Dia da Derrota
Viagem de Lula, Janja e Celso Amorim a Moscou escancara o lado do Brasil na invasão da Ucrânia

A viagem de Lula a Moscou para celebrar o Dia da Vitória com o ditador Vladimir Putin na sexta, 9, marca a primeira vez em um presidente brasileiro vai a um país enquanto suas Forças Armadas seguem com a invasão de outra nação, em uma clara violação da Carta da ONU.
Acompanhado da primeira-dama Janja e do assessor especial Celso Amorim, Lula dará um sinal claro de apoio a uma ditadura que comete crimes de guerra e crimes contra a humanidade em um conflito sem justificativa plausível e que já matou 12,3 mil civis, incluindo 650 crianças, segundo a ONU.
Na Rússia, as autoridades brasileiras ainda ajudarão a reforçar o revisionismo histórico de Putin, que apresenta o seu país como o grande adversário do nazismo — seja ele alemão ou ucraniano.
Não há outro registro na história recente em que o governo brasileiro tenha tomado um lado tão claro — e contra os valores nacionais e humanistas — no meio de um conflito bélico.
Sanções internacionais
Americanos e europeus decretaram sanções econômicas contra a Rússia após a invasão da península da Crimeia, em 2014, e no leste da Ucrânia, em 2022, na tentativa de enfraquecer sua máquina de guerra e punir a invasão do território de um país europeu, algo que não ocorria desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
A intenção inicial de Putin era invadir, em fevereiro de 2022, era conquistar toca a Ucrânia, enviando uma coluna de tanques para a sua capital Kiev.
Sem alcançar seu objetivo, Putin passou a disparar mísseis hipersônicos, balísticos e drones contra centrais termoelétricas, usinas nucleares, fábricas, hospitais e prédios residenciais quase que diariamente.
O mês de abril foi o mais letal desde setembro de 2024. De acordo com a Missão de Monitoramento de Direitos Humanos da ONU, os russos mataram 209 ucranianos e feriram 1.146 civis no mês passado.
Dezenove crianças morreram e 78 ficaram feridas nos ataques aéreos, o maior número desde junho de 2022.
“Quase metade das vítimas civis foram causadas por ataques com mísseis e munições aleatórias. Em muitos casos, armas explosivas potentes foram usadas em áreas urbanas, incluindo Kryvyi Rih, Sumy, Dnipro, Zaporizhzhia, Kiev e Kharkiv. Em alguns desses ataques, as Forças Armadas russas empregaram, com maior intensidade, mísseis com ogivas de fragmentação que detonavam acima do solo, espalhando fragmentos por grandes áreas abertas, matando e ferindo muitos civis de uma só vez”, diz o relatório da ONU.
Sinalização errada
Há uma razão evidente para países do Ocidente terem isolado Putin, mas Lula quer ir na direção contrária e se aproximar do tirano.
“Esta é uma viagem altamente inoportuna e inconveniente pois só pode ser interpretada como apoio tácito a um ditador e regime responsável pela mais grave violação dos princípios da Carta da ONU e do Direito Internacional devido à agressão contra a Ucrânia, reintroduzindo a guerra em larga escala no continente europeu 80 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial”, afirma o embaixador Rubens Ricupero.
A viagem ainda contrasta com a posição oficial que o Brasil tem mantido nas votações na ONU.
“Essa viagem vai ser percebida por muitos como uma manifestação de apoio à Rússia, quando na realidade a posição do governo brasileiro foi ser contra a invasão e ocupação do território ucraniano por desrespeitar a Carta das Nações Unidas. Teve até um pronunciamento do Itamaraty no Conselho de Segurança da ONU sobre isso”, diz o embaixador Rubens Barbosa.
Estratégia de Putin
O ditador — que tem contra si um mandado de prisão expedido pelo Tribunal Penal Internacional por sequestro de crianças ucranianas — está usando este Dia da Vitória de várias maneiras.
A principal delas é mostrar para a população russa e para o resto do mundo que ele não está isolado do mundo, que conta com o apoio do “Sul Global” e que seu país não foi afetado pelas sanções econômicas.
