Uma disputa territorial centenária entre Brasil e Uruguai voltou ao centro das atenções nesta semana, após o Google Maps atualizar a demarcação da região de Vila Albornoz, no município gaúcho de Santana do Livramento. A plataforma passou a exibir uma linha pontilhada — sinal gráfico usado para indicar zonas internacionais em disputa — ao redor da área de 237 km², reivindicada há décadas pelo país vizinho.
A mudança na cartografia digital alinha o caso brasileiro a outros conflitos fronteiriços de notoriedade internacional, como os da Crimeia, Saara Ocidental, Sudão do Sul e a região da Caxemira. No caso do Uruguai, a área é chamada de Rincón de Artigas e a reivindicação tem origem em 1934, quando Montevidéu questionou a localização do Marco 49-I, marco geodésico situado próximo à localidade de Masoller.
A controvérsia, adormecida por décadas, ganhou novo fôlego com o início das operações do Parque Eólico Coxilha Negra, instalado em 2021 dentro da área contestada. Segundo autoridades uruguaias, o governo brasileiro não comunicou oficialmente o início das obras, o que levou o Ministério das Relações Exteriores do Uruguai a enviar uma nota diplomática ao Itamaraty.
No documento, Montevidéu afirma que a construção “não implica reconhecimento da soberania brasileira sobre o território” e solicita a retomada de discussões bilaterais sobre a demarcação da fronteira.
A região disputada corresponde a cerca de 22 mil hectares — maior que a própria capital uruguaia, Montevidéu — e abriga comunidades rurais brasileiras que vivem sob incerteza jurídica.
Conforme reportagem publicada pelo G1, moradores de Vila Albornoz mantêm rotinas agrícolas e relações comerciais com ambos os lados da fronteira, mas relatam surpresa com o ressurgimento da controvérsia e a súbita visibilidade do conflito.
Apesar da tensão diplomática, não há registros de ações militares ou mobilizações policiais na área. A situação é tratada pelos governos como uma disputa jurídica e diplomática, embora especialistas em relações internacionais alertem que a atualização cartográfica feita pelo Google pode intensificar pressões políticas e acelerar negociações.
Enquanto isso, o triângulo invertido tracejado no mapa segue como símbolo de uma disputa silenciosa, mas sensível, em pleno coração do Cone Sul.