Com Raisi presidente, Irã prepara a transição de poder
O aiatolá Ali Khamenei (foto), líder supremo do Irã, está com 82 anos. Operado de câncer de próstata em 2014, ele é constantemente assunto de reportagens sobre seu precário estado de saúde, embora quase nada seja divulgado ao público. Para evitar que se abra um vácuo político, a teocracia colocou em marcha os preparativos para...
O aiatolá Ali Khamenei (foto), líder supremo do Irã, está com 82 anos. Operado de câncer de próstata em 2014, ele é constantemente assunto de reportagens sobre seu precário estado de saúde, embora quase nada seja divulgado ao público.
Para evitar que se abra um vácuo político, a teocracia colocou em marcha os preparativos para assegurar a transição de poder no país. Outra grande preocupação é com possíveis manifestações.
"É importante para o regime que essa transição ocorra da maneira mais pacífica possível. Nos últimos anos, protestos contra o regime e contra as políticas econômicas chacoalharam o país e prejudicaram a autoridade do regime. Por isso, eles querem tomar todas as medidas para evitar novas manifestações", diz o americano Tzvi Khan, pesquisador da Fundação para a Defesa das Democracias, em Washington.
No final de 2019, iranianos foram às ruas em 21 cidades contra um aumento no preço da gasolina. Sem demora, eles começaram a pedir o fim da Revolução Islâmica. A repressão governamental, com franco-atiradores disparando do topo de edifícios, deixou mais de 100 mortos. É esse o cenário que os aiatolás querem evitar.
Em 1989, não havia nenhum nome evidente para suceder o aiatolá Khomeini, que comandou a Revolução Islâmica de 1979. A constituição exigia que o líder supremo fosse um aiatolá, que deveria ser aprovado pela Assembleia dos Especialistas. Entre os possíveis candidatos, alguns usavam o turbante branco, o que reduzia suas chances. Na tradição xiita, que valoriza os laços sanguíneos, a preferência recai sobre aqueles chamados de seyed, que usam turbante preto e são considerados descendentes de Maomé.
Em abril daquele ano, o regime realizou uma reforma na Constituição para retirar a exigência de que o líder supremo fosse um aiatolá. Assim, quando Khomeini morreu logo depois, em junho, não havia mais barreiras para Ali Khamenei tomar seu lugar. Khamenei é um seyed, com turbante preto, mas seu cargo na hierarquia religiosa era de hojjatoleslam, um abaixo do de aiatolá. Áquela época, ele já tinha provado sua lealdade ao regime, ao governar como presidente.
Desta vez, um processo muito semelhante deve ocorrer. Para preparar sua sucessão, Ali Khamenei abriu caminho para que o clérigo Ebrahim Raisi se tornasse o próximo presidente. Ele venceu as eleições desta sexta-feira, 18, com 61% dos votos. Com isso, Raisi, de turbante preto, reunirá as mesmas características que Khamenei tinha quando ganhou o cargo, em 1989.
Ao preparar a sucessão da maneira mais previsível possível, repetindo o passado, a teocracia quer evitar surpresas.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (2)
Aguiar
2021-06-21 09:20:19Um dos resquícios da teocracia.
Francisc
2021-06-20 19:48:15Coitados. O fim será trágico.