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Mensagens explosivas

Mais de 20 pessoas morreram em explosões em massa de pagers e walkie talkies do Hezbollah; Israel estaria por trás dos episódios

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Caio Mattos
5 minutos de leitura 20.09.2024 03:30 comentários 1
Explosão de pager de terrorista do Hezbollah no Líbano. Reprodução

Centenas de pagers de integrantes do Hezbollah explodiram simultaneamente na tarde de terça-feira, 17 de setembro. Ao menos 12 pessoas morreram e 2.800 ficaram feridas no Líbano e na Síria. Dentre os atingidos, o embaixador do Irã em Beirute foi ferido. Um representante do grupo terrorista descreveu o episódio como "a maior falha de segurança”. Ele se precipitou. No dia seguinte, houve novas explosões. Desta vez, em walkie-talkies. Mais 14 pessoas morreram e outras 450 ficaram feridas. O Hezbollah e o governo do Líbano, formado por uma coalizão que inclui a ala política do grupo terrorista, acusaram Israel pelos episódios. 

Nenhuma autoridade israelense reivindicou os ataques. Tampouco houve quem negasse as acusações dos libaneses. Israel tradicionalmente não comenta operações de inteligência fora de seu território.

Fontes anônimas do governo dos Estados Unidos afirmaram ao jornal The New York Times que, ao menos, o caso dos pagers se tratou de uma operação israelense. O serviço de inteligência teria implantado material explosivo de 30 a 60 gramas colado à bateria dos pagers. A detonação teria sido remota. “Às 15h30 no Líbano, os pagers receberam uma mensagem que parecia vir da liderança do Hezbollah, disseram duas autoridades. Em vez disso, a mensagem ativou os explosivos”, reportou o Times. Os dispositivos faziam parte de um lote de mil unidades importado pelo Hezbollah havia cinco meses. Segundo o Times, foi uma empresa de fachada montada pelo serviço secreto israelense que vendeu os pagers ao Hezbollah.

Israel tem um longo histórico de operações semelhantes há mais de meio século. O Mossad, o serviço de inteligência que opera no exterior, eliminou uma liderança da Autoridade Palestina com um celular com explosivo em Paris, na França, em dezembro de 1972. A operação foi uma retaliação pelo atentado de um grupo terrorista palestino que resultou nas mortas de 11 atletas israelenses dois meses antes, nas Olímpiadas de Munique. Mais recentemente, em julho, as Forças de Defesa de Israel (FDI) reivindicaram a eliminação do então mais alto comandante do Hezbollah, Fuad Shukr. Ele foi morto em um bombardeio após ser localizado ao usar o próprio celular. O caso aumentou ainda mais o receio entre os terroristas de usar telefones celulares, o que elevou a adesão de pagers e walkie-talkies.

O Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk, pediu uma investigação independente sobre as explosões. O Conselho de Segurança se reune nesta sexta, 20, para deliberar sobre o tema. Mesmo se comprovada a atuação do serviço secreto israelense, é improvável que o Estado de Israel seja alvo de ação legal. Para tanto, seria preciso comprovar que o ato faz parte de uma política de Estado, explica Vitelio Brustolin, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense e pesquisador da Universidade Harvard. Casos pontuais não são o suficiente para sustentar uma tese como essa. 

Duas crianças inocentes morreram nas explosões no Líbano desta semana. A mais jovem era uma menina de 9 anos de idade. Elas não foram as únicas vítimas colaterais. Mais de 3 mil foram feridas nos episódios. Algumas chegaram a ter membros decepados. A maioria dos feridos não integrava o Hezbollah, apenas estavam próximos dos supostos terroristas no momento da detonação. Eles foram atingidos por acaso, em momentos banais do cotidiano. Em ao menos dois casos, os portadores dos pagers estavam fazendo compras em supermercados, como mostraram imagens de câmeras de segurança.

As convenções internacionais que tratam sobre guerras preveem que não se pode atingir alvos civis. Mesmo se comprovado que havia um alvo militar no local, uma operação não pode desconsiderar os riscos de dano colateral. “Em teoria, a quantidade de explosivos era pequena para atingir apenas os terroristas. Mas pessoas inocentes foram mortas e feridas. Então, é possível discutir que se assumiu um risco”, afirma Brustolin.“Atingir civis é atingir civis, seja no Líbano, em Gaza ou em Israel”, acrescenta, em referência às mortes de inocentes na guerra na região. No início de julho, o Hezbollah lançou um foguete e matou 12 crianças ao norte de Israel.

Para Israel, o ataque se justifica porque o país já se considera em guerra contra o Hezbollah. Neste contexto, a explosão dos pagers, na terça, e dos walkie-talkies, na quarta, podem ser vistas como uma operação prévia a uma ação militar maior. Na quinta, 19, caças israelenses bombardearam diversos lançadores de foguetes e prédios do Hezbollah no Líbano. Veículos militares e soldados que estavam na Faixa de Gaza na guerra contra o Hamas, praticamente derrotado militarmente, foram transferidos para o Norte. Os ataques desta semana surpreendem os terroristas do Hezbollah com reduzida capacidade de se comunicar, o que aumenta a chance de acertar os alvos e reduz a possibilidade de uma reação. É com base nas guerras contra grupos terroristas que Israel faz os seus cálculos.

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Caio Mattos

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Comentários (1)

Carlos Renato Cardoso Da Costa

2024-09-20 03:41:36

O ciclo de vingança e retaliações nunca acabará. Cada ação enluta mais famílias civis e isso vai assegurar que a guerra seja eterna.


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