Aos poucos, economia argentina ganha confiança
Demanda por dólares cai na Argentina e S&P eleva nota de crédito. Reservas baixas e inflação alta ainda chamam a atenção
A economia da Argentina vive um momento importante de transição depois das eleições legislativas de outubro, onde o presidente Javier Milei ganhou novo fôlego.
Nos últimos meses, a procura de dólares por parte de poupadores despencou, passando de picos próximos a 4,6 bilhões em setembro para menos de 200 milhões em novembro, segundo dados internos do Banco Central Argentino.
Essa queda sugere que parte da pressão especulativa sobre a moeda estrangeira diminuiu após o escrutínio político, mas também que a confiança no peso e no futuro imediato do país ainda é frágil.
Ao mesmo tempo, autoridades econômicas trabalham para evitar que o dólar volte a dominar a agenda financeira, atualizando o esquema de bandas cambiais, que passa a ser atualizada com base na inflação do mês anterior.
Essa solução confere maior elasticidade à moeda local, mas sem colocar a moeda americana numa taxa flutuante totalmente livre, que poderia descambar em especulação e escalada inflacionária.
A expectativa é que essa redução na demanda por dólares alivie um dos sintomas mais visíveis da crise cambial dos últimos anos, ainda que a ausência de reservas próprias continue sendo um fator crítico, um pouco atenuado com a ajuda do swap cambial dos EUA.
No cenário internacional, investidores parecem inclinados a dar um voto de confiança às políticas argentinas.
A agência Standard & Poor's elevou a nota de crédito do país para CCC+ e destacou o melhor posicionamento político do governo e indicadores de inflação menores, fatores que, juntos, aumentam a capacidade de pagamento da dívida local. O Brasil tem nota BB, cinco níveis acima.
Essa confiança renovada também começa a se refletir no interesse de capital externo e em empresas que voltam a considerar emissões de dívida, depois de anos de portas fechadas aos mercados internacionais.
Ainda assim, a economia argentina ainda exibe sinais que merecem ser acompanhados com atenção, como a inflação, pois ainda que tenha caído, segue alta.
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) geral na Argentina subiu 2,5% em novembro, totalizando um aumento de 27,9% no ano. Em comparação com o acumulado do mesmo período de 2024, houve um crescimento de 31,4%.
A necessidade de fortalecer reservas de moeda estrangeira também persiste como um desafio que não será resolvido apenas pela percepção do mercado.
Essa flexibilização parcial do controle cambial que Javier Milei introduziu, abre espaço para uma leve queda do peso e ajustes que aliviam pressões imediatas sobre o câmbio, mas a estratégia ainda depende de uma reação mais forte da economia que incentive a entrada de investimentos estrangeiros, permitindo a acumulação das já referidas reservas.
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