Trump cala a voz da América; China e Rússia festejam
Veículo que defendia os direitos humanos e incomodava as ditaduras será fechado pelo presidente republicano

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (foto), decretou na sexta, 14, o fechamento da Voz da América sob a justificativa de que os contribuintes americanos não poderiam mais ser responsabilizados por financiar "propaganda radical".
Com isso, os Estados Unidos perderão uma das principais ferramentas de soft power para promover os direitos humanos, a liberdade e a democracia para pessoas que vivem em países autoritários.
Restarão apenas as vozes da China e da Rússia ecoando pelo mundo.
Não por acaso, veículos ligados a essas duas ditaduras celebraram a decisão do presidente republicano.
Desculpa identitária
Em um artigo divulgado no site oficial, a Casa Branca faz diversas acusações contra a Voz da América, como ter um viés de esquerda e não chamar o Hamas de grupo terrorista.
O texto fala que repórteres do canal criticaram Trump nas redes sociais, não deram a devida importância ao caso do notebook de Hunter Biden ou divulgaram um vídeo "muito favorável" ao então candidato Joe Biden, em 2020.
Até uma reportagem sobre migrantes transgêneros entrando nos Estados Unidos foi citada.
Mas todas essas coisas poderiam ser resolvidas com uma nova orientação editorial vinda da Presidência.
Um novo diretor de jornalismo poderia redirecionar o trabalho da equipe, como ocorre com qualquer veículo de imprensa.
Além disso, a Voz da América, por lei, não pode transmitir para o público americano, justamente para não ser usada como ferramenta de propaganda do governo federal.
A chegada da internet, porém, passou a permitir que os americanos acessassem seu site de notícias.
Para audiências em países autoritários
Trump, contudo, preferiu acabar de vez com o veículo, que cumpre um papel importantíssimo no mundo, ao difundir os valores americanos.
Criada como um canal de rádio em 1942 para transmitir propaganda americana aos povos sob ocupação nazista, a Voz da América (VoA) tornou-se um veículo multimídia com uma audiência global de 360 milhões de pessoas. Anos depois, a rádio começou a transmitir para a União Soviética.
A Voz da América e suas subsidiárias Radio Free Europe e a Radio Free Asia têm sido uma das principais fontes para se informar sobre campos de trabalho forçado de muçulmanos uigures na China, julgamentos de jornalistas na Rússia, gays enforcados no Irã ou a interferência do Kremlin em eleições na Europa do Leste.
A Rádio Martí é o braço da Voz da América em Cuba. Nesta segunda, as notícias principais falavam de desnutrição na ilha e de um apagão de 48 horas.
Mas Trump parece não querer mais promover esses princípios.
As vozes da Rússia e da China
Mais grave ainda, o presidente americano cala a voz dos Estados Unidos no momento em que Rússia e China disseminam suas ideias autoritárias para audiências globais, incluindo para o Brasil.
A Rússia usa os canais RIA Novosti, RT e Sputnik News para fazer propaganda de Moscou, atacar a Ucrânia e o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
Esses canais russos hoje conseguem influenciar tanto bolsonaristas quanto esquerdistas radicais no Brasil.
A China, por sua vez, usa a agência estatal Xinhua e o China Media Group para promover o Partido Comunista Chinês e suas ações em outros países.
Em 2023, a China fez um acordo com o governo Lula para retransmitir seus conteúdos para o público brasileiro.
Festa em Pequim e em Moscou
A decisão de Trump de fechar a Voz da América, não por acaso, foi comemorada em veículos estatais na China e na Rússia.
Um editorial publicado pelo Global Times, jornal do Partido Comunista Chinês, desta segunda, 17, diz que a Voz da América seria uma "fábrica de mentiras".
"Claramente, a Voz da América nunca foi um meio de comunicação 'justo e imparcial', mas sim um 'veneno de propaganda' completamente tendencioso", diz o Global Times.
O porta-voz da Rússia, Dmitry Peskov, comentou a decisão de Trump em uma resposta dada à agência estatal Tass nesta segunda:
"Esses meios de comunicação mal podem ser considerados populares ou amplamente reconhecidos na Federação Russa. Isso não nos diz respeito, é uma decisão interna do governo dos EUA. Esses meios de comunicação são puramente propagandísticos, isso é um assunto interno dos Estados Unidos", afirmou Peskov.
Ao fechar a Voz da América, Trump enfraquece os valores americanos e fortalece os ditadores Vladimir Putin e Xi Jinping.
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Comentários (2)
Clayton De Souza pontes
2025-03-17 14:06:57Infelizmente estamos vendo essas ações que agradam ao carniceiro Putin. Vai sair caro esse abandono do Trum aos antigos aliados
Alvaro
2025-03-17 13:03:32É inacreditável o que anda dizendo e fazendo o St. Trump.