Sheriff's Office via Wikimedia Commons

Após 25 anos, Columbine virou “modelo de exportação” de massacre em escolas

20.04.24 07:47

Às 11h19 do dia 20 de abril de 1999, dois estudantes americanos do estado do Colorado decidiram dar fim a anos de preconceito por bullying, crises psicológicas e depressivas com um ato contra o próprio colégio em que estudavam, na pequena cidade de Columbine. Em 49 minutos, o tiroteio contra colegas de classe, professores e policiais protagonizado pelos dois se tornou em um trauma não tratado na psique americana um quarto de século depois. Nos últimos anos, passou a ser uma realidade também no Brasil.

Inspirados no ataque de Oklahoma City (o mais mortal ataque terrorista nos EUA antes do 11 de Setembro), a dupla de 17 e 18 anos montou bombas para explodir a escola— mas, quando estas falharam, a dupla partiu para matar 13 pessoas com uma rajada de tiros, antes de cometer suicídio. “Eles não se importavam quem era, só se estava perto e quem estava à queima-roupa”, disse uma das sobreviventes à TV no dia do massacre. Jovens no pátio, no corredor e na biblioteca da escola foram vítimas aleatórias.

O massacre de Columbine, como ficou conhecido, não foi o primeiro no país —há registros de mortes por armas de fogo em escolas por lá desde 1840. Foi com o caso na virada do milênio, no entanto, que uma série de questões coincidiram no mais mortal ataque em escolas americanas até então.

O acesso às armas por menores de idade, em um país que se orgulha de sua segunda emenda permitindo o livre acesso a armamentos, é discutido a cada massacre, mas jamais coibido totalmente. A cada caso, a segurança de escolas é reforçada, e o treinamento de policiais é discutido de maneira local.

Todas estas medidas, no entanto, não impediram que o número de tiroteios e escolas nos EUA alcançassem o maior número de incidentes em 2023, de acordo com a base de dados K-12 Shooting Database. No ano passado, foram registrados 348 casos, com 249 vítimas (71 delas fatais). 

Alguns registros neste período são ainda mais lembrados que o de Columbine, como o caso de Sandy Hook, em Connecticut. Em dezembro de 2012, um homem de 20 anos invadiu a escola infantil da cidade e atirou indiscriminadamente com uma metralhadora, atingindo 26 vítimas — a maior parte delas, crianças entre seis e sete anos. A barbárie do caso levou o então presidente Barack Obama a chorar em público durante uma coletiva sobre o caso, e a uma pressão sobre uma maior regulação sobre a venda de rifles automáticas à população, que jamais rendeu frutos.

No submundo da internet

Outro ponto do massacre de Columbine jamais tratado corretamente após 25 anos ocorre bem antes de alguém entrar em uma escola com uma arma. Nem ocorre em um ambiente físico, mas sim virtual.

Em chats e fóruns de discussão, o nome dos dois atiradores de 1999 ainda são lembrados e, de alguma maneira torta, reverenciados por suas ações. Jovens com problemas de relacionamento ou se sentindo isolados socialmente em suas escolas —fenômeno comum na idade— encontram nestes locais de ideias extremistas uma câmara de eco para seus pensamentos de ódio contra colegas de classe, e aprendem a idolatrar nomes que tomaram a vingança violenta em suas próprias mãos.

Para este grupo, a maior parte destes homens são “mártires”, que se mataram após cometer atos indizíveis. Há alvos prioritários do ódio desse grupo (hoje, mulheres e homossexuais). Uma música da banda americana Foster The People, que fala sobre “todas as crianças/ com os tênis caros / devem correr mais rápida que minha bala”virou uma espécie de hino informal dessa ideologia.

Após décadas relegada ao noticiário internacional, a cultura de massacres em escolas passou a integrar a realidade brasileira. O primeiro grande caso ocorreu em uma escola no bairro carioca de Realengo, em 2011, com 12 mortes em sala de aula seguida do suicídio do atirador. Em 2019, dois atiradores fizeram oito vítimas em uma escola em Suzano, na grande São Paulo.

Em um dos mais casos mais repugnantes, um homem de 18 anos matou duas professoras e três crianças, com menos de dois anos, com uma espada em Santa Catarina. Ele — que se mantém vivo — foi condenado a 329 anos de prisão pela ação.

“Ele [o assassino] começou a ter contato com muitos materiais e ideias violentas, com pessoas sentimentos e pensamentos ruins”, disse o delegado responsável pelo caso, Jerônimo Marçal Ferreira, após ele ter seu depoimento tomado. “Tinha acesso a muito conteúdo inapropriado e contato com pessoas que pensavam como ele. Começou a alimentar este ódio a ponto de querer descarregar em alguém. Não era alguém específico…era um ódio generalizado”. Que, sem o controle de pais e da sociedade, pode estar borbulhando neste exato momento.

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  1. E o grande MITO e seus fãs acham que o Brasil precisa liberar as armas para toda a população. Eles desconhecem ou ignoram fatos como esses que aconteceram nas escolas. Antes aconteciam somente nos EUA, mas a moda chegou aqui e só tende a aumentar.

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