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Com aval de Aras e sem procuração, Wassef foi à PGR tratar de assuntos da JBS

Sem procuração, o advogado Frederick Wassef visitou a Procuradoria-Geral da República no fim do ano passado para tratar de assuntos de interesse da JBS. Um dado torna o episódio ainda mais interessante: a visita, informal, foi intermediada pelo gabinete do próprio PGR, Augusto Aras, com quem Wassef havia se reunido tempos antes. Ante o caráter...

Crusoé
5 minutos de leitura 20.08.2020 00:39 comentários 10
Frederick Wassef

Sem procuração, o advogado Frederick Wassef visitou a Procuradoria-Geral da República no fim do ano passado para tratar de assuntos de interesse da JBS. Um dado torna o episódio ainda mais interessante: a visita, informal, foi intermediada pelo gabinete do próprio PGR, Augusto Aras, com quem Wassef havia se reunido tempos antes.

Ante o caráter atípico da situação, a visita acabou em constrangimento: indagado pelos procuradores que o receberam se tinha em mãos uma procuração que o autorizasse a falar em nome da companhia, Wassef disse que não, e a reunião foi prontamente encerrada.

Crusoé confirmou o encontro com fontes primárias que lidaram diretamente com o assunto.

Frederick Wassef queria falar sobre temas da JBS com procuradores do grupo de trabalho da Lava Jato na PGR. Coube ao gabinete de Aras encaminhá-lo para uma audiência com o procurador Adonis Callou de Araújo Sá, então coordenador da equipe, que toca os inquéritos e processos relacionados à operação na Procuradoria-Geral.

Adonis Callou recebeu o advogado na companhia de uma colega procuradora, Maria Clara Noleto, que também integrava o grupo de trabalho da Lava Jato na PGR. Wassef de pronto disse que gostaria de conversar sobre a repactuação do acordo de delação premiada da JBS. Àquela altura, a companhia tentava convencer a PGR a desistir de pedir, junto ao Supremo Tribunal Federal, a rescisão do acordo, firmado ainda na gestão de Rodrigo Janot. Esse é um assunto bastante caro para os irmãos Joesley e Wesley Batista. A rescisão, que deve ser julgada em breve pela corte, pode representar a volta deles para a cadeia.

Tão logo Wassef disse sobre qual assunto gostaria de tratar, Callou perguntou se ele era advogado da JBS. Ante a resposta positiva, o procurador quis saber então se o advogado possuía uma procuração da empresa. Wassef até tentou desconversar. Disse que ainda não tinha o documento em mãos, mas que brevemente poderia apresentá-lo. Não funcionou. Nem mesmo o encaminhamento feito pelo gabinete de Augusto Aras foi suficiente para desanuviar o ambiente. Sem meias palavras, Adonis Callou disse que, sem procuração, não haveria conversa. O encontro terminou ali mesmo, conforme o relato feito a Crusoé por um dos personagens presentes.

O episódio é revestido de uma dose relevante de gravidade: na prática, Wassef, autodeclarado advogado de Jair Bolsonaro, estava operando nos bastidores da PGR em favor da JBS com o aval do gabinete de Augusto Aras, escolhido para o cargo pelo presidente da República.

Nesta quarta-feira,19, Crusoé revelou que Frederick Wassef recebeu 9 milhões de reais da JBS entre 2015 e este ano. A informação consta de documentos obtidos pelos promotores do Ministério Público do Rio de Janeiro que investigam a relação de Wassef com Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro e amigo do presidente da República.

Adonis Callou não duraria muito tempo mais à frente do grupo de trabalho da Lava Jato na PGR. Em janeiro, ele pediu para deixar o posto, em razão de divergências com Augusto Aras. Callou alegou falta de autonomia para atuar. Para o lugar dele o PGR chamou a também subprocuradora-geral Lindôra Araújo, que tempos depois entraria em rota de colisão com as forças-tarefas da Lava Jato.

Outra participante da reunião com Wassef, a procuradora Maria Clara Noleto também deixaria o grupo de trabalho meses depois, em meio a uma debandada geral, também por divergências com o gabinete de Augusto Aras -- além dela, outros três integrantes pediram para sair.

Crusoé perguntou à Procuradoria-Geral da República se Frederick Wassef se reuniu nos últimos meses com integrantes do órgão. Com Augusto Aras, informou o gabinete, o advogado esteve reunido logo após a posse do PGR, para uma “visita de cortesia”.

Quanto a eventuais encontros com os subprocuradores-gerais da República, a resposta da Secretaria de Comunicação da Procuradoria foi a seguinte: “Sobre os demais 74 subprocuradores-gerais da República, a Secom informa que não é responsável pela agenda deles, sendo impossível obter as informações principalmente em meio à pandemia - já que estão quase todos em teletrabalho”.

Responsável por conduzir as tratativas com a companhia, a subprocuradora Lindôra Araújo afirmou a Crusoé que não conhece Frederick Wassef.

A história da visita de Wassef ao grupo de trabalho da Lava Jato por encaminhamento do gabinete de Aras mostra uma mistura complicada, capaz de render outros embaraços para os envolvidos: enquanto recebia milhões da JBS, e mesmo sem estar habilitado oficialmente nos autos, o advogado usava de sua influência para obter vantagens para a companhia nos gabinetes de Brasília. Isso é explosivo.


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Comentários (10)

FRANCISCO

2020-08-20 17:15:14

Entenderam agora por que o Procurador Geral do Bolsonaro quer os dados da Lava Jato? Para uma inteligência mediana, não é tão estranho e absurdo, pelo contrário, é tudo muito claro... Pátria Magra Brasil!


Paulo

2020-08-20 14:47:28

Sigam os 9.000.000,00. Pra onde ele foi!!


MARCOS

2020-08-20 14:36:55

A pizza está quase pronta para ir ao forno.


Carlos

2020-08-20 13:57:02

Tudo muito podre! A falta de caráter, de honestidade e espírito republicano está enraizada em todos os poderes da república. Pobre país farto em riquezas naturais e com um povo com graves falhas de formação moral!


Maria

2020-08-20 13:00:25

É aquela história.. você compraria um carro usado desse cara?


Luiz

2020-08-20 12:57:06

A A vai ter uma grande promoção vai juntar aos notáveis que nao gostam de honestidade


DAISY

2020-08-20 12:56:02

Fica assim comprovado o despreparo do PGR para a função. Não esquecendo que ele deveria estar conduzindo, no momento, aquele inquérito sobre a intenção de Bolsonaro de aparelhar a PF. Não deveria, portanto, produzir provas de que a aparelhamento também inclui seu próprio cargo...


Luiz

2020-08-20 12:55:18

Augusto Aras, serapromovido


Heloisa

2020-08-20 12:52:59

Não precisa ser um Perdigueiro para perceber o odor característico de corrupção vindo da visita do “anjo “ à PGR ( outro “anjo “ a espera de um assento pomposo no STF) , em nome da JBS SEM procuração , mas como é mui amigo do Messias, fica tudo azul celestial .


Agnaldo

2020-08-20 12:35:33

Reportagem tão boa que tive a impressão de estar lendo a edição da semana, depois vi que hoje é quinta feira. Esse Aras é tão incapaz que até seus "malfeitos" parecem de amadores. Dilma ganha de lavada.


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