Bullying internacional de Trump volta-se contra o Panamá
Presidente eleito disse que poderá exigir devolução do Canal "na íntegra e sem questionamentos"
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump (foto), ameaçou tomar de volta o Canal do Panamá, que desde 1999 pertence ao Panamá.
Não há como os Estados Unidos recuperarem o canal, a não ser por meio de uma guerra.
Trump tem o costume de fazer provocações que desconsideram a soberania de outros países.
Em seu primeiro mandato, ainda em 2019, ele falou em comprar a Groenlândia da Dinamarca.
Em meados de dezembro, chamou o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau de "governador".
Também afirmou que o Canadá poderia se tornar o 51º estado americano.
O escolhido da vez agora é o Panamá.
Devolução na íntegra
Na noite de sábado, 21, Trump divulgou mensagens sobre o Canal do Panamá, que ele chamou de "ativo nacional vital para os Estados Unidos".
"O Canal do Panamá é considerado um ativo nacional vital para os Estados Unidos, devido ao seu papel crítico para a economia e a segurança nacional dos Estados Unidos. Um Canal do Panamá seguro é crucial para o comércio americano e para o rápido deslocamento da Marinha, do Atlântico ao Pacífico, e reduz drasticamente o tempo de envio para os portos dos Estados Unidos", escreveu Trump.
"Considerado uma das Maravilhas do Mundo Moderno, o Canal do Panamá foi inaugurado há 110 anos e foi construído com um custo enorme para os Estados Unidos em vidas e tesouros — 38 mil homens americanos morreram de mosquitos infectados nas selvas durante a construção. Teddy Roosevelt era presidente dos Estados Unidos na época de sua construção e compreendia a força do poder naval e do comércio. Quando o presidente Jimmy Carter o deu tolamente, por um dólar, durante o seu mandato, coube exclusivamente ao Panamá gerir, e não à China, ou a qualquer outra pessoa. Da mesma forma, não foi permitido ao Panamá cobrar dos Estados Unidos, de sua Marinha e das corporações que fazem negócios dentro de nosso país preços e taxas de passagem exorbitantes. Nossa Marinha e Comércio têm sido tratados de forma muito injusta e imprudente. As taxas cobradas pelo Panamá são ridículas, especialmente tendo em conta a extraordinária generosidade que foi concedida ao Panamá pelos EUA. Este roubo completo do nosso país irá parar imediatamente", escreveu Trump.
O presidente eleito também afirmou que, “se os princípios, tanto morais como legais, deste gesto magnânimo de doação não forem seguidos, então exigiremos que o Canal do Panamá nos seja devolvido, na íntegra e sem questionamentos”, disse Trump.
Reação panamenha
O presidente do Panamá, Jose Raúl Mulino, reagiu nas redes sociais com um vídeo: "Cada metro quadrado do Canal do Panamá e de sua zona adjacente é do Panamá e continuará sendo. A soberania e a independência do nosso país não são negociáveis".
Os tratados assinados por mais de 40 países sobre o funcionamento do Canal estabelecem que seja mantido uma neutralidade permanente.
O Panamá não pode, portanto, tomar partido em conflito algum no mundo, favorecendo um ou outro país.
O canal é administrado por uma empresa com sede em Hong Kong, a CK Hutchinson Holdings, que não está sob o controle da China.
"O canal não tem controle direto ou indireto nem da China, nem da Comunidade Europeia, nem dos Estados Unidos ou de qualquer outra potência", afirmou o presidente Mulino.
Presença chinesa
O que Trump está buscando com mais esse bullying internacional é algo difícil de entender.
Uma possibilidade é que o presidente eleito tenha sido alertado sobre o aumento da presença chinesa no Canal, e esteja pensando em fazer alguma coisa sobre isso, embora não tenha ideia do que poderia ser feito.
Empresas chinesas venceram vários contratos de logística e de infraestrutura no Canal nos últimos anos, incluindo portos nos dois oceanos.
A ampliação do Canal do Panamá para comportar navios maiores está sendo feita pela CCCC, a China Communications Construction Company.
Ameaçar a soberania do Canal do Panamá, contudo, não mudará o curso dos acontecimentos.
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