Para tanto, Putin receberá diversos ditadores que apoiam a sua guerra na Ucrânia ou nunca o condenaram, como o chinês Xi Jinping, o cubano Miguel Díaz-Canel, o venezuelano Nicolás Maduro, o bielorrusso Alexander Lukashenko e o azeri Ilham Aliyev.
Lula, por presidir uma democracia, será usado por Putin para sustentar que seu círculo de amizades vai além do grupelho dos ditadores.
“Putin quer usar a visita do presidente brasileiro Lula e de outros líderes mundiais para seus próprios propósitos — como um trunfo diplomático”, diz a ucraniana Iryna Zemlyana, especialista em mídia no Instituto de Informação de Massa.
“Putin também interpreta esta visita como uma confirmação da legitimidade de seu poder, apesar das sanções e críticas ocidentais”, diz Iryna
Blogueirinha
Além da mera presença de Lula, Putin ganhou de brinde a chegada de um grupo de brasileiros desinformados, prontos para serem manipulados e dispostos a repetir as narrativas inventadas pelos russos.
A primeira-dama Janja chegou à Rússia seis dias antes de Lula.
Sua primeira visita foi ao Kremlin, a sede do Executivo. Ao sair de lá, ela publicou no Instagram: "Durante a visita, pude perceber o orgulho com que o povo russo se prepara para as comemorações do 80º aniversário do Dia da Vitória", escreveu.
"Em tempos tão difíceis como os que vivemos hoje, com conflitos se espalhando e se intensificando, e a retomada de forças extremistas, é necessário e importante preservarmos a memória, aprendermos com a história e, juntos, construirmos um futuro de paz e fraternidade para os povos", escreveu a primeira-dama.
Janja também falou em "explorar ainda mais as potencialidades" entre Brasil e Rússia na área de educação fundamental.
Não é digno insinuar que a Rússia hoje está em guerra contra forças extremistas — mas essa é a linha atual do Kremlin, repetida por Janja.
Putin quer convencer a todos que a União Soviética lutou e venceu o nazismo (o Dia da Vitória marca esse evento), assim como a Rússia luta contra fascistas, nazistas e “forças extremistas” na Ucrânia atualmente.
Correção histórica
A União Soviética foi aliada do nazismo até o momento em que Adolf Hitler, em um erro estratégico, decidiu invadir o país, em junho de 1941.
Antes, em 26 de agosto de 1939, nazistas e soviéticos assinaram o Pacto Molotov-Ribbentrop, de não agressão.
Em um protocolo secreto, anexo ao pacto, os dois países totalitários dividiram a Polônia em duas áreas de influência. No mês seguinte, os nazistas invadiram a Polônia.
"Durante dois anos, de setembro de 1939 a junho de 1941, a União Soviética forneceu à Alemanha nazista alimentos, minerais, combustíveis e equipamentos, os quais foram usados por Hitler para subjugar as democracias da Europa ocidental, em novas guerras de agressão devastadoras. A União Soviética já abastecia amplamente a Alemanha da República de Weimar desde os anos 1920, dois países à margem dos sistemas de segurança da Liga das Nações, e continuou o fazendo sob a Alemanha dominada por Hitler, mesmo quando a doutrina oficial da nação comunista era a luta antifascista", escreveu o diplomata Paulo Roberto de Almeida, em seu blog Diplomatizzando.
"A cooperação mútua, bem mais proveitosa à Alemanha nazista do que à URSS, teria continuado, se Hitler não tivesse traído o pacto de não agressão e lançasse a Operação Barbarossa, em junho de 1941", escreveu Almeida.
Mariupol, banheiros neutros e Talibã
Na quarta, 7, Janja se encontrou com o governador de São Petesrburgo, Alexander Beglov, um nacionalista pró-invasão da Ucrânia do partido Rússia Unida, que apoia o ditador.
"São Petesburgo é conhecida como a capital cultural da Rússia e, durante o encontro, conversamos sobre as similaridades entre nossos países e suas culturas tão pulsantes", escreveu a primeira-dama.
Beglov já fez seguidas declarações públicas em apoio à invasão russa da Ucrânia.
Após a destruição completa da cidade ucraniana de Mariupol, que incluiu um ataque aéreo a um teatro que matou entre 300 e 600 pessoas, Beglov foi até Mariupol e nomeou a cidade como "irmã" de São Petersburgo.
