Crise EUA-Canadá: preocupação com tráfico ou protecionismo comercial?
Trudeau reconheceu o potencial devastador das tarifas sobre a economia canadense e pediu unidade entre os líderes provinciais em resposta à pressão americana
A recente ameaça do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de 25% sobre as importações canadenses, juntamente a suas declarações depreciativas em relação ao Primeiro-Ministro Justin Trudeau, provocaram reações intensas tanto no Canadá quanto nos Estados Unidos.
O embate entre as duas nações atingiu novos patamares quando Trump, após suas ameaças contra o México, direcionou seu foco ao Canadá.
Em uma tentativa de amenizar as tensões, Trudeau viajou a Mar-a-Lago no dia 29 de novembro. Contudo, o ex-presidente manteve sua postura firme, afirmando que, no primeiro dia de seu novo mandato, imporia pesadas tarifas sobre os produtos canadenses caso o país não resolvesse questões como a imigração ilegal e o tráfico de Fentanyl.
Trudeau, “governador” do Canadá
Trump ainda fez um comentário sarcástico chamando Trudeau de "governador", insinuando que o Canadá poderia ser rebaixado a um estado americano.
As provocações geraram uma onda de indignação no Canadá, onde a situação política é delicada. O Premier da província de Ontário, Doug Ford, expressou sua frustração ao ameaçar interromper exportações de energia para os EUA, afirmando que poderia cortar o fornecimento elétrico para estados como Michigan e Nova York.
Vale ressaltar que Ontário é responsável por um significativo volume de energia exportada, correspondente ao consumo de aproximadamente 1,5 milhões de residências.
Apesar da gravidade da situação, a administração federal ainda não se posicionou oficialmente sobre as ameaças de Ford.
Potencial devastador das tarifas
A popularidade de Trudeau tem enfrentado desafios significativos e sua capacidade de unir diferentes facções políticas em torno dessa questão está sob escrutínio.
Trudeau reconheceu o potencial devastador das tarifas sobre a economia canadense e pediu unidade entre os líderes provinciais em resposta à pressão americana.
As questões comerciais entre os dois países são complexas. Tanto o Canadá quanto o México são signatários do acordo USMCA, negociado por Trump e implementado em 2020. As tarifas propostas ameaçam desestabilizar esse pacto comercial essencial.
Fronteiras
A fronteira entre os EUA e o Canadá se estende por mais de 6.400 quilômetros, sendo a mais longa do mundo entre dois países.
Embora haja preocupações sobre imigração ilegal e tráfico de drogas nessa região, os números são considerados baixos em comparação com a crise na fronteira sul dos EUA com o México.
Adicionalmente, as acusações de Trump sobre contrabando ocorrem em um contexto onde também há fluxo inverso; substâncias como cocaína e armamentos são frequentemente contrabandeados do território americano para o canadense.
Protecionismo?
A relação comercial entre os EUA e seus vizinhos do norte é significativa, mas Trump considera o déficit comercial com o Canadá um problema sério – que segundo estimativas chega a cerca de 72 bilhões de dólares anualmente.
A possibilidade de tarifas elevadas pode ser prejudicial para os interesses americanos a longo prazo. Especialistas apontam que as táticas agressivas de Trump visam inicialmente intimidar seus adversários para obter melhores condições nas negociações comerciais. No entanto, o Canadá possui suas próprias alavancas econômicas, incluindo exportações essenciais como petróleo e gás natural.
Analistas acreditam que as justificativas apresentadas por Trump estão mais ligadas à proteção da indústria americana do que a questões reais relacionadas ao tráfico ou imigração.
Essa abordagem pode resultar em custos mais altos para os consumidores americanos e acentuar a inflação – um paradoxo considerando as promessas eleitorais do ex-presidente para conter aumentos nos preços.
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