Chanceler sob pressão: Araújo não participa de entrega de respiradores dos EUA
Em meio à perda de espaço da ala ideológica no governo, o chanceler Ernesto Araújo não comparecerá à cerimônia de entrega de respiradores doados pelo governo de Donald Trump, marcada para a tarde desta sexta-feira, 26. Conforme noticiou Crusoé, o plano de sobrevivência de Bolsonaro coloca pressão sobre o ministro das Relações Exteriores. A doação...
Em meio à perda de espaço da ala ideológica no governo, o chanceler Ernesto Araújo não comparecerá à cerimônia de entrega de respiradores doados pelo governo de Donald Trump, marcada para a tarde desta sexta-feira, 26. Conforme noticiou Crusoé, o plano de sobrevivência de Bolsonaro coloca pressão sobre o ministro das Relações Exteriores.
A doação foi anunciada há um mês, e comemorada com grande alarde pelo chefe do Itamaraty, ansioso para demonstrar resultados da parceria de Brasília com a Casa Branca. Porém, na primeira entrega dos equipamentos, a chancelaria será representada pelo embaixador Otávio Brandelli, o número 2 da casa de Rio Branco, segundo informa a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil. A ausência de Araújo causou estranheza a diplomatas ouvidos por Crusoé.
Em conversa hoje com representantes da Casa Branca, dentro da ótima cooperação Brasil-EUA no combate ao Covid-19, recebi a notícia de que o Presidente @realDonaldTrump determinou a doação de 1.000 respiradores ao Brasil.
Parceria produtiva entre duas grandes democracias.— Ernesto Araújo (@ernestofaraujo) May 24, 2020
Segundo os americanos, o evento contará ainda com a presença do embaixador dos EUA, Todd C. Chapman, do chefe de gabinete da USAID, William Steiger, e do secretário-executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco. O diretor da USAID no Brasil, Ted Gehr, será o mestre de cerimônias. No horário do evento, Araújo não tem compromisso previsto na agenda oficial, mas se reúne com Otávio Brandelli às 15h.
O último dos olavistas no primeiro escalão está sob pressão. Criticado no Twitter pela possibilidade de ter ajudado Abraham Weintraub a viajar para os Estados Unidos, o chanceler Ernesto Araújo vem sendo submetido a um processo de fritura. Analistas da consultoria AP Exata identificaram uma mudança de comportamento da militância bolsonarista (e seus robôs) nas redes sociais com relação ao ministro das Relações Exteriores.
Segundo a análise, Araújo não vem sendo defendido por perfis ligados ao perfil de Jair Bolsonaro. No entendimento da AP Exata, este é um primeiro sinal de que o cargo do chanceler está em risco. O rumor já chegou a fontes que orbitam o Palácio do Planalto.
Araújo também sofre forte pressão do agronegócio em virtude da posição anti-China adotada pela chancelaria nos bastidores. A preocupação da política externa brasileira em agradar a Casa Branca nessa questão pode causar prejuízos incalculáveis ao setor agrícola, que depende fortemente das exportações para a China.
"Existem três linhas vermelhas muito claras na relação com a China que podem levar a retaliações comerciais ao agro brasileiro: a questão de Taiwan, Hong Kong e o veto à Huawei no 5G", avalia um experiente diplomata ouvido por Crusoé. Uma fonte próxima à Frente Parlamentar da Agropecuária torce: "esse aí não deve durar muito".
O chanceler acusou o golpe e, ao tentar se defender, passou por um constrangimento público. Durante transmissão ao vivo no canal do Itamaraty, o ministro falava sobre a política econômica do Brasil quando, em determinado momento, ele olha para o lado e pergunta a dois assessores a opinião "sincera e franca" deles sobre as críticas de que "a nossa política externa prejudica os nossos interesses comerciais e econômicos". Após silêncio constrangedor, os dois auxiliares falam em termos genéricos sobre a política comercial brasileira. Mas não respondem sobre as críticas.
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