A cocada do general

Os gastos do presidente dos Correios, general Floriano Peixoto, têm provocado indignação entre funcionários que trabalham no setor de ressarcimento de despesas da estatal. Com salário bruto de 46,7 mil reais, Peixoto tem recorrido ao caixa da empresa para custear viagens caras e contas comezinhas do dia a dia. A lista inclui “petit gateau” e “cocada mole“.

Indicado por Jair Bolsonaro, Peixoto assumiu a presidência dos Correios em junho de 2019 com a missão de sanear as contas da empresa pública e conduzi-la a um processo de privatização. Logo ao assumir, o general elevou de 3,9 para 8,5 milhões de reais (117,95%) as despesas da empresa com o pagamento de salários e outras vantagens a seus dirigentes — incluindo ele próprio.

As viagens internacionais perfazem outra despesa relevante da diretoria. Onze dirigentes Correios, Floriano Peixoto entre eles, receberam um total de 254,4 mil reais apenas com diárias diárias internacionais para participar de eventos na Suíça, Portugal, Uruguai e Angola.

Quando foi anunciado por Jair Bolsonaro para o comando dos Correios, em junho de 2019, Peixoto integrava o primeiro time da chamada ala militar do Palácio do Planalto. Era ministro da Secretaria-Geral da Presidência. Ele recebeu a nova missão com satisfação. “Presidir os Correios me enche de satisfação, pelo grau de confiança do presidente“, declarou na ocasião.

O general anunciou que trabalharia para fortalecer os indicadores financeiros dos Correios. “Como isso acontecerá, cabe ao presidente da República. Minha missão é continuar a desenvolver a empresa.”

A prometida privatização da estatal nunca deslanchou. E, pior, os velhos costumes do serviço público passaram a ficar ainda mais vistosos dentro de uma estrutura que, na verdade, deveria estar sendo enxugada.

Internamente, Peixoto agora é visto como motivo de chacota devido ao aumento de gastos. O cardápio do general, em especial, tem chamado atenção.

Às 14h02 de 29 de dezembro, antevéspera de Ano Novo, uma nota fiscal foi emitida em nome do general em um conhecido restaurante de Brasília especializado em frutos do mar. Além do buffet para duas pessoas, a nota incluía petit gateaus e cocadas de forno. A conta saiu a 279,20 reais. Naquele dia, a agenda oficial do general registrava “compromissos internos” na sede da estatal.

Floriano Peixoto também apresentou nota de 252,60 reais, assinada por ele próprio, referente a uma refeição em um restaurante italiano no Rio de Janeiro em 4 de janeiro de 2021. Naquele dia, de acordo com a agenda oficial, ele estava na cidade para reuniões e para uma visita ao Centro Cultural dos Correios.

As notas fiscais obtidas por Crusoé constam de pedidos de ressarcimento feitos pelo general que correm sob sigilo na burocracia interna da empresa.

Normalmente, as despesas pessoas do general e de outros executivos são mantidas dentro de uma caixa preta: os Correios se negam a divulgar informações sobre os gastos da diretoria. Crusoé tentou obter, por exemplo, dados gerais sobre ressarcimento de despesas com restaurantes, mas a resposta foi negada sob o argumento de a solicitação “não atende as determinações previstas no manual corporativo”.

Sobre os gastos do general reembolsados a partir das notas fiscais às quais a reportagem teve acesso, a estatal informou o seguinte: “As despesas em questão ocorreram durante reuniões de serviço realizadas fora das dependências da empresa, em razão do encerramento dos contratos de serviços terceirizados de copeiragem e da inexistência de restaurante interno. Para a realização de encontros como o questionado, portanto, recorre-se a estabelecimentos privados.”

Crusoé também questionou a razão do crescimento de despesas dos Correios com seus dirigentes desde que Floriano Peixoto assumiu a estatal, mas para essa questão não houve resposta até o momento.