Faltou 956 dias mas recebeu 583 mil reais
Uma pesquisadora da Fiocruz (foto) foi condenada no mês passado pela Justiça Federal do Rio de Janeiro a devolver cerca de 1 milhão de reais aos cofres públicos por ter faltado ao trabalho mas recebido o salário normalmente. O caso mostra como a burocracia nas repartições públicas pode gerar distorções e situações inimagináveis. De acordo com...
Uma pesquisadora da Fiocruz (foto) foi condenada no mês passado pela Justiça Federal do Rio de Janeiro a devolver cerca de 1 milhão de reais aos cofres públicos por ter faltado ao trabalho mas recebido o salário normalmente.
O caso mostra como a burocracia nas repartições públicas pode gerar distorções e situações inimagináveis. De acordo com a sentença do juiz Renato Souza, a servidora Elizabeth Sampaio ficou exatos 956 dias sem aparecer no trabalho, entre 2010 e 2014. Só agora acabou condenada por improbidade. No período de ausência, ganhou 583 mil reais em salários – metade do que ela terá de devolver. O restante do valor estipulado na sentença é de uma multa.
"Considerando a gravidade que denota a situação de um servidor público que se ausenta do trabalho por um lapso de 956 dias, sem autorização para fazê-lo, é cabível a cominação das seguintes sanções: i) ressarcimento integral do dano, no valor de R$ 583.140,54, segundo o cálculo contido no relatório da Comissão de Sindicância, com os acréscimos a seguir discriminados; ii) perda da função pública; iii) pagamento de multa civil no mesmo valor atualizado do ressarcimento (uma vez o valor do dano – in casu, do acréscimo patrimonial). Tais sanções são suficientes para a reprimenda da conduta da ré", escreveu o juiz.
Tudo isso aconteceu porque uma superior liberou informalmente a pesquisadora para morar nos Estados Unidos. Segundo a chefe e a subordinada, no outro país, ela iria participar de pesquisas sobre hanseníase. A chefe, Euzenir Nunes, também foi condenada pela Justiça a devolver os mesmos 583 mil que a subordinada ganhou como salário.
A Fiocruz até chegou a abrir um processo interno, que concluiu pelas mesmas irregularidades e sugeriu a demissão de Elizabeth. Mas o presidente do órgão à época, Paulo Gadelha, entendeu que ficar 956 dias longe do trabalho merecia apenas uma suspensão de 90 dias.
Em nota, a Fiocruz afirmou que essa decisão foi baseada na produção científica dela nos Estados Unidos – embora, de acordo com a sentença, não houvesse autorização para ficar fora do país. “A fundamentação para tal decisão encontra-se no julgamento do processo e baseia-se nas atividades e contribuições dadas pela servidora à Fiocruz durante o período em que esteve fora do país, incluindo sua produção científica e formação de recursos humanos em nível de mestrado e doutorado. Não cabe posicionamento da atual gestão, uma vez que todas as ações decorreram de sindicância e processo administrativo disciplinar, devidamente instaurados e onde foram adotados todos os procedimentos para apuração das responsabilidades em âmbito administrativo”.
O órgão ressaltou ainda que a denúncia do Ministério Público foi fundamentada na apuração interna da comissão de sindicância. O caso segue em aberto, e as servidoras recorreram da sentença. Enquanto o processo tramitava, elas se aposentaram da fundação.
Crusoé não localizou as servidoras. Na sentença, o juiz destacou trecho do depoimento em que Elizabeth admitiu as irregularidades, mas disse estar ajudando a produção científica e a saúde, mesmo fora do país. "Gostaria de me redimir da irregularidade cometida. Quero ainda enfatizar que tive, por todo este período, a intenção única de trabalhar numa perspectiva de melhorar os recursos humanos e a visibilidade científica internacional da Fiocruz, no intuito de atender efetivamente aos interesses científicos de cooperação da Instituição Fiocruz", defendeu-se.
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Comentários (10)
Valdomiro
2019-02-14 18:17:21Ótimo. Se formos olhar para outras repartições públicas, vamos descobrir milhares de pessoas que recebem sem trabalhar. Enquanto pagamos impostos a duras penas.
Aron
2019-02-13 15:35:06Falta agora o chefe da "pesquisadora". Não consigo imaginar alguém ausente por mais de dois anos e meio e o "chefe" não perceber.
Domingos
2019-02-13 13:56:39Esta reportagem me fez lembrar de uma festa onde tive contato com pessoas já de idade e que se diziam pesquisadores da Fiocruz e trabalhavam em casa, porém, quando questionados se tinham alguma publicação de suas pesquisas, diziam que ainda não. Acho que se for feita uma auditoria no órgão, é possível que encontre outros não residentes no exterior, mas aqui mesmo no Brasil.
Bel
2019-02-13 11:50:43Não vale a defesa. Funcionário públicos merecen uma investigacâo do ministério público. Vai pegar muitas falcatruas.
Edison
2019-02-13 11:50:13ahhh ta.........tendi.
Max
2019-02-13 11:40:30A condenação partiu da Justiça Federal do Rio de Janeiro. Fiocruz é do governo, subordinada ao Ministério da Saúde. Ministros MORO e MANDETTA: olho vivo!
PEDRO
2019-02-13 11:07:40É muito correto devolver e pagar multa. Agora, não tem um diretor, gerente, chefe, qualquer um que recebe uma FG (função gratificada) por cargo de chefia a ser responsabilizo? Tá fácil ter cargo em instituição pública heim? É chefe mas não responde?
Maria
2019-02-13 10:41:24Vontade de perguntar lá onde ela trabalhava o quanto ela atendeu "efetivamente aos interesses científicos de cooperação da Instituição Fiocruz"... Além de determinar a suspensão das aposentadorias, claro.
Maria do carmo
2019-02-13 10:21:54Tem que se rever as condutas independente, o estatuto do servidor e para ser cumprindo por todos ; senão sempre teremos estas exceções que privilegiam as minorias
Fabiano
2019-02-13 09:38:43Não vai dar em nada.