Cármen vota pela suspensão da produção de dossiês pelo Ministério da Justiça
A ministra Cármen Lúcia (foto), do Supremo Tribunal Federal, votou nesta quarta-feira, 19, pela imposição de limites à atividade de inteligência do Ministério da Justiça e Segurança Pública. O julgamento foi interrompido devido ao avançar da hora e deve ser retomado nesta quinta-feira, 20. De acordo com o voto de Cármen, o ministério deve suspender...
A ministra Cármen Lúcia (foto), do Supremo Tribunal Federal, votou nesta quarta-feira, 19, pela imposição de limites à atividade de inteligência do Ministério da Justiça e Segurança Pública. O julgamento foi interrompido devido ao avançar da hora e deve ser retomado nesta quinta-feira, 20.
De acordo com o voto de Cármen, o ministério deve suspender todo e qualquer ato "de produção ou compartilhamento de informações sobre a vida pessoal, escolhas pessoais e políticas e práticas cívicas de cidadãos, servidores públicos federais, estaduais e municipais identificados como integrantes do movimento político antifascista, professores universitários e quaisquer outros que, atuando nos limites da legalidade, exerçam seus direitos de expressar-se, reunir-se e associar-se".
A discussão ocorre no âmbito de uma ação ajuizada pela Rede Sustentabilidade contra um "dossiê" sobre 579 policiais e professores identificados como integrantes do "movimento antifascista". O documento foi revelado pelo portal UOL. Os demais 10 ministros do plenário do STF ainda não se manifestaram.
Em um voto duro, Cármen Lúcia lamentou que a produção de relatórios sobre opositores do governo seja tema de discussão em meio ao período democrático. "O proceder de dossiês, pastas, relatórios e informes sobre a vida pessoal dos cidadãos brasileiros não é novo no nosso país, e não é menos triste termos que voltar a esse assunto quando já se acreditava que era uma face mais negra da nossa história", afirmou.
Para a ministra, o processo deve seguir em razão das lacunas deixadas pelas respostas do Ministério da Justiça. De acordo com Cármen Lúcia, nos documentos entregues ao STF, o titular da pasta, André Mendonça, não declarou abertamente que não existem os dados indicados na ação.
"Alegam o autor e o amicus curiae que estaria havendo investigação, dossiê, relatório, relato ou informe sobre a vida pessoal de alguns indivíduos em razão de suas posições ideológicas. A pergunta é simples: existe ou não existe? Se existe e estiver fora dos limites constitucionais, isto é lesão a preceitos fundamentais. Se não existe, bastaria dizer que não existe. Mas como eu li para os senhores, na data de ontem, o que recebi foi o esclarecimento muito sincero do ministro da Justiça: 'O ministro não solicitou qualquer relatório, só tendo conhecimento de sua possível existência pela imprensa'".
E acrescentou: "Se não há dossiê, do que estamos falando em matéria de apuração administrativa que levou a afastamento de servidor?", questionou, referindo-se à retirada do coronel Gilson Libório de Oliveira Mendes do órgão de Inteligência vinculado ao ministério e à instauração de uma sindicância interna para apurar o caso.
Na concepção da ministra, a produção de dossiês configura-se desvio de finalidade. "Nem a órgão estatal, nem sequer a particulares compete fazer dossiês contra quem quer que seja, nem instaurar procedimentos de cunho inquisitorial", declarou.
No início da sessão desta quarta, a Advocacia-Geral da União e a Procuradoria Geral da República pediram a rejeição das cautelares. Na sustentação, Augusto Aras afirmou que o "dossiê", na verdade, trata-se de uma compilação de dados e informações extraídas de fontes abertas, como Instagram, Facebook, Youtube e manifestos publicados nas redes sociais.
Para o PGR, portanto, os relatórios de inteligência não invadiram a privacidade de brasileiros. “As listas com os nomes dos policiais foram obtidas a partir do cruzamento de dados dos manifestos, ou seja, manifestações político-sociais que se exteriorizam de maneira ostensiva por meio da subscrição de inúmeras pessoas, nas redes sociais”, pontuou.
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Comentários (10)
Gilda
2020-08-20 10:32:33Meu Deus ! Será que ela não faz parte do STF? Será que não enxerga que pior que isso está sendo feito pelo órgão a que pertence através de um dos seus ministros com o consenso silencioso de todos os demais ao cercear a liberdade de expressão de uma parcela significativa da sociedade? Será que não vê que nesse caso em pauta trata=se de um chefe querendo saber sobre o comportamento funcional de seus subordinados, o que pode implicar em desvios do serviço direcionado? Dio mio, até quando?
César
2020-08-20 09:17:19O AGU e o PGR ser apenas uma lista com intuito de segurança, que não seria usada para vigiar e nem perseguir nenhum funcionário público. A pergunta que não vi/ouvi ninguém fazer: o ministro da justiça mandou fazer também um dossiê dos funcionários públicos, policiais e professores que participaram das manifestações pedindo o fechamento do STF e do Congresso ou apenas dos anti-bolsonaros.
Kluk
2020-08-20 08:26:15Carmem... se você não fosse hipócrita, teria dado o seu voto então pela extinção do inquérito ilegal das Fake News instaurado pelo Dias Tófolli ex-advogado do PT e pelo Alexandre de Moraes ex-advogado num escritório que defendeu empresa de transporte acusada de lavar dinheiro do PCC. O inquérito usou dossie feito por Luciano Ayan do MBL e alvejou as pessoas apontadas nele. Um cara que nem é da estrutura do governo então pode ? Vocês do STF são ridículos e nefastos.
CARLOS
2020-08-20 05:09:01O STF já é de uma indigência jurídica quase inacreditável, imagina quando mais dois capachos do poder de turno forem nomeados. Não nos emganemos, os dois contendores no leilão das novas vagas do STF servirão a qualquer mestre que se aninhe no Planalto.
Alberto
2020-08-19 22:03:57Essa ministra é digna de pena. Como presidente do STF foi muito mal e agora segue como sempre no.mesmo diapasão: ruim! Enquanto o cabeça de ovo manda confiscar opiniões a favor do governo, essa sra ministra diz que não se pode tolher opiniões de qq pessoa que se manifeste contra o governo. Eh ai? Opiniões contra o governo poooooode, mas a favor não poooooode! Eu hein...me poupem, vai!
Nelzimar
2020-08-19 20:19:07Parabéns, Carmen Lúcia! Não se pode admitir que pessoas sejam investigados por cunho político.
Pedro
2020-08-19 20:17:56Na fatídica reunião Ministerial de 22 de abril, Bolsonaro falou com toda clareza porque precisava controlar a Polícia Federal e que se isso não fosse possível, trocaria o Ministro. SERGIO MORO, que se recusava a cumprir ordens ilegais ou imorais, deixou o governo. Em seu lugar, Bolsonaro nomeou André Mendonça, o fiel cumpridor de ordens. Parabéns Ministra Carmem Lúcia! O STF não pode abdicar do papel de guardião da Constituição e da Ordem Republicana.
Miriam
2020-08-19 20:07:26Parabéns, Carmem Lúcia! Belo pronunciamento!
Marina
2020-08-19 19:46:14Que vexame! Sujeito moleque! Ainda precisa que outras autoridades venham dizer pra parar? Gente ralé!
Irene
2020-08-19 19:25:51Muito bem Sra Ministra!