Em meio a devastação, ele inaugurou uma estátua de Alexander Nevski, um príncipe medieval que lutou contra invasores alemães e suecos.
"Alexander Nevski lutou contra os mesmos inimigos que enfrentamos hoje, aqueles que tentam impor sua vontade à Rússia. Estamos aqui para ajudar Mariupol a se recuperar e construir um futuro sob a proteção da Rússia", afirmou Beglov.
Depois da conquista, Beglov renomeou todas as escolas da cidade.
Ele também levou crianças de Mariupol para eventos em São Petersburgo, como a celebração das Velas Escarlates, onde elas usaram camisetas com slogans pró-Rússia.
Entre os outros passatempos de Beglov estão a crítica aos banheiros neutros em escolas ucranianas na região ocupada e conversas diretas com o grupo terrorista Talibã, do Afeganistão.
"Louvado seja o Todo-Poderoso por vocês estarem aqui", disse Beglov no ano passado, durante um encontro com os misóginos do Talibã.
Não intervenção e defesa da paz
Não há ganhos comerciais que possam ser colhidos nessa viagem.
O Brasil já importa fertilizantes e diesel da Rússia, independentemente de visitas oficiais.
Mas o efeito ainda pode ser o contrário, uma vez que a viagem tende a dificultar a assinatura de um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia.
Os europeus entendem a Rússia como uma ameaça existencial e querem a máxima distância possível de Putin, que pode invadir outros países.
Mas, entre apoiar um ditador amigo e cuidar para que um acordo de livre comércio seja assinado, Lula não tem dúvidas em seguir a primeira opção.
Tampouco se deveria pensar em parcerias culturais e educacionais com um regime que sequestra crianças ucranianas e distorce deliberadamente o passado para fins de propaganda.
Por fim, a aventura de Lula ainda vai na contramão da Constituição brasileira, que no artigo 4º defende a não intervenção, defende a paz e a autodeterminação dos povos.
“É sinal de uma visão ideológica anacrônica do sistema internacional própria da esquerda envelhecida e desatualizada. Isso compromete a isenção que a política exterior brasileira deveria manter”, diz o embaixador Rubens Ricupero.
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Comentários (10)
Reca
2025-05-12 21:21:41Esse e o OUTRO desgovernos são a vergonha em nível alto. Gente asquerosa. Não me representam...
Olinha
2025-05-12 09:05:54O Brasil da segunda fila reprentado pelo duende anacrônico que vai abraçar um a$$assino em prisão domiciliar. Por certo, uma aberracão.
Marcelo Tolaine Paffetti
2025-05-10 15:08:13Lula é uma aberração e o contrário dele, que de fato não é, é outra aberração, o Bozo. Se este fosse o presidente atual estaria trocando beijinhos com Putin tbm. Este país precisa fechar pra balanço.
Albino
2025-05-10 07:59:14Que sujeitinho mais covarde esse Lula...!
Andre Luis Dos Santos
2025-05-09 21:28:11Vergonha. O pior é que há 30% de eleitores canallhas que vão votar nesse escroto ou em algum poste dele em 2026. Fim do mundo.
Joaquim Arino Durán
2025-05-09 17:31:25Vergonha histórica.
ISABELLE ALÉSSIO
2025-05-09 13:01:27Excelente matéria , Duda! Obrigada pela aula! 🤗
MARCEL SILVIO HIRSCH
2025-05-09 12:55:38Um filme de terror. Falta Fredd Kruguer abraçando todos.
CARLOS HENRIQUE SCHNEIDER
2025-05-09 10:34:52Artigo para expor em praça pública. Histórico!
CARLOS HENRIQUE SCHNEIDER
2025-05-09 10:33:38Governo horroroso este brasileiro. Imagino que Lula tem perfeita noção do legado perverso que deixará ao seu sucessor, econômico, social e institucional, porque sabe que o tempo dele acabou. Quer deixar uma imagem de bom presidente (os outros serão piores), de esquerdista revolucionario e amigo dos pobres, nadamais afastado da realidade. Só gente trouxa para acreditar nisso! #forabolsopetismo