Servidores se opõem à contratação de amigo de Steve Bannon pelo Itamaraty
O Sindicato Nacional dos Servidores do Ministério das Relações Exteriores, Sinditamaraty, divulgou nota oficial na noite desta segunda-feira,15, em oposição à possibilidade de oferta de cargos na chancelaria a pessoas de fora da carreira diplomática. Para a entidade representativa dos diplomatas, a admissão de pessoas alheias às carreiras do órgão “representaria atentado à própria política...
O Sindicato Nacional dos Servidores do Ministério das Relações Exteriores, Sinditamaraty, divulgou nota oficial na noite desta segunda-feira,15, em oposição à possibilidade de oferta de cargos na chancelaria a pessoas de fora da carreira diplomática. Para a entidade representativa dos diplomatas, a admissão de pessoas alheias às carreiras do órgão “representaria atentado à própria política externa nacional”.
À Crusoé, fontes no Ministério das Relações Exteriores relatam que caminha a passos apressados uma articulação que pode alçar o empresário Gerald Brant, amigo pessoal do estrategista Steve Bannon, a “assessor especial” do chanceler Ernesto Araújo. O Sinditamaraty repudia essa possibilidade.
“A preocupação com a eventual nomeação é agravada pelo risco de ver integrar em nosso foro elemento de dupla nacionalidade, notoriamente próximo ao governo estrangeiro, e, naturalmente, comprometido com interesses desvinculados dos nossos”, diz a nota. “A intenção de trazer alguém estranho aos quadros do MRE trai o propósito de contemplar interesses alheios aos objetivos do País”, acusam os sindicalistas.
Em janeiro do ano passado, um decreto do presidente Jair Bolsonaro permitiu que servidores de fora da carreira diplomática integrassem o gabinete do ministro, mas diplomatas ouvidos pela reportagem não têm a certeza de que a medida autoriza que qualquer pessoa venha a ser contratada, ou se a previsão se refere apenas a servidores que já trabalham no governo.
Servidores da pasta ouvidos pela Crusoé temem que a chegada de Brant ao gabinete do ministro de estado inaugure um período ainda mais ideológico no Itamaraty, prejudicando a imagem do país no exterior e as relações com outros países.
Gerald Brant é filho de mãe americana e pai brasileiro. Inclusive já morou no Rio de Janeiro durante sua juventude. Ideologicamente, é afeito ao conservadorismo nos costumes e ao liberalismo na economia. Além disso, é amigo do senador Flavio Bolsonaro, filho 01 do presidente, e foi um dos responsáveis por aproximar o presidente da República ao empresariado norte-americano.
Leia a íntegra da nota do Sinditamaraty:
O Sindicato Nacional dos Servidores do Ministério das Relações Exteriores (Sinditamaraty) vem a público manifestar profunda preocupação com a eventual contratação de assessor fora dos quadros do MRE, conforme veiculado pela imprensa.
A admissão no Ministério das Relações Exteriores (MRE) de pessoas alheias às carreiras do Serviço Exterior Brasileiro (SEB) representaria atentado à própria política externa nacional, tradicionalmente formulada por quadros formados, treinados e qualificados nas melhores práticas de defesa dos interesses nacionais, em consonância com o papel do Brasil na comunidade internacional.
A preocupação com a eventual nomeação é agravada pelo risco de ver integrar em nosso foro elemento de dupla nacionalidade, notoriamente próximo ao governo estrangeiro, e, naturalmente, comprometido com interesses desvinculados dos nossos. A intenção de trazer alguém estranho aos quadros do MRE trai o propósito de contemplar interesses alheios aos objetivos do País.
É falaciosa a alegação de que tal nomeação poderia ser útil ao ministério ao trazer pessoas de perfil técnico: nossos quadros têm amplo conhecimento técnico nas mais diversas áreas e, além disso, contam sempre, nas negociações de escopo internacional, com profissionais igualmente experientes de outras instâncias do serviço público.
A medida tornaria vulnerável toda a política exterior do Brasil, ameaçando, pois, a independência e, ipso facto, a soberania nacional. A própria ideia desprestigia o Serviço Exterior Brasileiro e envergonha a tradição diplomática nacional. O intento conspurcaria a direção da política externa brasileira, com vício de desvio de finalidade.
Tendo em vista a instabilidade e a apreensão que uma notícia dessa natureza carrega para o ambiente profissional, o Sinditamaraty convida o ministro Ernesto Araújo a reiterar publicamente que se mantêm idênticos os parâmetros de nomeação para cargos em comissão e funções de chefia no MRE, assim como o fez em janeiro de 2019.
O Sindicato segue mobilizado em sua defesa da profissionalização dos quadros do Itamaraty, com a necessária especialização e modernização nas melhores práticas profissionais.
A entidade permanece alerta na prevenção de medidas que possam ameaçar as conquistas obtidas e pugna pela prevalência dos interesses do Brasil.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)