A história da estudante de Medicina que descobriu asteroides

02.08.24

A estudante universitária Verena Paccola nasceu em Campinas, fez pesquisa na UFMG com um mentor de Harvard, fez pesquisa no hospital Albert Einstein, formou-se na Unicamp como técnica de enfermagem, estudou neurociência em Vancouver, no Canadá, representou o Brasil em Assembleia da Juventude na ONU, descobriu mais de 25 asteroides em projeto da agência especial americana Nasa, ganhou três medalhas, um certificado e um troféu do Ministério da Ciência e Tecnologia em 2021, virou personagem da Turma da Mônica e atualmente cursa Medicina na USP.

Não sei se deu para perceber, mas eu sou muito inquieta”, diz Verena a Crusoé.

Deu, sim!

Verena é um dos exemplos de estudantes brasileiros de destaque que descobri em Boston, nos Estados Unidos, quando participei em abril de 2024 da Brazil Conference, e que me inspiraram a fazer esta série de entrevistas, iniciada, na edição passada desta revista com Matheus Farias, o primeiro brasileiro PhD em Engenharia em Harvard, e desdobrada na próxima edição com Sarah Borges, a primeira bolsista de Goiânia na famosa universidade americana.

O que une, para mim, a medicina e a astronomia, ciência espacial, é o desafio. É a curiosidade, porque tem muita coisa pra descobrir. Minha área preferida na medicina é o cérebro. Eu gosto de neuro. Eu quero ser neurocirurgiã. O cérebro ainda é um mistério para a gente. A gente não sabe acho que nem metade do que tem para saber do cérebro e é a mesma coisa do espaço. Então, sempre foram duas áreas que me chamaram muita atenção”, diz Verena.

Ela não só manifesta paixão por adquirir novos conhecimentos e expandir sua visão de mundo, mas também a perseverança para correr atrás de seus sonhos.

Quando eu coloco uma coisa na cabeça, é difícil para tirar”, confessa.

Para quem, como eu, está acostumado a ver milhares de jovens abandonando ideais para se conformarem com empregos tediosos e prazeres imediatos, sem maiores realizações, recomendo conhecer a trajetória e a mentalidade de quem enxerga tão longe que encontra até asteroide no espaço sideral.

Assista à entrevista abaixo:

 

Verena, antes de a gente falar da descoberta de asteroides, o que levou você para medicina?
Então, eu não sou de uma família de médicos. Eu sou a primeira. Eu não sei dizer o que me levou para medicina. Sempre foi algo muito inato. Quando era pequena, eu gostava de ler sobre os cinco sentidos, sobre o corpo humano, brincava que eu era médica… Então, sempre foi algo bem inato. E sempre que me perguntam isso, eu fico meio sem resposta. Eu realmente nasci com essa afinidade.

Quando adolescente, já sabia que ia ser médica?
Esse foi uma sorte que eu tive na vida, porque vejo o pessoal sofrendo para decidir o que vai prestar, onde… Eu sempre sonhei fazer medicina na USP.

Você já visava entrar na USP?
Olha, era o meu sonho, mas eu acabei seguindo no caminho diferente. Eu me formei como técnica de enfermagem na Unicamp em 2017. Faz um tempo já… E eu estou no quarto ano da Medicina. Então, se você for contar, não bate. Quando acabei o ensino médio, eu passei um ano fazendo pesquisa com neurociência computacional para crianças do espectro autista no Albert Einstein aqui, em São Paulo. E, do Einstein, eu fui para o Canadá fazer neurociência, porque lá, no exterior, medicina é pós-graduação. Eu via ir para o exterior como o único caminho para fazer essa parte acadêmica que eu gostaria de fazer.

