Apesar de admitir cloroquina, Cuba costuma tratar infectados por coronavírus com outro remédio
O ex-ministro de Saúde Eduardo Pazuello (foto) tem repetido durante seus dois dias de depoimento à CPI da Covid que 29 países teriam protocolos de uso de cloroquina contra o coronavírus, entre os quais Cuba. De fato, a sexta e última versão do protocolo cubano contra a Covid admite o uso da cloroquina como um...
O ex-ministro de Saúde Eduardo Pazuello (foto) tem repetido durante seus dois dias de depoimento à CPI da Covid que 29 países teriam protocolos de uso de cloroquina contra o coronavírus, entre os quais Cuba.
De fato, a sexta e última versão do protocolo cubano contra a Covid admite o uso da cloroquina como um "tratamento antiviral", apesar de o remédio não ter sua eficiência comprovada contra o coronavírus e de ter sido contraindicado pela Agência de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos, FDA, e pela Agência Europeia de Medicamentos, EMA.
Em Cuba, segundo o protocolo, maiores de 17 anos podem ingerir um comprimido de cloroquina a cada doze horas, ao longo de dez dias. Para quem não chegou a essa idade, a dose deve ser ajustada. "Seu uso requer um monitoramento cardíaco diário e um estudo da função do fígado", diz a recomendação.
Ocorre que a cloroquina não é um remédio altamente disponível em Cuba. Apesar de ser um medicamento relativamente barato, cubanos que tiveram Covid na ilha ouvidos por Crusoé relataram não ter sido tratados com essa droga. Cuba tem uma escassez geral de remédios. Na maioria dos casos, em vez de cloroquina, os cubanos fazem uso do tratamento com interferon, que é produzido localmente.
"Em abril, minha mãe de 92 anos e e minha irmã de 54 anos foram contagiadas com o vírus chinês [coronavírus]. Elas vieram para minha casa em um final de semana e passaram o vírus para mim. Para todos nós, o único remédio que os médicos deram foi o interferon. Minha irmã recebeu quatro doses. Eu e minha mãe, cinco doses", diz o dissidente cubano Leon Padron Azcuy, que vive em Havana e trabalha como jornalista independente.
"Mas o interferon produz várias reações adversas, como dores de cabeça e nas articulações. No primeiro dia, eles me deram um analgésico. Nos dias seguintes, não tinha mais remédio contra a dor."
Uma injeção de interferon vale tanto quanto um comprimido de cloroquina. Não há comprovação científica de que possa funcionar contra a Covid. "O interferon pode até ter uma evidência biológica alta no laboratório, mas os dados clínicos são fracos e a droga gera efeitos adversos consideráveis", diz o imunologista Edécio Cunha-Neto, da Faculdade de Medicina da USP. "O interferon não foi testado em grandes ensaios clínicos controlados."
Além disso, há um ano, um estudo do MIT concluiu que o medicamento poderia ter um efeito duplo. Ao mesmo tempo em que pode ajudar as células do corpo a sobreviver a danos causados pelo vírus, também pode ajudar o coronavírus a infectar mais células.
Quando Pazuello diz que Cuba "é mundialmente conhecida pela medicina avançada", vale acompanhar também como a ditadura está imunizando a população. No último dia 12, o país começou a vacinar todos os seus habitantes com mais de 60 anos com duas vacinas produzidas localmente, a Soberana 02 e a Abdala. Nenhuma delas teve eficiência comprovada ou resultados da fase 3 divulgados.
Assim, embora Cuba e o Brasil estejam em extremos ideológicos opostos, os dois países compartilham o desprezo pela ciência e a urgência em impulsionar remédios sem eficiência comprovada.
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Comentários (3)
Olga
2021-05-20 18:15:03qual ciência avançada em Cuba?
Roberto
2021-05-20 14:37:45Em Cuba não tem CPI. Se alguém reclamar, desaparece.
Jessica
2021-05-20 14:34:57Este é um comentário