O Brazil não conhece o Brasil
Sem energia, sem logística e sem estrutura, ninguém quer, ou consegue, permanecer no meio da floresta
A reação brasileira ao chanceler alemão mostrou mais sobre o ego nacional do que sobre Belém.
Os brasileiros não conhecem a própria Amazônia, tampouco Belém e seus desafios.
E isso não é questão de opinião: os rankings nacionais de turismo mostram isso ano após ano.
Belém não aparece entre os destinos mais visitados do Brasil.
Nunca figura no top 10, top 20, nem top 30.
Em 2023 ficou em 33º lugar entre os destinos mais procurados durante a pandemia.
Em 2025, só entrou em alguma lista relevante porque virou “destino emergente” em virtude da COP, num pico artificial que precisará ser testado nos dados de 2026.
A verdade é que os brasileiros não elegem Belém como destino turístico.
Se a falta de estrutura veio antes ou depois da falta de interesse dos visitantes, o fato permanece: Belém sabidamente não tinha os atributos necessários para receber um evento de tal porte.
Naturalmente, isso foi notado pelos visitantes, sobretudo os de países desenvolvidos, como o chanceler alemão Friedrich Merz, que comentou que seus jornalistas ficaram aliviados em retornar ao país de origem.
A ofensa coletiva soa hipócrita, ou no mínimo curiosa, quando a vasta maioria dos brasileiros nunca colocou os pés na região.
Quando a primeira-dama Janja responde dizendo que a impressão do chanceler foi apenas porque “não tomou tacacá”, “não viu carimbó”, “não experimentou a aparelhagem”, ela esquece, ou tenta omitir, que tampouco o fizeram os brasileiros.
A própria Janja afirmou na mesma declaração que ela também ainda não fez nada disso durante a COP.
O ditado de que o brasileiro não conhece a Amazônia é verdadeiro. Fingir o contrário é patriotismo performático.
Os brasileiros não podem se sentir pessoalmente atacados quando um estrangeiro comenta algo óbvio: falta infraestrutura.
Sem energia, sem logística e sem estrutura, ninguém quer, ou consegue, permanecer no meio da floresta.
Colocar um megaevento ali, exigindo obras e deslocamentos enormes, apenas evidencia a contradição.
O intuito do chanceler, ao afirmar que a Alemanha é um dos países mais bonitos do mundo no Congresso Alemão do Comércio, era exaltar a pujança econômica do próprio país.
A Alemanha só é desenvolvida e bonita porque fez uso dos seus recursos naturais a seu favor, e porque transformou essa exploração em riqueza e infraestrutura.
Não é possível falar em desenvolvimento sem a exploração dos próprios recursos. É isso, aliás, que a Amazônia merece: desenvolvimento, e não isolamento.
A fala do chanceler deveria ter apenas desnudado a hipocrisia óbvia: só existe desenvolvimento quando há exploração dos próprios recursos naturais.
A Amazônia não é museu e é muito cômodo pedir que permaneça intocada, enquanto se vive no conforto de um país desenvolvido após séculos de exploração doméstica.
Os europeus não querem cortar a Amazônia, mas também não querem admitir que nada ali se sustenta sem uma economia pujante.
Uma cobrança externa por preservação ambiental absoluta, às custas do subdesenvolvimento de quem vive na floresta, é supérflua.
Em tese, a COP e países como a Alemanha deveriam endereçar justamente o desenvolvimento da região e de suas populações.
Izabela Patriota é diretora de relações internacionais do Lola Brasil e colaboradora no programa Young Voices
Instagram: @patriota_iza
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