Tudo isso antes da USP? Você já estava estudando neurociência no exterior antes de entrar para faculdade?
Para explicar um pouco melhor, no meu último ano de ensino médio, eu fui fazer uma pesquisa na UFMG [Universidade Federal de Minas Gerais] com um mentor de Harvard. Ele me falou como funcionava fazer pesquisa no exterior. E eu falei assim, tem que ir para o exterior então se eu quiser fazer pesquisa. Foi quando eu coloquei essa ideia na cabeça. Quando eu coloco uma coisa na cabeça, é difícil para tirar. Eu falei assim: vou para o exterior. Daí, eu fui fazer pesquisa no Einstein. Fui realmente para o exterior. E, nesse caminho, eu fui para a ONU [Nações Unidas] representar o Brasil na Assembleia da Juventude. Daí, eu me apaixonei mais ainda para sair aqui, para expandir minha visão de mundo. E foi indo… Mas, lá, a medicina é pós-graduação. Você faz quatro anos de graduação e faz uma pós em medicina. É a mesma coisa para a direita, eu acredito. E foi quando, por questões principalmente financeiras, mas também porque eu vi que o melhor caminho para eu seguir na medicina seria realmente no Brasil, eu retornei para o Brasil. Tive meses para estudar para o vestibular, depois de três anos longe do ensino médio. E eu fiz ensino médio público. Então eu já não tinha tido muitas matérias. Então, aprendi do zero para prestar a prova e entrar na USP.

E você nasceu no interior de São Paulo? Qual é a cidade?
Isso. Eu nasci em Campinas, mas passei minha infância em Salto. Uma cidade bem pequena, do lado de Itu.

E Ribeirão Preto entra na sua vida onde?
Na USP.

E esse estudo no exterior antes da USP, foi em qual cidade?
Foi em Vancouver, no Canadá.

Vancouver, no Canadá, passou uma friaca danada lá…
Sabe que não…

É que eu estou achando que você gosta de frio, né?
Eu gosto de frio.

Estava falando antes aqui que Ribeirão Preto é muito quente…
É muito quente, mas é uma ótima cidade, a faculdade, não tenho nada contra. Eu amo a USP. Mas é uma cidade quente, meu Deus. Você derrete lá. 

Como é que aconteceu essa história de você fazer uma experiência com a Nasa? Eles têm um programa para estrangeiros? Você fez daqui virtualmente? Você foi de novo para os Estados Unidos? Como que aconteceu isso na sua vida?
Como eu tava contando, eu voltei do Canadá e coincidiu com o começo da quarentena. Então, foi aquele primeiro ano de quarentena, 2020. Além de ter que começar a estudar para o vestibular pela primeira vez e rever tudo do ensino médio que eu não via havia anos, e talvez nem tivesse aprendido, eu tinha que ficar trancada no meu quarto. Não sei se deu para perceber, mas eu sou muito inquieta. Eu gostava, eu queria estar no hospital, queria estar fazendo pesquisa, queria estar em tal evento, queria estar assim no mundo… E tive que ficar trancada no quarto, estudando coisa de Ensino Médio. Para mim, foi uma tortura. Tortura! Meu Deus, além da pressão do vestibular…

Mas o fato de ficar em casa também acaba empurrando para o estudo.
Também ajudou, mas o que me move assim, realmente, é essa paixão por estar adquirindo novos conhecimentos. E, fora de casa, no mundo, a gente consegue muitos [conhecimentos]. Mas foi quando eu comecei a pesquisar oportunidades online e descobri que eu podia aprender a caçar asteroides, fazendo um treinamento.

E isso você descobriu num portal de internet?
É, eu pesquiso sempre muitas oportunidades. Assim, eu me deparei com essa e falei…

Mas você já tinha algum interesse por astronomia ou alguma coisa parecida?
Já, eu sou muito curiosa. Eu falo que o que une, para mim, a medicina e a astronomia, ciência espacial, é o desafio. É a curiosidade, porque tem muita coisa pra descobrir. Minha área preferida na medicina é o cérebro. Eu gosto de neuro. Eu quero ser neurocirurgiã. O cérebro ainda é um mistério para a gente. A gente não sabe acho que nem metade do que tem para saber do cérebro e é a mesma coisa do espaço. Então, sempre foram duas áreas que me chamaram muita atenção.

