Crise econômica reduz margem eleitoral de Milei
Milei perde fôlego: vantagem eleitoral se estreita e apoio popular recua diante da crise econômica argentina

A Argentina enfrenta uma conjunção delicada de instabilidade econômica e incerteza política que impacta o governo de Javier Milei.
A disparada do dólar paralelo forçou o Banco Central a elevar as taxas hipotecárias para cerca de 15% acima da inflação, inviabilizando qualquer perspectiva de crédito imobiliário e comprometendo uma das frentes de liberalização prometidas pelo governo.
A medida simboliza a dificuldade de avançar em reformas estruturais quando a moeda se deteriora e as expectativas dos agentes se retraem, corroendo a credibilidade de um programa que se sustenta na confiança dos mercados.
Sim, Milei conseguiu o importante apoio dos EUA, que lhe prometeu ajuda em diferentes formatos e em grandes valores, mas isso, mesmo que bem-vindo, não resolve o cenário econômico interno.
Essa situação delicada reverbera diretamente no cenário eleitoral. Segundo dados divulgados pelo jornal Clarín, algumas pesquisas nacionais realizadas após as eleições provinciais em Buenos Aires apontam que a vantagem de La Libertad Avanza, de Javier Milei, sobre seus rivais ainda existe, mas diminuiu sensivelmente.
A ascensão da Fuerza Patria, de tendência peronista-kirchnerista, encurtou a diferença, reduzindo o espaço de manobra do governo em distritos decisivos.
A leitura é de que o desgaste econômico começa a se traduzir em mudança no humor do eleitorado, gerando um quadro mais acirrado a menos de um mês da votação legislativa de outubro.
Outras sondagens recentes divulgadas pela Bloomberg Línea reforçam essa tendência: o apoio ao presidente caiu para aproximadamente 39%, enquanto a desaprovação alcança 58%.
A preocupação central da população se desloca cada vez mais para a inflação persistente, os baixos salários e o desemprego, temas que suplantam a agenda de choque liberal defendida pelo governo.
A confiança no governo do presidente argentino também caiu e hoje está no menor nível desde que assumiu o cargo em 2023, conforme indicado pelo Índice de Confiança no Governo (ICG) da Universidade Torcuato Di Tella, de Buenos Aires.
Em setembro de 2025, o ICG recuou 8,2% em relação a agosto, atingindo 1,94 pontos (em uma escala de 1 a 5), acumulando uma queda de mais de 20% nos últimos dois meses.
Esse movimento é particularmente preocupante porque mostra a convergência de duas pressões, o esvaziamento de apoio popular e a perda de espaço legislativo, que podem travar a capacidade de Milei de aprovar reformas de médio prazo.
Diante desse quadro, o Executivo recorre a medidas emergenciais, como recomposição de reservas e estabelecimento de um piso cambial e a volta das restrições a operações com o dólar por pessoas físicas, além de buscar apoios externos para sustentar o peso.
Essas ações parecem aliviar no curto prazo, mas expõem a contradição de um governo que se apresenta como guardião da ortodoxia liberal e, ao mesmo tempo, depende de freios internos e amortecedores externos para evitar um colapso.
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Comentários (1)
MARCOS
2025-09-29 16:02:22ISSO ME RECORDA O PLANO CRUZADO. SE O ENTÃO PRESIDENTE SARNEY TIVESSE FEITO OS AJUSTES NECESSÁRIOS NA DATA CERTA, PERDERIA CAPITAL POLÍTICO MAS O BRASIL DARIA CERTO. FICOU COM MEDO DE PEDER O CAPITAL, ADIOU OS AJUSTES E O PLANO CRUZADO AFUNDOU. NA ARGENTINA ESTÁ OCORRENDO A MESMA COISA. O MILEI NÃO PODE ESMORECER.