Qual é a ideologia do partido Missão, do MBL?
"É preciso investir em emprego, formar classes médias e dar fim à cultura que glorifica o adultério e a pornografia', diz Orlando Lima

O Movimento Brasil Livre (MBL) conseguiu esta semana um parecer favorável do Ministério Público Eleitoral para a criação do partido Missão, que tem a onça como mascote (foto).
Crusoé conversou com o escritor e jornalista Orlando Lima, da Missão (o artigo se usa no feminino), para entender sua ideologia.
Qual é a ideologia do partido Missão?
Somos um novo projeto de direita, a direita do terceiro milênio. Até agora, a direita brasileira tem se limitado ao liberalismo econômico, um dogmatismo do século 20.
Nós somos a direita tecno-otimista. Estamos atraindo a atenção de muitos jovens que facilmente poderiam estar trabalhando no Vale do Silício e que se sentem abandonados pela atual conjuntura política do Brasil.
Não existe espaço para esse talento no PSD de Gilberto Kassab nem no PL de Valdemar Costa Neto, mas nós estamos de portas abertas.
Por que vocês se dizem de direita?
Primeiro, porque, na clivagem política de hoje, rejeitamos todos os projetos das esquerdas. Essa rejeição define nosso lado no espectro político.
Depois, porque entendemos que a tradição da direita política é, hoje, de onde bebem os movimentos de vanguarda cultural, o que significa também nossa condição de captura do espírito do tempo.
Por último, há uma série de valores e princípios fundacionais que professamos. Desde a raiz nacionalista — sem cair no patriotismo teatral do bolsonarismo, nem no nacionalismo antieconômico de Ciro Gomes — até a defesa dos valores da cultura clássica greco-romana e judaico-cristã, o que convencionamos chamar “Ocidente”.
Talvez “identidade” seja a palavra-chave para nosso enquadramento na direita política, pois enxergamos como condição existencial do homem em busca de sentido no século 21 a formação de uma identidade que não se perca na massificação progressista adotada pela esquerda.
A Missão é a favor da privatização de empresas estatais, como a Petrobras?
De forma abstrata, um plano de privatizações é desejável e já contamos com estudos nesse sentido.
O Brasil é um país muito fechado, com uma economia oligopolizada, e temos como objetivo integrar o Brasil à economia global.
Porém, o caso específico da Petrobrás deve ser cuidadosamente analisado.
Se essa pergunta fosse feita há 10 anos, a resposta seria automaticamente “sim”. Entretanto, há um processo de retração da globalização — que vem desde a pandemia — e que forçou os países a repensarem a posição estratégica de suas indústrias.
Não acho que a privatização da Petrobrás deva ser pensada como uma certeza histórica, o objetivo último da administração econômica. Deve ser analisada no plano econômico e também estratégico.
A Missão é conservadora em questões sociais? Qual é a posição em relação ao aborto? E em relação à legalização das drogas?
A Missão não se define como conservadora ou liberal. Essa dicotomia é uma pauta americana do século 20, que não se traduz na política de hoje.
Defendemos uma nova imaginação política, erguida a partir do senso comum.
Nos últimos anos, o senso comum foi suplantado por uma visão supostamente “progressista” que, na verdade, tornou-se justificativa para o cerceamento de liberdades. Já é um grande ganho se retomarmos o senso comum, um chão compartilhado por todos.
Em relação ao aborto, somos a favor da legislação atual, mas entendemos que a única solução duradoura é o fortalecimento das famílias.
É preciso investir em emprego, formar classes médias e dar fim à cultura que glorifica o adultério e a pornografia.
Sobre a legalização das drogas, acho esse um debate secundário. A questão dos entorpecentes está intimamente ligada ao crime organizado e, por isso, precisa ser vista pela ótica da segurança nacional.
A maior ameaça às nossas vidas e à nossa democracia é o narcotráfico. Não está claro ainda se a legalização nos ajuda ou prejudica no combate às redes de tráfico.
A Missão é a favor do porte de armas?
Em um eventual governo da Missão, a questão do porte de armas ao cidadão de bem deve progredir, até por sermos capazes de promover o debate baseado em evidências, em vez da histeria vazia do bolsonarismo.
Porte de armas, aborto e drogas são temas culturais, não apenas políticos.
Nosso objetivo é oferecer uma nova imaginação política ao Brasil, e essas pautas estarão em convergência com essa nova imaginação política.
Quais seriam as primeiras medidas caso a Missão assumisse a Presidência da República?
A número um, no dia mesmo da posse, seria avançar com ações contra o crime organizado.
Nada é mais urgente em nosso país do que isso. Por ano, perdemos 250 mil pessoas que emigram para outros países, e perdemos mais de 50 mil para crimes violentos.
São 300 mil cérebros e braços a desaparecem do Brasil.
No primeiro dia, ações coordenadas no Rio de Janeiro, nas fronteiras, no Nordeste e em São Paulo. Será um recado ao crime organizado: “agora vocês têm inimigos no poder, e não aliados”.
Com qual geração a Missão se identifica mais?
Somos o primeiro projeto político das gerações millenial e Z no Brasil.
Esse recorte geracional importa porque ele rompe com certo pensamento estático herdado das gerações passadas.
A política brasileira parou nos anos 1960.
À direita, pararam em 1964 e seu ideário militar decadente.
À esquerda, rodam ainda as ideias de 1968 e sua utopia de resistência. Tudo isso pactuou e criou o Clube de 1988 — que se cristalizou em nossa Constituição Federal.
Esse modelo com elites pouco competitivas e patrimonialistas, que politicamente se aglutinam no Centrão, é a causa da nossa falta de dinamismo enquanto país.
A Missão, nesse sentido, pretende a superação de 1964 e 1988.
Enterrar as ideias que se arrastam e impedem o Brasil de prosperar. Somos um projeto político de ruptura geracional.
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