E tem todo um estudo sobre a relação entre os astros e o cérebro. Você se interessa por isso?
Numericamente, é bem semelhante.

Agora, qual é o mecanismo para descobrir asteroides? E você fez isso de casa? Quer dizer, eles têm um programa para você monitorar o espaço e você passou a se interessar e se tornou uma expert nesse programa?
Então, eu participei da primeira edição do caça asteroides no Brasil, foi feito pelo Ministério da Ciência e Tecnologia em 2020. Participei dessa edição, mas é um programa que acontece internacionalmente… todos os países, várias vezes ao ano… É gratuito. Você baixa um software, faz o treinamento deles e você passa a receber imagens de um telescópio que está no Havaí. E você faz análise pelo software das suas imagens, uma análise numérica visual, e envia um relatório para Harvard e eles analisam se é ou não asteroide para comunicar a Nasa.

Mas é você que identifica os asteroides por meio desse programa que traz a imagem resultantes de um telescópio no Havaí. É isso?
Vou explicar melhor. Eu faço um treinamento e passo a receber pacotes de imagem de um telescópio que está no Havaí. Cada pacote é composto por quatro imagens que são tiradas sequencialmente. Então, se elas estão tiradas a sequencialmente, todo mundo concorda que tem uma diferença de tempo entre a primeira e a última imagem. Então, o que eu analisava no software é o que mudou no espaço naquele período de tempo. Quando eu notava algo se movendo em uma órbita, o que eu achava que poderia ser uma órbita, eu fazia análise numérica desse objeto para ver se era um asteroide ou não.

São aquelas imagens que a gente tá acostumada a ver do espaço um fundo preto com um monte de brilho de estrelas? Como é que é?
É uma imagem meio cinza assim com uns pontinhos pretos. É confusa, uma imagem cinza em péssima qualidade, com os pontinhos pretos. Você pode inverter o padrão de cores também para… do preto e branco.

Aí, você faz uma busca alí um monitoramento e raciocinando por meio lógico a questão do tempo do espaço dando zoom…
Analisa cada pedaço, tem que ter muita paciência mesmo

E aí tem um asteroide que é considerado fraco, que é um dos mais relevantes para ser descoberto, e você descobrir um desses. Foi isso?
Eu descobri 25 asteroides, acho que mais até durante esse programa de caça asteroides. E me convidaram para receber uma medalha de honra ao mérito brasileira. Eu achava que eu ia receber só a medalha, só achei que era isso. E quando eu cheguei lá, eles me deram a medalha e também um troféu. Porque um dos asteroides que eu detectei é classificada como asteroide fraco, que é um asteroide que não teria sido detectada por software automáticos ou por pessoas normalmente. E, eu consegui detectar. E, normalmente, são os que caem na terra assim. Cai asteroide todo dia na Terra.

É, a gente acabou pulando alguns conceitos. Você sabe conceituar asteroide para o nosso público leigo. O que é um asteroide?
Eu também não sou da área de astronomia. Sou da área da saúde, mas o que eu aprendi envolvida com esse assunto é que asteroides são fragmentos que sobraram da formação inicial do nosso sistema solar. Então, eles podem ser por exemplo compostos de rochas ou metais. Eles circulam principalmente entre Marte e Júpiter. É a órbita principal de asteroides que a gente tem no nosso sistema. E é onde eu analiso normalmente para achar [asteroides]. 

E tem muitos que caem?
Isso. Todo dia cai. Não sei a quantidade certa agora do peso que cai de coisas espaciais na Terra, mas cai asteroide todo dia na Terra. Vira meteorito ou vira pó e a gente nem ficar sabendo.

Mas em geral não rende nenhum perigo para as pessoas?
Sabe quando você vê estrela cadente no céu? É um asteroide.

