de quem defende a democracia. E que tem que sair às ruas contra Bolsonaro independentemente do voto eleitoral. É hora das pessoas se unirem . Ainda torço pelo Impeachment. Mas se não conseguirem, que os 3/4 saiam às ruas pelo FORA BOLSONARO.
Edmundo
2021-09-12 00:43:52Ou faz ou muito gente vai preso né mestre!
Carlos
2021-09-11 23:31:09essa revistinha só traz gente da esquerda. Crusoé precisa entrevistar pessoas sérias e bem intencionadas. aliás precisa ter mais respeito com os leitores.
Jaime
2021-09-11 21:45:45Meu desinteresse pelo artigo surgiu quando informararam tratar-se de uma cara de Humanas. Esse povo já entra na Faculdade com a carteirinha do PT em mãos.
Globolixo
2021-09-11 20:49:51Professozinho da Unicamp ! Ridículo! Bolsonaro e muito além da sua imaginação! Bolso 22 e um dos homens mais inteligentes desta terra! Está enfrentando grande corporações, gente da imprensa e das universidades da pior qualidade! Fechou a torneira da corrupção ! Cortou as pernas dos parasitas. Merece uma estátua! No Brasil inteiro
Nyco
2021-09-11 20:26:37Professor de filosofia? ... Via de regra, são todos esquerdopatas, gramsciânus, que temem perder suas boquinhas junto às reitorias aparelhadas pela esquerda. Agora estão com medo do bicho papão?