Lula esconde Maduro na conversa com Macron
Nota oficial do governo francês diz que os dois presidentes falaram sobre a Venezuela ao telefone, mas petista omitiu esse fato
O presidente Lula quer esconder que conversou sobre a ditadura do venezuelano Nicolás Maduro em telefonema com o presidente da França, Emmanuel Macron (foto).
Na sexta, 10, Maduro tomou posse para um terceiro mandato após uma fraude eleitoral, no dia 28 de julho.
Mais de onze países não reconheceram a vitória do ditador nas urnas, mas o Brasil de Lula tem preferido fugir do assunto.
Meia verdade
Lula e Macron conversaram por trinta minutos na sexta, 10.
Ao relatar sobre o telefonema na rede X, Lula só falou sobre a decisão da Meta de mudar a moderação nas redes sociais.
"Recebi ligação do presidente francês, Emmanuel Macron, para discutir as relações entre nossos países. Durante o telefonema, também conversamos sobre a decisão da Meta de reduzir a checagem de fatos e sobre o trabalho conjunto que podemos realizar para impedir que a disseminação de mentiras coloque em risco a soberania dos países e de nossas democracias", afirmou o presidente brasileiro.
Uma nota divulgada no site da Agência Brasil, do governo, também não fala nada sobre Maduro.
"Os governos do Brasil e da França compartilham de posicionamento similar na preocupação com o risco que a disseminação de notícias falsas, por meio de redes sociais, pode representar para a soberania dos países", diz o texto oficial.
Novamente, não há nenhuma frase sobre o ditador venezuelano.
A verdade inteira
Mas a nota divulgada na sexta, 10, pelo Palácio do Eliseu, sede do Executivo em Paris, conta outra história.
"O presidente da República (Macron) conversou por telefone nesta sexta-feira, 10 de janeiro de 2025, com o Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República Federativa do Brasil a respeito da situação na Venezuela. Os dois líderes expressaram primeiro o total apoio da França e do Brasil ao povo venezuelano. Condenaram nos termos mais veementes a tentativa de prisão de Maria Corina Machado, durante uma manifestação pacífica. Neste contexto, o chefe de Estado e o presidente Lula apelaram conjuntamente para que não fossem exercidas medidas de intimidação ou repressão contra membros da oposição. Os direitos dos cidadãos venezuelanos de se manifestarem e de se reunirem pacificamente devem ser respeitados. Afirmaram também que todos os detidos devido às suas opiniões ou compromissos políticos deveriam ser imediatamente libertados. O presidente da República e o presidente Lula apelaram a Nicolas Maduro para retomar o diálogo com a oposição. A França e o Brasil estão preparados para facilitar esta retomada do comércio, o que deverá permitir o retorno da democracia e da estabilidade à Venezuela", diz a nota francesa.
A nota oficial francesa dá um curto parágrafo para falar sobre a "luta comum contra a desinformação e pela regulamentação de conteúdos nas redes sociais".
Em seguida, o documento do Palácio Eliseu volta a se preocupar com a Venezuela, sem citar a conversa com Lula.
"Dando continuidade aos últimos intercâmbios com a oposição venezuelana, o chefe de Estado (Macron) voltou a falar hoje por telefone com Edmundo González Urrutia e depois com Maria Corina Machado para perguntar sobre o seu estado de saúde e a sua segurança. Lembrou toda a atenção que a França dedica ao respeito pelos direitos das mulheres e dos homens envolvidos na defesa da democracia na Venezuela", diz o texto oficial.
Macron tem a estatura moral que falta a Lula.
Leia em Crusoé: Lula quer falar tudo de Zuckerberg e nada de Maduro
Reunião com representantes do governo
Também na sexta, Lula publicou a foto de uma reunião (foto) com onze "representantes do governo", para falar da Meta.
Entre os participantes estava Celso Amorim, o assessor especial para temas internacionais.
Ao ignorar a Venezuela e valorizar a questão da moderação nas redes sociais, Lula despreza um problema real e inventa outro que não existe.
Maduro prende, tortura e mata.
De acordo com a ONG venezuelana Foro Penal, ainda há 1.697 presos políticos na Venezuela.
Desses, três são adolescentes e 202 são mulheres.
Mas Lula prefere apontar o dedo para a empresa americana que permite a interação remota entre pessoas.
Na legenda da foto da reunião desta sexta, Lula escreveu:
"Reunião com os representantes do governo para tratar sobre os recentes anúncios da Meta e as implicações no Brasil. Duas decisões foram tomadas neste encontro. A primeira é uma notificação enviada pela AGU para que a Meta explique, em até 72 horas, as mudanças na política de checagem de fatos e notícias falsas, que podem afetar crianças, adolescentes e mulheres, por exemplo", afirma o presidente.
Não há nada na decisão da Meta que afete crianças, adolescentes e mulheres brasileiras.
A empresa só vai mudar a maneira de fazer moderação de conteúdo.
Em vez de recorrer às agências de checagem, que se mostraram tendenciosas, utilizará as notas de comunidade, que se provaram eficientes na rede X.
Não há nada que represente uma ameaça à sociedade civil no anúncio de Mark Zuckerberg.
"Eu não estou aqui para falar de Venezuela"
O presidente brasileiro sabe que falar de Maduro não cai bem e por isso quer evitar o tema a todo custo.
Vale lembrar que, quando apoiava a campanha para Guilherme Boulos para a prefeitura de São Paulo, no ano passado, o presidente aconselhou seu apadrinhado a não falar sobre a Venezuela.
"Eles não fazem pergunta para a gente responder mostrando que a gente tem competência. Eles querem fazer perguntas que não têm nada a ver com o papel do prefeito de São Paulo. Quando você for nesse debate, não responde provocação. Se perguntar para você: 'E a Venezuela?', você responde: 'A Venezuela é o seguinte: eu tô aqui para fazer casa para o povo, eu tô aqui para melhorar o transporte para o povo, para melhorar a saúde do povo. Eu não estou aqui para falar de Venezuela. Quer falar sobre a Venezuela, vai falar com o Ministério das Relações Exteriores ou vai falar com o Lula", disse o petista em um vídeo de outubro.
Leia em Crusoé: Maduro ainda está aqui
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