E a partir daí, o que mudou na sua vida?
Tudo. Nesse período, além de descobrir os asteroides o meu objetivo principal era entrar em medicina na USP. E eu alcancei. Foi tudo no mesmo período. Quem me ajudou a receber minha medalha, foi a USP, que financiou meia ida e eles publicaram quando eu retornei com a medalha e o troféu. E, eles publicaram a minha história no jornal da USP. E disso viralizou no Brasil.

Mas você entrou pelo vestibular?
Eu já era aluna já estava acabando o primeiro ano de medicina quando me chamaram para receber a medalha. Até então, a pandemia não permitia ter essa entrega de medalhas presenciais. Quando foi permitido, a USP me mandou para Brasília para receber. E quando eu voltei, eles publicaram minha história. Da USP, viralizou assim de um jeito que eu não consegui assim, até hoje, foi uma loucura. Daí, eu participei de monte de programas de TV, fui chamada para um monte de coisa… Virei personagem da Turma da Mônica, que é o negócio mais legal da minha vida inteira.

Conta essa história para gente. Como é que é virar personagem da Turma da Mônica?
É muito doido. Eu não sei, eu não consegui entender ainda. O Maurício de Souza agora é meu melhor amigo. Te amo, Maurício.

Você teve contato com ele?
Sim. Eu recebi uma homenagem da Turma da Mônica do Dia das Meninas e Mulheres na Ciência. Criaram o meu personagem. E, depois disso, já fui gravar podcast com eles com a Mônica, a filha do Maurício. Gravei podcast com ela. Aí, conheci o Maurício e ele apaixonado pelo espaço. O Maurício ama, ama o espaço… E eu aprendi a ler com os quadrinhos, com as histórias dele. Então, irado.

Em relação aos Estados Unidos, você é teve uma oportunidade de conhecer a Nasa, porque você descobriu o asteroide?
Acredita que não. Eu queria muito ter essa oportunidade. Não sei se as coisas teriam sido diferentes se não fosse pandemia quando tudo aconteceu, mas ainda não não estive lá.

A vez seguinte que você voltou aos Estados Unidos, não para turismo mas para alguma questão acadêmica, foi na Brazil Conference?
Sempre tive muita conexão assim de ver os laboratório de pesquisa lá então… No meu período lá em Boston, eu conheci pessoalmente agora o Dr. Leonardo Riella que fez aquele transplante do rim de suíno para humano. Ele é brasileiro. Ele é incrível, assim, acho que ele vai ganhar o Nobel em um futuro breve. E, foi muito legal, então sempre tive esse contato. A faculdade de medicina cobra muito da minha presença física e mental. Então, às vezes, fica difícil eu estar fora do país. Mas, como eu já te disse, também tinha feito projetos com a ONU. Estive na ONU para representar o Brasil na Assembleia da Juventude.

Onde você esteve?
Lá em Nova York, na ONU. Vi aquela salona da ONU. Foi muito legal. Então, sempre muito envolvida, mas não necessariamente presencialmente.

E Harvard, tem alguma conexão aí com a medicina que possa levar você a realizar estudos por lá?
Sim. O meu sonho era ir para Harvard. Sempre sonhei com isso. Eu te contei que eu tinha feito pesquisa com um mentor de Harvard durante meu último ano no Ensino Médio. Eu não vejo a hora de voltar para Harvard. Eu não sei ainda exatamente quando da minha graduação que vai ser, mas é incrível.

A estrutura? O que você viu lá de laboratório, de equipamento, que mais chamou sua atenção, além do ambiente universitário que, claro, é muito acolhedor?
Eu acho que atualmente também envolvendo cada vez mais com a área do empreendedorismo… E contado dessas coisas que aconteceram a malucas da minha história, eu entrei para o Forbes Under 30.

Pois é, está lá na conta de Instagram da Verena. Tem todos esses títulos. Já esse está ficando pequeno o espaço de descrição para caber tudo isso. Como é que foi essa história?
Sempre fui muito ligada na lista da Forbes. Tipo, um sonho assim. Parecia muito distante, mas sempre acompanhei quem tava na lista da Under the 30. 

