Divulgação/ Casa RosadaO presidente na posse: ajustes difíceis no início do mandato atingiram objetivo principal

O sucesso de Milei

Ao cortar gastos, o presidente da Argentina consegue controlar a inflação. E tudo isso sem perder aprovação popular
28.06.24

O presidente da Argentina, Javier Milei, obteve duas grandes conquistas ao completar meio ano de mandato. A primeira se deu na economia. Ao seguir uma cartilha rigorosa de corte de gastos, oposta àquela mantida pelo governo petista no Brasil, Milei manteve a inflação sob controle — um feito digno de nota em um país com o histórico da Argentina. A segunda conquista foi no Congresso, que aprovou as primeiras reformas do presidente na madrugada desta sexta-feira, 28. Apesar de o pacotão ter se desidratado ao longo de um semestre de negociações, o governo manteve medidas que poderão viabilizar a agenda liberal nos próximos meses. A Casa Rosada poderá, por exemplo, sancionar leis sobre alguns temas, dentre eles a política econômica, sem precisar do Legislativo.

Com medidas duras, mas necessárias, o libertário mudou drasticamente a situação do seu país. A Argentina não vive mais a realidade da virada de 2023 a 2024, quando era preciso reajustar os preços dos supermercados quase toda semana. Cenas comuns de clientes sendo surpreendidos no caixa por terem escolhido produtos com etiquetas de preços defasadas não ocorrem mais tanto. A inflação mensal que foi de 25,5% em dezembro caiu para 4,2% em maio.

Milei tem contido a inflação, porque, pela primeira vez em uma década, o Estado argentino gasta menos do que arrecada, o chamado superávit. Por cinco meses seguidos, entre janeiro e maio, a Casa Rosada registrou superávit fiscal, incluindo os pagamentos de dívidas e juros. Com esse objetivo atingido, o Banco Central não precisa emitir pesos para pagar as contas do governo. Como a multiplicação da moeda é um dos principais componentes da inflação, o problema foi cortado pela raiz.

Cortar gastos públicos com fez Milei, que gostava de posar com uma motosserra, é uma medida drástica, que tem consequências sociais. Os argentinos mais pobres, que dependem de subsídios estatais e do vivem do pagamento de aposentadorias, foram os mais afetados. Em vários momentos, funcionários públicos foram às ruas protestar contra esses cortes. Com os cortes de investimentos públicos e congelamento das aposentadorias, a economia sofreu um baque. O PIB retraiu 5,1% no primeiro trimestre, comparado ao mesmo período em 2023.

“Esse é o efeito esperado de um programa de reajuste de uma economia que vinha fora dos trilhos. Arrumar a casa implica em pagar um custo. Neste caso, foi aprofundar a recessão”, diz Juan Luis Bour, economista-chefe do think tank argentino Fundação de Investigações Econômicas Latinoamericanas. Alguns setores importantes da economia argentina, como a indústria, estão em recessão desde 2022.

Mas a população, em geral, tem passado pelo período de ajuste com resignação. Primeiro, porque Milei anunciou que faria exatamente isso e venceu as eleições com essa promessa. Segundo, porque todos esperam que a economia melhore no momento seguinte. Quando os argentinos perceberem que o salário não irá perder valor até o final do mês, haverá uma sensação de alívio. É o mesmo fenômeno que ocorreu quando o Plano Real foi estabelecido no Brasil, há exatos 30 anos.

O êxito de Milei foi manter apoio importante da população apesar de equilibrar o orçamento de uma maneira muito dura. Foi um período de emergência”, diz Bour. O libertário segue com aprovação na casa dos 55%, o que é muito próximo da parcela de votos que o elegeu à Casa Rosada no segundo turno, em novembro.

O que Milei tem pela frente é uma corrida contra o tempo. Ele precisa passar a sensação aos argentinos que, apesar desse período de ajustes, a situação irá melhorar em breve. Segundo um levantamento de março, 46% dos argentinos acreditam que a sociedade não “pode esperar” mais de seis meses até “ver bons resultados da política econômica”. E 80% acreditam que a paciência não passa de um ano.

Enquanto a Argentina se ajusta, o real brasileiro saltou da sétima para a quinta posição entre as moedas que mais se desvalorizaram frente ao dólar nos últimos seis meses. O real desbancou justamente o peso argentino da quinta colocação — todas as moedas que depreciaram mais que a brasileira vêm de países com histórico recente de conflitos civis. A desvalorização do real ocorre porque o governo brasileiro vai na contramão do argentino e aumentou os gastos em 6% entre janeiro e abril, em relação a 2023. “O governo brasileiro continua burlando o arcabouço fiscal. O crescimento dos gastos é o modo de operar desta gestão”, diz Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, em referência à regra de responsabilidade fiscal sancionada por Lula no ano passado.

Milei tem um desafio muito maior que o de Lula, pois pegou uma economia à beira do precipício. O argentino, contudo, sabe identificar a causa da inflação e tem conseguido combatê-la.

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  1. O país chega ao fundo do poço devido à irresponsabilidade fiscal de populistas. Há mudança para uma política fiscal de austeridade dura. A consequência é o sofrimento de largos setores da sociedade. Volta o político populista. É um círculo vicioso difícil de desmontar

  2. Lula, seja inteligente siga o exemplo de Milei na Argentina. Sabemos que vc não tem preparo e nada sabe sobre economia de governos, mas com quase 80 anos vc deveria ter estudado um pouco sobre assuntos que dizem respeito ao seu governo. Boa sorte Milei e hermanos argentinos. Nós aqui no Brasil temos Lula e estamos fodidos!

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