Argentina: para quem vão os votos de Patricia Bullrich
A terceira colocada das eleições presidenciais da Argentina, Patricia Bullrich, obteve 23,85% dos votos no primeiro turno, neste domingo, 22 de outubro, com mais de 95% das urnas apuradas. Trata-se de 6,2 milhões de votos, a serem disputados entre os dois candidatos que avançaram para o segundo turno, o ministro da Economia, Sergio Massa, e...
A terceira colocada das eleições presidenciais da Argentina, Patricia Bullrich, obteve 23,85% dos votos no primeiro turno, neste domingo, 22 de outubro, com mais de 95% das urnas apuradas.
Trata-se de 6,2 milhões de votos, a serem disputados entre os dois candidatos que avançaram para o segundo turno, o ministro da Economia, Sergio Massa, e o libertário Javier Milei.
Essa fatia do eleitorado é muito relevante. Massa liderou a corrida com 36,58%, ou 9,5 milhões de votos, e Milei teve 30,04%, 7,8 milhões.
A diferença entre os dois primeiros é de 1,7 milhão de votos. Bullrich teve mais de três vezes que isso.
Mas, primeiro, é importante destacar que esses 6,2 milhões de votos de Bullrich pertencem menos a ela do que à força política por trás dela, a coalizão de centro Juntos por El Cambio.
A principal figura política dessa coalizão é o ex-presidente Mauricio Macri, do partido Proposta Republicana (PRO), de centro-direita. Ele ainda deverá elaborar a estratégia para o segundo turno em negociações com a coalizão.
O Juntos por El Cambio também envolve, além do PRO, alguns partidos ligados ao radicalismo, um movimento de centro-esquerda, cujo expoente é a a União Cívica Radical (UCR), uma sigla centenária associada à classe média.
Segundo o cientista político especialista em opinião pública Orlando D’Adamo, a repartição dos votos do Juntos por El Cambio deve ficar em 60% para Milei e 30% a 40% para Massa.
“Não vejo nenhum movimento massivo desses votos nem para Milei, nem para Massa”, diz D’Adamo.
A melhor maneira de analisar o movimento desses votos é através da rejeição. "É mais fácil especular para onde esses votos não devem ir", diz Gustavo Córdoba, cientista político e diretor do instituto de pesquisa Zuban Córdoba.
Se Macri quiser forçar um apoio a Milei, com quem vinha flertando nas primeiras semanas pós-primárias, entre agosto e setembro, a expectativa é que a coalizão se rompa.
Isso se deve à oposição do radicalismo a Milei, provocada pelo libertário. Os radicales são alvo de ataques constantes do presidenciável.
Milei os culpa pelo fim da ascensão econômica da Argentina do século 19. De fato, o momento coincide com a chegada dos radicales ao poder, na década de 1910, mas essa associação ignora o contexto. Milei também critica muito os últimos dois presidentes radicales, Raúl Alfonsín e Fernando de La Rúa, já na redemocratização. Para impulsionar a raiva de Milei, a UCR ainda faz parte da Internacional Socialista.
Em conversa reservada com Crusoé, um militante de dez anos do radicalismo acredita que os radicales se dividirão entre votar em Massa e votar em branco, no caso dos radicales mais antikirchneristas.
Há ainda que considerar os votos dos outros dois presidenciáveis derrotados no primeiro turno, o ex-governador de Córdoba, Juan Schiaretti, e a socialista Miriam Bregman. Eles representam 10% dos votos. A expectativa é que os votos de Schiaretti, um peronista de uma vertente sectária, devem ir para Massa. Trata-se de quase 7% do eleitorado. Quanto aos 3% de Bregman, eles devem se dividir entre Massa e brancos. Os socialistas têm uma tendência ao voto em branco pela sua oposição ao peronismo.
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