Essa lista da Under the 30 quer dizer sub-30 anos. Ela é em relação a pessoas que estão desenvolvendo coisas interessantes? Ela é aberta a todas as áreas ou é mais restrita?
Até o ano passado, que foi o ano que eu entrei, eram 15 categorias diferentes. E eles selecionam os jovens de maior destaque do país para entrar ser destaque em cada uma dessas categorias. E, eu entrei na área de ciência e educação.

Você entrou como uma das 15 pessoas selecionadas do Brasil para disputar?
Não. A Forbes Brasil tem a lista fechada do Brasil. Então, eles selecionam os jovens de maior destaque aqui no Brasil dentro dessas 15 categorias. Eu não sei exatamente quantas pessoas que estão no total, mas daí eu fui destaque da ciência e educação.

Antes de você falar isso, você estava contando sobre Harvard… Isso foi só um parênteses aqui para mais uma qualificação.
Tem ligação, porque depois disso acabei criando muitos contatos e me envolvendo muito com esse meio do empreendedorismo e conhecendo muitas empresa. Então, foram muitas portas que foram abertas e eu tenho muito interesse por inovação. Fui aproveitando essas oportunidades e gostando cada vez mais da área de inovação. E, é notável que, em Harvard, a parte de inovação é muito avançada. Eles investem muito nisso. Então, é uma área que eu quero explorar lá.

Inovação em que ponto exatamente? Você diz inovação tecnológica, são equipamentos? É mais essa área?
É desenvolvimento de novas inovações para a área da saúde. Então, quem está à frente das novas tecnologias é de Inteligência Artificial, novos produtos físicos mesmo, protótipos. É de diversas áreas.

E qual é a área da Medicina que mais fascina você?
Neuro, sério.

Neurociência, continuou sendo? Você deu uma volta alí de enfermagem, estudou neurociencia, depois foi para a USP, mas continua buscando o caminho dessa especialização?
Nunca mudei de ideia sobre a neuro. Sempre foi.

Que ano você está da faculdade?
Quarto ano.

E você pensa em fazer, por exemplo, uma residência no exterior, algo assim?
Então, agora, eu estou nessa fase… Eu estava até agora falando com os neurocirurgiões para ver o que eu ia decidir: se eu quero fazer residência aqui ou fora. E eu acho que vou prestar as provas para o exterior mesmo. O que eu tenho que prestar se chama Step, Step 1 e Step 2. Agora, eu estou vendo esse novo universo. Porque é tudo diferente aqui e lá. É a mesma coisa com o vestibular. É tudo diferente o acesso.

E quantos anos são a Faculdade de Medicina da USP? Você está no quarto e faltam dois?
Seis.

Na escola, você era aquela pessoa que sentava na frente da sala, que copiava toda a matéria e que era vista como pessoa mais dedicada aplicada?
As pessoas acham que eu tenho facilidade, mas a verdade é que eu sempre fui muito dedicada, com uma vontade de aprender muito grande.

