André Bueno/CMSP

JBS bancou mais de 90% do faturamento da empresa de Kassab

14.03.21 08:12

As quebras de sigilo bancário apresentadas na denúncia contra Gilberto Kassab (foto) na Justiça Eleitoral de São Paulo por supostos pagamentos ilícitos da JBS mostram que o frigorífico dos irmãos Joesley e Wesley Batista bancou mais de 90% do faturamento de uma empresa de consultoria da qual o ex-ministro e presidente nacional do PSD foi sócio até 2014.

Kassab virou réu na última quinta-feira, 11, acusado de corrupção passiva, lavagem de dinheiro, caixa 2 e associação criminosa pelo suposto recebimento de 16,5 milhões de reais da JBS, entre os anos de 2014 e 2016. Desse total, segundo a denúncia oferecida pelo Ministério Público paulista, 13,5 milhões foram repassados ao político por meio da Yapê Assessoria e Consultoria, empresa da família Kassab. O restante foi por doação oficial ao PSD.

Na denúncia, à qual Crusoé teve acesso, os promotores chamam atenção para o fato de que 93% do faturamento anual da Yapê entre os anos de 2011 e 2016 provinham de uma mesma fonte pagadora: a JBS. Ao todo, a empresa da família Kassab recebeu 18,1 milhões de reais do frigorífico dos irmãos Batista no período de seis anos.

Em acordo de delação premiada celebrado pelo Ministério Público Federal, Wesley Batista afirmou que usou contratos fictícios e superfaturados da JBS com a Yapê para pagar propina a Kassab, para que ele defendesse os interesses do grupo junto aos órgãos do governo federal. Kassab foi prefeito de São Paulo entre os anos de 2006 e 2012 e ministro das Cidades e da Ciência e Tecnologia entre 2015 e 2019, nos governos de Dilma Rousseff e Michel Temer.

Segundo o MP, a JBS usou um contrato de locação de caminhões que o grupo Bertin, comprado pelos irmãos Batista, tinha com a empresa de Kassab. Em 2014, quando o ex-prefeito decidiu concorrer ao Senado, ele teria solicitado nova contribuição ilegal. De acordo com a denúncia, foram 5,5 milhões de reais por meio de um contrato fictício e os pagamentos foram divididos em parcelas de 250 mil reais.

Os pagamentos teriam sido recebidos por intermédio de Renato Kassab, irmão do ex-ministro, e Flávio Chuery, homem de confiança de Kassab tanto no PSD quanto na Yapê. Os dois também foram denunciados pelo MP e viraram réus depois que o juiz Marco Antonio Martin Vargas, da 1ª Zona Eleitoral de São Paulo, recebeu a denúncia.

Extratos de uma conta bancária de Kassab mostram que em 2012, quando ele ainda era prefeito e a JBS já pagava à Yapê, o ex-ministro recebeu diretamente 460 mil reais em depósitos feitos pela empresa familiar.

Em nota, Kassab negou que os recursos recebidos do frigorífico dos irmãos Batista sejam ilícitos. “A defesa irá demonstrar, com farta documentação processual e de forma cabal e inequívoca, que houve a real e efetiva prestação dos serviços dos contratos, com valores adequados e compatíveis com os praticados no mercado, executados mediante relação contratual entre empresas privadas. Os valores foram regularmente recebidos em decorrência de uma atividade empresarial lícita que não guarda relação com eventuais funções públicas, nem com atividade político partidária exercidas”, afirmou o ex-ministro, por meio de nota.

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