Hesitação da Alemanha explica encontro entre Olaf Scholz e Joe Biden
O primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, encontrou-se com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na Casa Branca nesta segunda, 7 (foto). Os dois ameaçaram tomar ações duras contra a Rússia caso ocorra uma invasão da Ucrânia. "Se ocorrer uma agressão militar contra a Ucrânia, isso vai gerar consequências sérias, como as sanções que já...
O primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, encontrou-se com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na Casa Branca nesta segunda, 7 (foto). Os dois ameaçaram tomar ações duras contra a Rússia caso ocorra uma invasão da Ucrânia.
"Se ocorrer uma agressão militar contra a Ucrânia, isso vai gerar consequências sérias, como as sanções que já combinamos. A Rússia vai ter de pagar um preço alto", disse Scholz em uma coletiva de imprensa.
Mas o tom agressivo da Alemanha até agora não tem sido acompanhado por medidas práticas. É isso, aliás, o que explica a ida de Scholz até os Estados Unidos.
"Existe um abismo entre o que as autoridades alemãs têm dito publicamente e o que elas têm feito na crise. Acredito que Scholz foi para Washington principalmente para se explicar e conter os danos", diz Kai Enno Lehmann, professor de relações internacionais na Universidade de São Paulo.
Dependente do gás russo, a Alemanha tem evitado afrontar a Rússia. Na coletiva de imprensa desta segunda, Joe Biden ameaçou terminar com o projeto do gasoduto Nord Stream 2, que leva gás russo para a Alemanha. Mas Scholz, que falou em seguida, citou apenas sanções combinadas entre os dois países, sem citar o Nord Stream 2 pelo nome. "Não falamos tudo em público", disse Scholz na coletiva desta segunda.
A Alemanha também não enviou armas para a Ucrânia, apenas se prontificou a enviar 5 mil capacetes aos ucranianos, o que virou até motivo de piada.
"Há um pragmatismo na posição alemã com a Rússia, assim como o governo anterior, de Angela Merkel, assumiu uma posição conciliadora com a China. Além disso, não é de agora que os americanos, como George W. Bush, Barack Obama ou Donald Trump pedem para que os alemães se engajem mais nas crises internacionais", diz Lehmann.
Diplomacia verde
Durante a campanha eleitoral, os três partidos que hoje integram a coalizão — o Social-Democrata, SPD, o Verde e o Liberal — proferiram duros discursos contra a Rússia. Após tomarem posse, em dezembro, eles se revelaram muito mais cautelosos.
"Uma coisa é o que se diz na campanha, outra coisa é governar um país", diz Lehmann. "Os americanos hoje estão decepcionados com os alemães porque acompanharam a campanha eleitoral e imaginaram uma reação diferente, mas a Alemanha sempre manteve uma posição mais diplomática com a Rússia, por razões históricas e políticas."
Quem comanda a pasta de Relações Exteriores é Annalena Baerbock, que afinou bastante o discurso contra a Rússia nas últimas semanas. "Ela é muito inexperiente e sabe pouco de política externa, enquanto que a diplomacia russa, comandada por Sergey Lavrov, é muito bem preparada", diz Lehmann.
Olaf Scholz não quer uma crise internacional, porque está mais focado nos problemas internos do país, como a pandemia e a economia. "Além disso, há uma relutância muito grande por parte da opinião pública, que não quer se envolver em conflitos sem relação direta com o país", diz Lehmann.
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Comentários (1)
Jose
2022-02-07 20:42:31Só quem está relativamente perto da fronteira russa sabe o tipo de confusão que poderá emergir a partir de um conflito. Daí a posição alemã!