Com o seu interesse para neurociência, você deve ver essa movimentação virtual, das redes sociais, como algo que pode auxiliar a abrir portas, mas que evidentemente não substitui o seu trabalho?
É, eu acho que a parte de Instagram e de postar coisa lá foi uma consequência da minha história ser divulgada. As pessoas procuraram saber ‘onde ela vive, o que ela come’. Na verdade, foi uma responsabilidade que eu senti que eu passei a ter… Quando eu tive esse estalo, foi quando eu acordei e vi uma solicitação de mensagem no meu Instagram falando assim: ‘Oi, Verena, minha filha de sete anos te viu ontem na TV e agora ela quer ser médica e astronauta’. Aí, eu falei assim: ‘Pô, olha o poder que contar a minha história pode ter na vida de uma garota’… Mulher, falando como mulher, a gente sabe as dificuldades que é ser mulher nesse mundo, e como é difícil a gente arranjar nosso espaço, historicamente falando. As coisas estão tendendo a melhorar, é óbvio, mas eu passo por situações quase que diariamente por ser mulher, sabe? Então, ainda não é fácil. E daí foi essa responsabilidade… Eu notei que tinha um poder de inspirar meninas. Para mim, isso é muito importante. Elas terem a consciência que o lugar delas é onde elas quiserem, se elas quiserem ser médicas, astronautas, caçar asteroides, fazer astrofísica, estar no gibi da Mônica, qualquer coisa. Eu acho que essa imagem que ficou muito importante. O Instagram é uma coisa bem secundária na minha vida, porque, poxa, fazer faculdade de período integral, numa faculdade tão puxada. E, eu tenho minhas prioridades muito claras na minha cabeça. Eu quero meu diploma e isso é inegociável. Então, eu quero ser uma boa médica, tendo assim notas excelentes na faculdade. O Instagram não vai me atrapalhar nisso. Mas, eu estou de férias essa semana, já volto semana que vem para faculdade. Daí, já é movimento mais no Instagram, já consigo mostrar mais coisa, mas eu acho que é muito importante também é ter esse foco em prioridades.

Como é que foi essa relação e o encantamento com esse universo que você acabou abrindo?
Legal. A minha família é a minha mãe e minha avó, na verdade. Eu nunca conheci meu pai. Então, as duas me criaram. Duas mulheres fortes criando uma nova mulher. Então, eu falo que sou uma mulher criada por mulheres, lutando por mulheres. E, eu quero dar o nome dos meus asteroides o nome da minha avó e o nome da minha mãe, só para nomear. Muito feliz, óbvio, e me apoiando… Sempre, eu cresci ouvindo que eu poderia ser o que eu quisesse ser da vida. Então, de bailarina, que eu gostava de fazer balé, até astronauta, que eu também tinha interesse. Então o que eu quisesse fazer. Eu sempre tive muito apoio. Isso foi uma sorte muito grande que eu tive na vida. Então, isso foi essencial para minha curiosidade de explorar o mundo.

Quer dizer que você gostaria de dar aos asteroides que você descobriu os nomes da sua mãe e da sua avó? Quais são os nomes delas?
Rochelle e Natália.

Verena, e em relação ao futuro, se você pudesse mandar uma mensagem para os demais estudantes no Brasil agora que você conseguiu abrir tantas portas, que você tá num caminho muito legal papra se qualificar.
Isso! Eu acho que as coisas principais que eu foco diariamente são na verdade três palavras que eu repito e numa base diária várias vezes por dia que a primeira é a curiosidade, que a gente estava falando aqui. Então, explorar o mundo, fazer perguntas e principalmente ir atrás dessas respostas. A segunda palavra é coragem, porque não vai ser fácil. Não é fácil quebrar barreiras que existem historicamente, como é o caso que eu abordei aqui da mulher na ciência. Então, ter coragem de ir atrás de explorar essas curiosidades que você tem. A terceira palavra é empatia, porque não adianta nada você ter o conhecimento e não saber como usar, não saber olhar para a pessoa do seu lado e entender o que ela está passando. Então, essas três coisas são o maior conselho que eu poderia dar e é o que eu uso todos os dias.

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  1. Excelente oportunidade para lembrar que: 1) Apesar dos numerosos exemplos em contrário, somos um povo de valor; e 2) Podemos ter esperança de um futuro melhor. Parabéns FBM, parabéns Verena.

  2. Muito bom reencontrar Felipe Moura Brasil enriquecendo ainda mais a nova e versátil CRUSOÉ! Além de oferecer preciosas histórias da vida de gente importante pelo mérito próprio, espero que venha colaborar também aqui na CRUSOÉ, além de pontificar no ANTAGONISTA…

  3. Emocionante relato dando conta da vida de uma jovem brasileira inquieta, curiosa, disposta e ambiciosa pelo conhecimento, vencendo barreiras e ganhando o mundo… sem preguiça ou protelações! Sobretudo, uma estudante BRASILEIRA!!! 👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼

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