Ao encarnar o Estado e esquivar-se da política, rainha uniu os britânicos
Para brasileiros recém-saídos de um Sete de Setembro em que o presidente Jair Bolsonaro disse obscenidades na comemoração do Bicentenário da Independência, o Reino Unido pode ser um exemplo de como uma correta separação entre o Estado e as especificidades da política pode ser saudável para a sociedade. Ao morrer nesta quinta, 8, aos 96...
Para brasileiros recém-saídos de um Sete de Setembro em que o presidente Jair Bolsonaro disse obscenidades na comemoração do Bicentenário da Independência, o Reino Unido pode ser um exemplo de como uma correta separação entre o Estado e as especificidades da política pode ser saudável para a sociedade.
Ao morrer nesta quinta, 8, aos 96 anos, a rainha Elizabeth II já tinha completado o mais longo reinado da história britânica, servindo seu país por mais de 70 anos. Nesse período, ela cumpriu à risca a missão que assumiu em 1952, com a morte de seu pai, o rei George VI. Nas quinze transições de poder que testemunhou — sendo a última delas nesta terça, 6, quando pediu para Liz Truss formar um novo governo (foto) — a rainha foi um símbolo da estabilidade. Cada vez que a viam cumprindo com diligência os enfadonhos rituais da coroa, os britânicos tinham a certeza que, por mais populistas e revolucionários fossem os escolhidos para chefiar um futuro governo, as coisas seguiriam seu rumo até que o próximo ritual tivesse início.
Fiel à obrigação constitucional de manter-se neutra em questões políticas, a rainha também evitou declarações favoráveis a um partido ou outro, uma opinião ou outra. Nem mesmo no polarizado referendo do Brexit ela deu qualquer sinalização de sua preferência pessoal. Nos inúmeros encontros palacianos com lideranças políticas, nunca trechos das conversas foram vazados para a imprensa ou para o público.
Esse compromisso com o país e o distanciamento da política deram à rainha Elizabeth uma autoridade moral inigualável, que foi útil em diversos momentos. Nas raras vezes em que ela se dirigiu à nação, chamou o povo para a unidade e foi atendida. Foi assim durante a Segunda Guerra Mundial, quando ela convocou os britânicos para lutar por uma causa comum. Em 2021, ela proferiu diversos discursos para acalmar a população, preocupada com a pandemia do coronavírus.
Outro traço de nobreza é que a rainha Elizabeth II não permitiu que os laços emotivos familiares suplantassem as obrigações monárquicas. Em 2019, ela cortou o salário equivalente a 1,5 milhão de reais do príncipe Andrew, acusado de participar de escândalos sexuais por sua amizade com o empresário americano Jeffrey Epstein. Não houve qualquer chance para filhotismo. No ano seguinte, depois que seu neto, o príncipe Harry, e a esposa Meghan Markle foram morar no Canadá, a rainha eliminou o apoio financeiro que o casal recebia para participar dos eventos reais. A mensagem foi clara: a família deveria servir o Estado, e não o contrário.
Nas pesquisas recentes de opinião pública feitas pelo instituto YouGov, a rainha aparecia como a figura pública mais popular do Reino Unido. Hoje, seis em cada dez são favoráveis à continuação da monarquia. Além disso, a maioria dos britânicos afirma que a monarquia faz com que eles sintam que o Reino Unido é mais tradicional e poderoso. É um legado admirável, que os brasileiros têm muito a invejar.
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Comentários (10)
Gilberto Paiva
2022-09-10 13:18:08o artigo peca ao dizer que ela conclamou os britânicos a se unirem na Segunda Guerra. Na época, o pai dela, George VI, era o rei.
Paulo
2022-09-08 21:56:24Ela não era a rainha durante a Segunda Guerra. Isto precisa ser corrigido.
Paulo
2022-09-08 18:38:38O primeiro parágrafo da matéria já é uma obscenidade jornalística que diz muito também de quem o escreve. Preferência política clara que deságua na incapacidade de informar sem paixão.
LUCIANO
2022-09-08 17:05:20O espetáculo que assistimos incrédulos de ontem e a sobriedade de Elizabeth. Como chegamos neste ponto ? Por que ?
Marcello
2022-09-08 16:16:55Já o Brasil, de tranqueira, em tranqueira,... cá estamos!
Eduardo
2022-09-08 16:02:34Bolsonaro está em todas, né? A mídia mesmo o odiando é apaixonada por ele. Qualquer idiotice que fala retumba. Ele existe, embora a enorme mediocridade, é porque a mídia fez um esforço herculeano para construí-lo. Como um Frankstein da midia, virou presidente. A rainha Elizabeth, belíssima e exemplar cidadã do mundo, jamais será modelo ético para esse ser humano saído das catacumbas das igrejas medievais.
Sergio
2022-09-08 16:02:07God save the Queen!
RUBEM
2022-09-08 16:00:39É, mas a rainha pisou na bola quando a ex-nora morreu…
Ivan
2022-09-08 15:55:36Um verdadeiro conservador repudia firmemente a falta de caráter de um presidente que diz tantas baixarias como por exemplo que não estruparia uma opositora porque não ela não merecia , que é imbrochável , debocha de doentes de covid, que enaltece notórios torturadores e que sequestra a maior data cívica do país para seus projetos pessoais de poder, só para citar alguns absurdos.
Amaury G Feitosa
2022-09-08 15:36:24A monarquia inglesa tem 800 anos e lá o rei pertence a nação por quem zela e agrega ... eis a diferença.