Escolhido de Bolsonaro para Petrobras já criticou 'populismo tarifário'
Indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para assumir a presidência da Petrobras no lugar de Joaquim Luna e Silva, o economista Adriano Pires era até bem recentemente um crítico contumaz do modelo de “populismo tarifário” destinado conter a alta de preços da gasolina e da luz. A política de controle de preços foi implementada pela estatal...
Indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para assumir a presidência da Petrobras no lugar de Joaquim Luna e Silva, o economista Adriano Pires era até bem recentemente um crítico contumaz do modelo de “populismo tarifário” destinado conter a alta de preços da gasolina e da luz.
A política de controle de preços foi implementada pela estatal durante os governos do PT e passou a ser vista como alternativa por Jair Bolsonaro para segurar a disparada do valor dos combustíveis na bomba.
Foi justamente por buscar uma solução com viés eleitoreiro para segurar a alta do diesel e da gasolina que Bolsonaro resolver apear Joaquim Luna e Silva do comando da Petrobras nesta segunda-feira, 28 – como presidente da empresa, o general resistia a alterar o modelo que prevê a paridade com o mercado internacional, mesmo com o petróleo atingindo altas históricas.
Em entrevista ao editor Duda Teixeira, de Crusoé, em julho do ano passado, Adriano Pires não apenas condenou com veemência a prática que Bolsonaro ensaia adotar agora, como falou sobre os efeitos de equívocos cometidos na administração do setor de energia sobre desempenhos eleitorais.
O economista, que àquela altura muito provavelmente não cogitava a possibilidade de assumir a estatal, ainda mais num contexto de insurgência do presidente contra os altos preços dos combustíveis, disse que Bolsonaro até aquele momento ainda não estava “sendo populista”. Ele fez uma ressalva, porém: disse não saber até quando iria durar a postura do presidente, pois haveria “eleições pela frente”.
“A grande diferença entre Dilma e Bolsonaro é que ela fez populismo tarifário. Bolsonaro, por enquanto, não está sendo populista. Ele tem tentado equilibrar a oferta e a demanda, com tarifas muito altas. Até quando vai ser assim, eu não sei. É importante ter em mente que, em 2014, Dilma quase quebrou a Eletrobras e a Petrobras para ter luz e gasolina baratas. Foi com isso que ela se reelegeu. Bolsonaro tem eleições pela frente no ano que vem”, disse Pires.
Ao relacionar as crises energéticas aos infortúnios nas urnas, Adriano Pires lembrou que Josiel Alcolumbre, irmão do então presidente do Senado, Davi Alcolumbre, do DEM, foi derrotado na eleição para a prefeitura de Macapá em 2020 como consequência direta do apagão no estado. O racionamento elétrico, adotado no país entre os anos 2001 e 2002, também contribuiu decisivamente, na avaliação do economista, para o triunfo de Lula sobre José Serra, candidato do PSDB apoiado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.
“A última vez que faltou energia elétrica no Brasil foi no Amapá, no ano passado. Josiel Alcolumbre, irmão do então presidente do Senado, Davi Alcolumbre, perdeu a eleição para a prefeitura de Macapá. As pesquisas diziam que ele ganharia no primeiro turno, mas depois do apagão suas chances diminuíram. Na crise de 2001 e 2002, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, o racionamento foi um dos fatores que ajudou Lula, que era opositor, a vencer a eleição”, afirmou.
Adriano Pires, que chegou a alertar para o risco de apagão no Brasil neste ano, atribui as constantes crises energéticas no país à falta de planejamento.
“Estamos há vinte anos vivendo de sobressaltos e pesadelos no setor de energia elétrica, porque nossa matriz energética continua muito refém do clima. E, com o aquecimento global, a meteorologia ficou mais imprevisível. Só não tivemos um apagão e racionamento no governo de Dilma Rousseff porque, nos últimos dez anos, o Brasil tem crescido pouco ao ano. E o consumo de energia está atrelado às variações do PIB”, disse.
Bem relacionado com políticos, inclusive do Centrão, o economista é defensor da adoção de programas permanentes de racionalização do uso de energia e da água no país. Na mesma entrevista, no entanto, ele recomendou que, para funcionar a contento, o estímulo ao uso racional desses recursos não poderia ser feito por políticos. A tarefa, entendia o virtual presidente da Petrobras, deveria caber a celebridades como a cantora Anitta e o jogador de futebol Neymar. Ele explicou o porquê: “o brasileiro não acredita em político”.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (5)
MARCOS
2022-03-29 10:58:52Será um novo Paulo Guedes? começou bem e depois se curvou ao Bolsonaro.
Amyr GF
2022-03-29 10:56:05o que todos esquecem é que a BR foi criada há setenta anos com dinheiro do povo e a ele deve servir nunca a investidores e há como abaixar preços dos combustíveis de forma racional preservando a lucratividade da empresa vital para o futuro mas isto esbarra na irresponsabilidade de governadores e sua politicagem suja contra o povo esta outra dura verdade .. o povo nas urnas tem chance de resolver isto e se não o fizer suicida mais uma vez pelas próprias mãos .. o pior pode ainda estar por vir.
Willians Rodrigues Gomes
2022-03-29 10:41:20Não adianta "torcer" para dar certo. O problema nunca foi os recentes diretores da estatal. O busílis tem nome: Bolsonaro e, este novo diretor, caso insista em fazer a coisa certa, tbm cairá logo, logo.
Maria Ceci Ramos do Vale
2022-03-29 10:03:40Estou torcendo por Adriano Pires .O texto e as referências à entrevista, demonstram mta lucidez.
Leda
2022-03-29 09:52:08Parece que a opção não vai tao ruim afinal, se não "obedecer" ao presidente...