Cúpula pela Democracia de Biden vai pressionar Jair Bolsonaro
O governo dos Estados Unidos ainda não convidou Jair Bolsonaro para a Cúpula da Democracia, marcada para os dias 9 e 10 de dezembro. Em nota enviada a Crusoé, o Departamento de Estado não respondeu se o presidente brasileiro será convidado e fez questão de frisar que a Casa Branca espera dos países participantes que...
O governo dos Estados Unidos ainda não convidou Jair Bolsonaro para a Cúpula da Democracia, marcada para os dias 9 e 10 de dezembro. Em nota enviada a Crusoé, o Departamento de Estado não respondeu se o presidente brasileiro será convidado e fez questão de frisar que a Casa Branca espera dos países participantes que mostrem "compromissos significativos" com a democracia, com o combate à corrupção e com os direitos humanos.
Parece, à primeira vista, uma resposta trivial. Mas é um sinal eloquente de que a administração Biden, assim como fez na cúpula recente que discutiu providências de governos estrangeiros relacionadas ao meio ambiente, aproveitará o evento para cobrar de países como o Brasil manifestações explícitas de apreço a princípios que, por aqui, foram abandonados pelo governo nos últimos tempos -- exemplo disso são os constantes ataques de Bolsonaro ao Judiciário e a cada mais vez explícita política oficial de desmontar a Operação Lava Jato.
Tudo indica que Bolsonaro deverá, sim, ser convidado. Mas, se participar, será instado a se manifestar claramente sobre o compromisso de seu governo com esses temas.
Diz a nota do governo americano: "A Casa Branca ainda não fez os convites para a Cúpula pela Democracia. Estamos começando a discutir os objetivos para a Cúpula com nossos parceiros bilaterais e principais atores da sociedade civil de democracias consolidadas e emergentes, representando os mais variados pontos de vista possíveis. Estamos pedindo aos países participantes que mostrem compromissos significativos que promovam a democracia, combatam a corrupção e incentivem o respeito pelos direitos humanos tanto em seu país quanto internacionalmente. Os Estados Unidos farão compromissos semelhantes".
"Continuaremos trabalhando com os participantes da Cúpula e com outros governos ao redor do mundo para tratar de retrocessos democráticos, promoção de direitos humanos e combate à corrupção em casa e em outros países — seja no contexto da Cúpula ou fora dela", segue o texto.
A mensagem para o Palácio do Planalto está nas entrelinhas. No Brasil, seguidores do presidente Jair Bolsonaro marcaram para o feriado de Sete de setembro manifestações contra o Supremo Tribunal Federal. Os atos estão em linha com manifestações do próprio presidente, que vem atacando sistematicamente o Judiciário, a imprensa e o sistema eleitoral. "Esta é uma nota burocrática, mas que ao mesmo tempo emite um alerta. Bolsonaro é um caso preocupante para os americanos, que provavelmente vão querer esperar para ver o que vai acontecer no Sete de setembro", diz o diplomata Paulo Roberto de Almeida.
Organizada para acontecer de maneira virtual, a Cúpula terá um caráter principalmente simbólico, sem grandes consequências práticas. Chefes de governo e de estado, empresários e líderes de organizações civis farão discursos por alguns breves minutos. Entre os diplomatas, ninguém acredita que exista a possibilidade de o Brasil ficar de fora. Mas a mensagem do Departamento de Estado insinua que o espaço dedicado ao governo brasileiro não deverá ser de destaque.
"A mensagem dos americanos não demonstra qualquer senso de camaradagem ou de parceria. Ao dizer que os Estados Unidos estão conversando com parceiros bilaterais, o que isso significa é que eles não estão falando com o Brasil. É como se alguém perguntasse se será convidado para uma festa e o anfitrião respondesse que irá entrar em contato em breve ou que ele torce para que a pessoa possa ir", diz o analista político americano Peter Hakim, do think tank Diálogo Interamericano, em Washington. "Se o Brasil for convidado mais tarde, provavelmente será como um país secundário."
A ideia de uma Cúpula pela Democracia surgiu ainda no ano passado, quando Biden achou necessário isolar a China e mostrar ao mundo que os Estados Unidos seguiam no mesmo rumo, apesar dos ataques do ex-presidente Donald Trump contra as instituições. A invasão do Capitólio no dia 6 de janeiro deste ano expôs que a democracia americana ainda corria alguns riscos, e os planos foram adiados. No início de agosto, o assunto voltou com força após um anúncio de Biden.
Ao criar expectativas sobre quem vai entrar na lista de convidados da cúpula, Biden tenta influenciar outros chefes de governo que desejam ser aceitos no exterior e se preocupam com a própria imagem. "Essa sempre foi uma característica dos presidentes do Partido Democrata, em maior ou menor grau", diz o embaixador Rubens Ricupero.
Para Ricupero, a organização de uma Cúpula pela Democracia pode ter algum efeito no Brasil, ainda que o país não estivesse no centro das atenções em sua origem. "Qualquer um que hoje esteja pensando em promover ou apoiar um golpe, seja das Forças Armadas, das polícias, do Congresso ou de setores da sociedade, sabe que os Estados Unidos não irão tolerar uma ruptura. É um cenário oposto ao que havia em 1964, quando os americanos estavam claramente encorajando um golpe", diz Ricupero. "Acho que essa postura americana provavelmente fará com que muitos desistam de uma aventura."
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Comentários (10)
Anna
2021-08-25 18:33:35Isso é piada? Defensores da Democracia e dos Direitos Humanos para quem? O que acabaram de fazer no Afeganistão desmascara essas intenções. E nós estamos em democracia e defendendo os direitos humanos, apesar da instituição "inominável"...
Leonardo
2021-08-25 16:22:34Os EUA deixarão seus aliados sauditas de fora? E os do Uzbequistão também?
NeutronLento
2021-08-25 16:08:36Vai ser engraçado ver nossos militares bolsonaristas terem que aprender chinês (nem russo mais será).
Edmundo
2021-08-25 14:35:43Mas tem pressionar mesmo Bolsonaro foi culpado mandar tirar as tropas do Afeganistão!kkkk
Lenora
2021-08-25 14:07:19Agora vai... kkkkkkkk
João
2021-08-25 13:21:05Quero ver é pressionar o Talibā……
William
2021-08-25 12:51:32A sorte dos EUA é que os Estados são independentes.
William
2021-08-25 12:50:02Quem manda é a vice e logo vai empurrar o Biden pra fora.
William
2021-08-25 12:45:11Biden democracia 😄😂😁🐁. Corrupção 😄😂😁🐁. O cara está deixando o povo afegão morrer🐁. Parem de hipocrisia. Isso é a esquerda MALDITA.
Marco Antônio Rodrigues
2021-08-25 11:55:33Esse é o chefe de verdade! Se eu fosse ele nem convidava quem não acrescenta nada, o bananal é irrelevante e o pangaré mais ainda